sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Migração cria "cidades das mulheres" na Armênia

A pobreza e o desemprego estão forçando muitas pessoas a deixarem áreas rurais da ex-União Soviética em busca de trabalho em zonas urbanas. Na Armênia, a emigração é predominantemente de homens, que ao abandonarem o país rumo à Rússia, acabam deixando alguns vilarejos quase que totalmente povoados por mulheres.

No vilarejo armênio de Dzoragyugh, frequentemente só mulheres e crianças são vistas trabalhando nos campos.  Isto ocorre porque ir para a Rússia é a única maneira para os homens ganharem dinheiro suficiente para sustentar as suas famílias. Uma das mulheres deixadas para trás é Milena Kazaryan, de 20 e poucos anos e mãe de dois filhos. Enquanto lavra a terra nos fundos de sua casa, ela diz que seu marido está trabalhando em Moscou, assim como seu pai, seu avô e todos os seus irmãos. Na verdade, todos os homens de sua família deixaram a localidade.

Milena sorri muito, mas explica o que preocupa a ela e a suas amigas: que seus maridos formem "segundas famílias" na Rússia. Isto é algo que ocorre muito, ela diz. "Todas as mulheres estão com medo de verdade. Nós telefonamos toda manhã e toda noite, para descobrir o que os nossos maridos estão fazendo", afirma. "É quase sempre estressante ficar pensando se ele vai voltar ou não. Muitas mulheres aqui se preocupam porque acham que na Rússia todas as garotas são bonitas, e o problema é que os homens trabalham muito duro, então é claro que eles querem relaxar. É por isso que elas estão assustadas."

Quando se anda nos vilarejos da região, mulheres são vistas tocando gado, indo para os campos com ferramentas em suas mãos ou carregando fardos de feno nas costas. Mas o peso também é psicológico, diz Ilona Ter-Minasyan, chefe da Organização Internacional para a Migração (IOM, sigla em inglês) na capital da Armênia, Yerevan. As mulheres agora também precisam tomar todas as decisões, um ponto de conflito em uma sociedade rural e patriarcal. "Eventualmente isso leva à troca de papeis entre gêneros, porque, enquanto o homem fica fora por oito ou nove meses, a mulher fica como chefe do lar", diz.

Ter-Minasyan também levanta outras questões fatais. "A Armênia tem uma população muito pequena de pessoas com HIV, mas pesquisas recentes indicam que, frequentemente, grandes percentagens dessas pessoas são migrantes que vão à Federação Russa, tornam-se soropositivas, voltam e então transferem o vírus para suas mulheres. Este é o pior cenário de todos."

Grupos de defesa dos direitos humanos acusam o governo de não fazer o suficiente para conter o problema da emigração. Mas Gagik Yeganyan, chefe do departamento armênio para a migração, afirma que a única solução é aumentar a oferta de empregos, em vez de criar algum programa específico. E isto é algo que não só o governo, mas toda a sociedade, inclusive a mídia, deve se esforçar para fazer, diz ele. Oficialmente, o desemprego está em torno de 7%, mas a IOM diz que os benefícios são tão baixos que muitas pessoas não se registram como desempregadas. Assim, os números verdadeiros são estimados em torno de 30%. De acordo com grupos de direitos humanos e partidos de oposição, isto significa que todo ano quase 100 mil pessoas deixam o país - em sua maioria, homens, que vão à vizinha Rússia para trabalhar na construção civil.

O governo nega que os números sejam tão altos, mas existe uma concordância geral de que em torno de 1 milhão de armênios estão vivendo na Rússia, deixando apenas 3 milhões no país.
Atrás de trabalho, armênios vão à Rússia e deixam as mulheres tomando conta de vilarejos (Foto: BBC).
Mulheres da Armênia temem que maridos tenham outras famílias na Rússia (Foto: BBC).


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