O Brasil vem se transformando, às vezes p'ra melhor, outras vezes -- mais do que o suportável -- p'ra pior. Já fomos "apenas" o país em que todo mundo entende e é técnico de futebol. Agora, o país começa a ficar dividido entre os "ecochatos" e os doutores em meio ambiente e poluição ambiental -- a mais recente surfista dessa onda é a Polícia Federal (PF), que nesta semana resolveu demonstrar uma insuspeita e, até então, recôndita competência em poluição ambiental. Antes de chegar ao show inesperado da PF, vamos recapitular os fatos.
Em novembro passado, a petroleira americana Chevron assumiu inteira responsabilidade pelo vazamento de óleo em suas atividades de perfuração na Bacia de Campos. Em dezembro de 2011, a ANP - Agência Nacional do Petróleo aplicou uma terceira multa à Chevron por conta desse vazamento e da poluição por ele gerada, e em março de 2012, após um novo vazamento, a própria Chevron pediu a suspensão de suas atividades no país.
Pois bem, depois desse imbróglio todo, eis que de repente, não mais que de repente, surge nossa Polícia Federal que, através de seu Instituto de Criminalística, contraria e surpreende até a própria Chevron e afirma categoricamente que "o vazamento de petróleo da Chevron ocorrido em novembro do ano passado
no campo de Frade, na Bacia de Campos, não matou nem afetou a saúde da vida marinha". [Ou seja, para esse Instituto e para a PF qualquer coisa menor que 5 cm não existe, é ficção científica, microorganismos então, nem pensar ou falar ...]
O laudo, de 26 de abril, concluiu que hão há registro sobre a ocorrência
de espécime de ave marinha morta ou com condição de saúde desfavorável,
decorrente do vazamento de petróleo. Procurada pela reportagem, a
Polícia Federal não quis comentar. O delegado Fábio Scliar, responsável
pelo inquérito, está impedido de falar sobre o caso.
O
procurador do Ministério Público Federal de Campos Eduardo Santos
Oliveira disse desconhecer o laudo, mas destacou que o documento não
invalida outros laudos de órgãos ambientais, que confirmam danos:
—
É uma farsa. É um laudo inconclusivo. Dano ambiental não precisa ter
peixe morto. Não ter sinal de homicídio não quer dizer que não haja
crime.
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