Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto começaram a testar uma combinação de células-tronco extraídas da medula óssea com três quimioterápicos para tratamento de pacientes com diabete tipo 1. O trabalho está sendo realizado em parceria com cientistas da
Universidade Northwestern, em Illinois (EUA), e deve atender 30
pacientes - 10 no Brasil, 10 nos Estados Unidos e 10 no Hospital
Saint-Louis, em Paris, na França. O protocolo da pesquisa permite a participação de voluntários a partir
de 12 anos, que tenham apresentado os primeiros sintomas da doença há no
máximo três meses.
A diabete tipo 1 é uma doença autoimune, caracterizada pela destruição
das células produtoras de insulina, o que afeta a capacidade de
metabolizar o açúcar. Essa forma da doença é mais comum em crianças e
adolescentes. Se não for controlada, a doença pode afetar os rins, os
olhos, a circulação e o coração.
No tratamento, células-tronco da medula óssea são extraídas por meio de
uma máquina capaz de separar os componentes do sangue e congeladas. Em
seguida, o paciente passa por um tratamento com altas doses de
quimioterápicos, para reduzir seu sistema imunológico. As células-tronco
são então reinjetadas, como numa transfusão de sangue. Elas entram na
corrente sanguínea e se encaminham para a medula óssea. "A ideia é que, após o procedimento, o sistema imunológico do paciente
se altere e ele não ataque mais o pâncreas", explica Júlio Voltarelli,
coordenador da Divisão de Imunologia Clínica e da Unidade de Transplante
de Medula Óssea do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. "A gente ainda não fala em cura da diabete, mas em remissão, em uma
melhora da doença. E estamos tentando fazer isso pela neutralização do
sistema imunológico", explica.
Por reduzir temporariamente as defesas do organismo, o tratamento deixa o
paciente mais sujeito a infecções, por exemplo. "Acreditamos que esse
efeito colateral não é tão grave. Os pacientes ficam vulneráveis a
infecções por um tempo curto, pouco mais de uma semana", diz o médico. "O diabete, principalmente em crianças, é terrível. Ela cresce
dependente de insulina e ao final poderá ter complicações cardíacas,
neurológicas, vasculares e impotência."
A equipe de Voltarelli realizou outra pesquisa para tratar diabete tipo 1
há oito anos. O método também utilizou uma associação de células-tronco
com quimioterápicos. Dos 25 pacientes que foram submetidos ao tratamento, nenhum teve
complicações sérias - 2 tiveram algum tipo de infecção, que foi tratada
sem maiores complicações. Todos deixaram temporariamente de usar insulina, mas a maioria
precisou retomar as injeções do hormônio. Passados oito anos, apenas
seis continuam sem aplicar as injeções. "Estamos mudando o esquema de tratamento para tentar reduzir o número de
pacientes que volta a usar insulina", afirmou Voltarelli. A diferença
na pesquisa atual é a mudança nos medicamentos usados.
Atualmente, vários centros de pesquisa no mundo estudam uma forma de
tratar o diabete tipo 1 utilizando células-tronco. Há também pesquisas
sendo feitas em Harvard e na Universidade Stanford, ambas nos Estados
Unidos.
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