In My Time: A Personal and Polical Memoir (Na Minha Época: Uma Memória Pessoal e Política, em tradução livre), será publicado na semana que vem e há tempo vem sendo aguardado com bastante interesse -- e nele o homem considerado como arquiconservador nos circulos mais íntimos de Bush não desaponta. "Haverá cabeças explodindo por todos os lados em Washington", disse Cheney à NBC em uma entrevista, trechos da qual foram divulgados na quinta-feira. Desta vez, o exagero pode não estar fora da realidade.
Na maior parte do livro, confirma-se a percepção pública de Cheney enquanto ele esteve no cargo de 2001 a 2009: um dos mais influentes vice-presidentes da história dos EUA, reservado e enigmático, cujos pontos de vista já conservadores foram apenas endurecidos e reforçados pelo trauma de 11 de setembro de 2001. Mas, o episódio sírio confirma também a evidência generalizada de que sua influência diminuiu no segundo mandato de Bush, quando o governo adotou uma abordagem mais multilateral para temas globais e pelos problemas criados e deixados pela invasão do Iraque em 2003, da qual Cheney talvez tenha sido o mais fervoroso defensor no governo, se tornaram praticamente impossíveis de se lidar.
"Novamente, apresento argumentos a favor de uma ação militar dos EUA contra o reator", escreve Cheney sobre uma uma reunião na Casa Branca em junho de 2007 sobre o assunto. "Mas, fui uma voz solitária. Quando terminei, o presidente perguntou 'Alguém aqui concorda com o vice-presidente?'. Nem uma única mão se levantou na sala. O que aconteceu foi que, três meses depois, o local foi destruido por caças israelenses. No livro, trechos do qual vazaram e foram publicados pelo The New York Times na quinta-feira, Cheney não esconde seus desentendimentos com Bush. Ele também confirma que, sabedor de sua impopularidade, ele apresentou sua renúncia diversas vezes antes da eleição de 2004. Mas Bush recusou todas elas.
Na entrevista à NBC, Cheney contesta que sua franqueza vá aborrecer o ex-presidente -- em particular pela verossimilhança que possa dar às alegações de que pelo menos no primeiro mandato de Bush era ele Cheney, e não seu chefe, que estava em posição de tomar as decisões importantes. "Nào tive a intenção de criar ou não criar dificuldades para o presidente", insistiu Cheney. "Há muitos trechos [do livro] em que digo coisas excelentes de George Bush. E acredito em cada uma dessas palavras".
Entretanto, o mesmo não se pode dizer de suas observações sobre Condoleeza Rice e o general Colin Powell. A primeira, ele critica ferozmente por sua ingenuidade ao lidar com a Coreia do Norte. De fato, em um capítulo intitulado "Setback" (revés, contratempo) Cheney é contundente com relação ao Departamento de Estado e à orientação "totalmente equivocada e desorientadora" por ele dada a alguns assuntos de política externa, principalmente no segundo mandato de Bush. Mas, as farpas mais violentas foram reservadas para Colin Powell, cujo Departamento de Estado estava geralmente em guerra não declarada com o Pentágono de Ronald Rumsfeld e o gabinete do vice-presidente, durante o período que culminou com a guerra do Iraque.
Na opinião de Cheney, o maior pecado de Powell era a deslealdade -- Cheney escreveu que "era como se ele pensasse que a maneira mais adequada de expressar suas opiniões fosse criticando a política do governo para pessoas que estavam fora dele". O lvro registra secamente que a renúncia forçada de Powell em dezembro de 2004 "foi para ajudar".
Desde que deixou o cargo, Cheney tem aparecido inesperadamente de maneira intermitente, principalmente no circuito falante da direita e geralmente com críticas mordazes contra o presidente Obama. Seu longo histórico de problemas cardíacos também não cessou. No livro, Cheney revela que escreveu uma carta derenúncia datada de 28 de março de 2001, instruindo um assessor a entregá-la a Bush caso ele [Cheney] ficasse alguma vez incapacitado por um derrame ou um ataque cardíaco.
Dick Cheney observa, enquanto Bush faz um discurso (Foto: Getty Images).
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