O regime presidencialista é um sistema político muito propenso a distorções e aberrações, em função do jogo de forças entre o presidente e as instituições e ministros de Estado. A hipótese mais desfavorável, a meu ver, é a de um presidente forte e instituições e ministros fracos, e a pior hipótese ocorre quando o presidente é forte e demagogo, ou se impõe por características nem sempre respeitáveis ou aceitáveis democraticamente.
Estamos completando quase uma década na pior hipótese, depois de oito anos sob o governo de um presidente demagogo e mentiroso, e um ano e meio de uma presidente autoritária e avessa ao diálogo, que tem na bílis seu tempero favorito. Ambos os governos carregam não só o símbolo mas todos os vícios, malandragens e baixarias do PT -- defeitos esses que tanto Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata (NPA), como a ex-guerrilheira não só burilaram, como expandiram. Ambos os governos se caracterizam ainda por ministros inexpressivos e subservientes (vários deles corruptos), e instituições fracas, ineficientes e acovardadas por si mesmas ou por pressão presidencial. Some-se a isso um Congresso que não se dá ao respeito, e tem-se a receita acabada da grossa parte de nossas mazelas.
Uma área que explicita de imediato os defeitos e problemas de um presidencialismo de baixa qualidade é a da política externa. Nesses quase dez anos de governo petista passamos a ter não mais uma política externa de Estado, mas uma política externa presidencialista e partidária. O NPA criou uma excrescência chamada Assessoria da Presidência para Assuntos Internacionais, ou algo parecido, e ali colocou uma aberração chamada Marco Aurélio Garcia que, apesar de sua baixa qualificação para o métier, funciona na prática como nosso chanceler n° 2, o que coloca o Brasil na ridícula posição de ser o único país do mundo a ter dois chanceleres -- detalhe: Dª Dilma manteve essa inutilidade. Nossa política externa passou a obedecer a três cabeças: dois chanceleres de plantão e um(a) presidente sem autocontrole -- com essa troika, a chance de dar lambança é gigantesca.
No governo do NPA pagamos e sofremos vários vexames: fizemos carinhos e afagos em figuras como Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad, viramos (como nunca) saco de pancadas e alvo de chantagens da Bolívia, do Equador, do Paraguai e da Argentina, para só citar os principais. Deixamos um asilado político transformar em palanque nossa embaixada em Tegucigalpa, e nos arvoramos -- sem histórico e compostura para isso -- de críticos mal comportados de outros países na crise de 2008, com tiradas bizarras e ridículas tais como "a crise não é um tsunami e sim uma marola", "os culpados pela crise são os capitalistas de olhos azuis", e outras sandices do gênero.
Já Dª Dilma, nossa dama que começou como "de ferro" e caminha celeremente para um metal bem menos nobre, dominou também nossa política externa com a candura e a delicadeza que são suas marcas registradas, mantendo nosso chanceler n° 1 (o Patriota) permanentemente acuado. Ela deve ter quase matado o NPA de inveja, ao liderar o movimento que, às custas de uma jogada de baixíssimo nível, conseguiu botar a Venezuela dentro do Mercosul usando o Paraguai como massa de manobra e boi de piranha. Vai ser extremamente difícil e quase impossível tirar de nossa ex-guerrilheira o Oscar de codelinquente do Mercosul -- compartilhado com a Argentina -- por conta desse (mal)feito.
Para mais detalhes da atuação de Dª Dilma em nossa política externa, e sua relação complicada com o Itamaraty (também), sugiro a leitura do artigo "Bronca de Dilma é com estilo Itamaraty", de Sergio Leo, publicado no jornal Valor Econômico de ontem.
Amigo VASCO:
ResponderExcluirA nossa "POLITICA EXTERNA' tem tudo a ver com a forma PETISTA de (des)governar.
Interferências em países (Paraguai), tolerância com ditadores (Siria, Irâ), subserviência com Venezuela, etc.
O pior é que, como cidadãos brasileiros, não podemos fazer NADA!!!
Nessa PANELA, só eles metem a mão.
Levanto a hipótese de que tal se dá, na esperança de que recebamos (eles) tratamento igual se aqui quisermos destituir um regime dito "legal", pois eleito sabe-se lá como, onde os "eleitos" hoje roubam descaradamente, e a JUSTIÇA(?) não consegue impugná-los em seus mandatos.
O episódio DEMÓSTENES TORRES é um excelente exemplo dessa impunidade.
RUI BARBOSA deve estar tremendo em seu túmulo.
Abraços - LEVY
Prezados Vasco e Levy,
ResponderExcluirMuito bem feita essa sinopse da política externa brasileira. Aliás, se ela surpreende ou apavora, pelo menos não destoa da interna, confundindo-se com o termo "mensalão", que se arrasta por uma década. Sombria dupla essa, do NPA com a "dama DO Ferro". Quem sonhou com "Alice No País Brasil", pode começar a reconsiderar. Bom dia! (será?).