quinta-feira, 19 de julho de 2012

China e Rússia vetam resolução da ONU contra Síria

[Cada vez mais o Conselho de Segurança da ONU se configura como uma aberração sob qualquer ótica -- é inconcebível que, nos tempos atuais, uma estrutura de poder e decisão formulada há quase sete décadas continue decidindo o destino do mundo, na paz e na guerra, com base única e exclusivamente nos interesses (confessáveis e inconfessáveis) de apenas cinco países! Essa excrescência se revela, mais uma vez, em sua verdadeira dimensão absurda no caso da Síria, como se vê pela reportagem abaixo, datada de hoje, que traduzi do The Washington Post. É interessante notar que os seis países que mais exportaram armas entre 1993 e 1997 foram os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, mais a Alemanha.]

Rússia e China vetaram hoje uma proposta de resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU que ameaçava o governo da Síria com sanções, após quatro meses de diplomacia [inútil] que objetivava interromper uma crise que já deixou mais de 14.000 mortos. A votação ocorreu um dia depois que rebeldes antigovernistas explodiram o local em que se realizava uma reunião de altas autoridades de segurança do governo sírio, matando três delas (todas militares) estreitamente relacionadas com o presidente Bashar al-Assad. Enquanto o CS se reunia, continuava o bombardeio de forças governamentais nos arredores e -- dizem os rebeldes -- em bairros de de Damasco.

A votação e o crescente derramamento de sangue na capital síria foram sinais claros de que permanece inalcançável uma solução política para o conflito. Países ocidentais e árabes -- profundamente preocupados com os estoques de armas químicas e outros fatores na Síria -- pressionaram fortemente por um plano trabalhado pelo enviado especial da ONU, Kofi Annan, segundo o qual Assad deixaria o governo e o país passaria por uma transição pacífica.

Onze dos quinze países do CS votaram a favor da resolução [Alemanha, Azerbaijão, Colômbia, Guatemala, Índia, Marrocos, Portugal, Togo, EUA, Reino Unido, França], e dois se abstiveram: África do Sul e Paquistão [a abstenção paquistanesa pode ser pelo menos parcialmente explicada como a explicitação de uma discordância com os EUA, mas e a da África do Sul?]. Apenas Rússia e China, aliadas de longa data de Assad, votaram contra e, como ambas têm poder de veto como membros permanentes do CS, a resolução foi derrotada.

A Rússia nunca escondeu sua oposição à proposta de Annan, com seu ministro do Exterior dizendo ontem que "Assad não sairá por conta própria, sem ajuda", e declarando que a resolução posta em votação era um "apoio direto" aos rebeldes.

Numa roda de imprensa antes da votação hoje, o chefe da missão de observação da ONU na Síria, Major General Robert Mood, estava visivelmente pessimista e sombrio: "Me é doloroso dizer, mas não estamos a caminho da paz na Síria, e a escalada das hostilidades que testemunhamos em Damasco nos últimos dias é uma prova disso".


Mapa das mortes em toda a Síria, no conflito de mais de um ano, provocadas pelas forças governistas de março/2011 a 30 de junho de 2012 


(Fonte: The Washington Post -- clique na imagem para ampliá-la)


A cidade de Homs, conhecida como a capital da revolução, foi uma das primeiras a juntar-se ao levante contra o governo sírio. Com mais de 4.500 mortos, a cidade e seus arredores têm sido das mais violentamente atingidas pela brutal repressão do governo. No dia 25 de maio, as forças governistas mataram 108 pessoas -- incluindo 49 crianças e 34 mulheres -- na área de Houla do nordeste de Homs. As forças de Assad continuam a bombardear a cidade e seus arredores.

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