Rússia e China vetaram hoje uma proposta de resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU que ameaçava o governo da Síria com sanções, após quatro meses de diplomacia [inútil] que objetivava interromper uma crise que já deixou mais de 14.000 mortos. A votação ocorreu um dia depois que rebeldes antigovernistas explodiram o local em que se realizava uma reunião de altas autoridades de segurança do governo sírio, matando três delas (todas militares) estreitamente relacionadas com o presidente Bashar al-Assad. Enquanto o CS se reunia, continuava o bombardeio de forças governamentais nos arredores e -- dizem os rebeldes -- em bairros de de Damasco.
A votação e o crescente derramamento de sangue na capital síria foram sinais claros de que permanece inalcançável uma solução política para o conflito. Países ocidentais e árabes -- profundamente preocupados com os estoques de armas químicas e outros fatores na Síria -- pressionaram fortemente por um plano trabalhado pelo enviado especial da ONU, Kofi Annan, segundo o qual Assad deixaria o governo e o país passaria por uma transição pacífica.
Onze dos quinze países do CS votaram a favor da resolução [Alemanha, Azerbaijão, Colômbia, Guatemala, Índia, Marrocos, Portugal, Togo, EUA, Reino Unido, França], e dois se abstiveram: África do Sul e Paquistão [a abstenção paquistanesa pode ser pelo menos parcialmente explicada como a explicitação de uma discordância com os EUA, mas e a da África do Sul?]. Apenas Rússia e China, aliadas de longa data de Assad, votaram contra e, como ambas têm poder de veto como membros permanentes do CS, a resolução foi derrotada.
A Rússia nunca escondeu sua oposição à proposta de Annan, com seu ministro do Exterior dizendo ontem que "Assad não sairá por conta própria, sem ajuda", e declarando que a resolução posta em votação era um "apoio direto" aos rebeldes.
Numa roda de imprensa antes da votação hoje, o chefe da missão de observação da ONU na Síria, Major General Robert Mood, estava visivelmente pessimista e sombrio: "Me é doloroso dizer, mas não estamos a caminho da paz na Síria, e a escalada das hostilidades que testemunhamos em Damasco nos últimos dias é uma prova disso".
Mapa das mortes em toda a Síria, no conflito de mais de um ano, provocadas pelas forças governistas de março/2011 a 30 de junho de 2012
A cidade de Homs, conhecida como a capital da revolução, foi uma das primeiras a juntar-se ao levante contra o governo sírio. Com mais de 4.500 mortos, a cidade e seus arredores têm sido das mais violentamente atingidas pela brutal repressão do governo. No dia 25 de maio, as forças governistas mataram 108 pessoas -- incluindo 49 crianças e 34 mulheres -- na área de Houla do nordeste de Homs. As forças de Assad continuam a bombardear a cidade e seus arredores.
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