Peritos independentes contratados pela Justiça da França indicaram em
relatório ao Ministério Público de Paris que pelo menos três fatores foram decisivos para a queda do voo AF-447, Rio-Paris, no Atlântico, em 30 de maio de 2009: falhas técnicas, deficiência de treinamento e erros
de pilotagem. [Ver postagem anterior sobre o acidente.]
As conclusões, reveladas por um sindicato de pilotos da França, lançam
dúvidas sobre as companhias envolvidas e sobre agências de aviação civil
da Europa, e devem nortear o processo judicial, no qual Air France e
Airbus respondem por homicídio culposo, não intencional. Hoje, uma
segunda perícia será conhecida: o relatório do Escritório de
Investigação e Análises para a Aviação Civil (BEA).
Mil e cem dias foram necessários para que a opinião púbica conhecesse,
enfim, as causas do acidente com o Airbus A330. O documento indica que o
piloto Marc Dubois, 58 anos, e seus copilotos, David Robert, 37 anos, e
Pierre-Cedric Bonin, 32, teriam tomado decisões erradas durante os
quatro minutos de queda, mas essas ações teriam sido causadas por falhas
mecânicas e eletrônicas no avião e por falta de treinamento apropriado.
O papel das autoridades de aviação civil da França e da Europa também
será questionado.
O relatório dos peritos contratados pela Justiça foi entregue na
segunda-feira, 2, aos advogados das famílias de vítimas, mas não podia
ser revelado antes de ser encaminhado aos parentes. Ontem à noite, o
Sindicato Nacional de Pilotos de Linha (SNPL France Alpa) divulgou uma
nota oficial em que comenta as conclusões. "O relatório judiciário questiona a concepção do avião, os
procedimentos utilizados pelo A330 no momento do acidente, a formação da
tripulação por sua companhia, a atuação imperfeita da tripulação, assim
como falhas gritantes no acompanhamento pelas autoridades dos múltiplos
incidentes similares que precederam o acidente", diz em nota o
presidente do SNPL, Yves Deshayes.
Entre os órgãos questionados, estão a Direção-geral de Aviação Civil
(DGAC) da França e a Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA), que
teriam menosprezado a importância das falhas apresentadas pelos tubos de
pitot, os sensores de velocidade, que congelaram durante o voo. No caso dos aviões fabricados pela Airbus, esses equipamentos orientam
todos os instrumentos eletrônicos de navegação, que auxiliam os pilotos.
Os sensores fabricados pela companhia francesa Thales e que equipavam
os aviões Airbus da Air France apresentaram falhas similares mais de uma
dezena de vezes antes da queda do voo Rio-Paris, que matou 228
passageiros e tripulantes, entre os quais 58 brasileiros. [Ver postagem anterior sobre projeto nessa área por cientista brasileiro, que perdeu sua única filha nesse voo da Air France.]
Essa "falha de acompanhamento" dos incidentes é denunciada como
inadmissível pelo sindicato. "A SNPL France Alpa se indigna de ver que a
EASA, o organismo responsável pela certificação das sondas pitot, se
recusa a colaborar com a juíza de instrução e com os experts da
investigação", protesta a união de pilotos.
O 'Estado' tentou contatar a EASA na noite da última terça-feira, mas
não obteve retorno. A juíza de instrução do caso, Sylvia Zimermman, não
fala a respeito do caso. Nem a Airbus, nem Air France fazem comentários
sobre os relatórios antes de sua divulgação oficial. O documento
entregue à Justiça só será apresentado às famílias de vítimas em 10 de
julho.
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