O PIB representa a soma de todas as riquezas finais produzidas em determinada região ou parcela da sociedade (qual seja, países, estados, cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano etc.). Ele avalia a contribuição produtiva das atividades econômicas. A fórmula simples clássica para expressar o PIB de uma região é a seguinte:
Y = C + I + G + X - M
Onde
• Y é o PIB
• C é o consumo
• I é o total de investimentos realizados
• G representa gastos governamentais
• X é o volume de exportações
• M é o volume de importações
Pela equação acima podemos tirar já algumas conclusões sobre o conceito PIB: - a) o consumo pode ser, e frequente é, predatório e não economicamente sustentável a médio e longo prazo; - b) gastos governamentais nem sempre (ou via de regra, como queiram) não são produtivos e/ou sustentáveis -- vide o caso brasileiro; - c) os investimentos, idem (somos bom exemplo nisto também); - d) as exportações podem ser, e frequentemente são, oriundas de atividades predatórias que deterioram o meio ambiente e o bem-estar das pessoas.
"O PIB é simplesmente uma medida de todo o dinheiro que nós gastamos em todas as coisas que nós compramos – cada transação financeira, tudo isso acrescenta crescimento", diz Andrew Simms, da New Economics Foundation, autor de vários livros sobre o tema. E é na natureza indiscriminada do PIB que ele vê um problema.
O PIB é uma adição de bens e serviços vendidos e comprados, sem nenhuma distinção entre os que são ou não benéficos para a sociedade. Despesas com acidentes, poluição, contaminações tóxicas, criminalidade ou guerras são consideradas tão relevantes quanto investimentos em habitação, educação, saúde ou transporte público. Exemplos disso são economias oriundas da destruição, das guerras e acidentes ambientais, que movimentam bilhões de dólares e euros em custos diretos e indiretos e são contabilizadas erroneamente no verde, e não no vermelho, tais como o furação Katrina e a Guerra do Iraque, para citar exemplos mais recentes que serviram para girar a fortuna do PIB americano.
Stiglitz em 2009 repetia essas e outras críticas sobre o conceito PIB em um interessante artigo no The Guardian ("The great GDP swindle" -- "A grande falácia do PIB", em tradução livre).
No início de 2008 o governo francês, preocupado com essa distorção provocada pelo conceito e uso do PIB, criou uma "Comissão sobre a Mensuração do Desempenho Econômico e do Progresso Social", um grupo de altíssimo nível chefiado por Joseph Stiglitz, Nobel de Economia de 2001. Essa comissão gerou uma quantidade significativa de documentos extremamente importantes e valiosos, como por exemplo The Measurement of Economic Performance and Social Progress Revisited - Reflections and Overview, um texto de 79 páginas (em arquivo pdf) que contém as reflexões pessoais de Stiglitz, Amartya Sen (Nobel de 1998) e Jean-Paul Fitoussi, professor de Economia no Institut d'Études Politiques de Paris, todos membros da comissão. Com relação ao PIB, as recomendações dessa comissão foram:
- fazer referência preferencialmente à renda e ao consumo, do que à produção;
- levar em conta o patrimônio conjuntamente com a renda e o consumo;
- dar relevo à perspectiva das famílias;
- dar mais importância à repartição de renda, de consumo e de riquezas;
- estender os indicadores de renda às atividades não mercantis [que incluem a economia doméstica e a produção não comercial das administrações públicas e privadas].
Por conta disso tudo, começam a surgir sugestões de índices alternativos para substituir o PIB como parâmetro de análise, avaliação e qualificação de países. Por exemplo, a OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico], que é essencialmente uma usina de ideias (think tank) de países ricos, criou em 2011 o "Índice de Vida Melhor" ("Better-Live Index"). A revista The Economist publicou a avaliação de 36 países (entre eles o Brasil) segundo esse índice (clique na imagem para ampliá-la):
Ilustração: The Economist
É interessante observar que, por esse índice, o Brasil é o 31° dos 36 avaliados, enquanto que em termos de PIB oscilamos entre 6° e 7°.
A ONU também gerou um índice alternativo ao PIB, o "Inclusive Wealth Index" ("Índice de Inclusão Social", em tradução livre), e segundo este parâmetro a classificação seria (clique na imagem para ampliá-la):
Ilustração: The Economist
Por esse índice, somos o 14° país em PIB per capita, no período 2000-2008, com US$ 8.704 em 2008, e o 5° país em melhoria percentual de inclusão social no período 1990-2008 -- nessa avaliação estão incluídos aspectos humanos, naturais e de produção.
Ainda há muita estrada pela frente, até chegarmos a um consenso sobre como melhor analisar, avaliar e qualificar países. O importante é persistir no debate.
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