Gafes à parte, Brasil e Namíbia têm um belo histórico de cooperação e amizade, principalmente na área naval -- por força de um acordo assinado em junho de 2004, o Brasil comprometeu-se a fornecer um navio-patrulha e duas lanchas-patrulha para a Marinha namibiana, juntamente com o treinamento de suas tripulações e assistência no planejamento e desenvolvimento de uma infraestrutura apropriada à atracação e suporte logístico dessas embarcações. O navio-patrulha "Brendan Simbwaye" foi incorporado à Marinha da Namíbia em 16 de janeiro de 2009, em Fortaleza. Várias turmas de marinheiros namibianos treinaram e se formaram no Brasil.
Estive duas vezes na Namíbia em missão oficial e pude constatar a limpeza, a beleza e a organização do país, aliadas à simpatia de seu povo. A escassez de água é um problema extremamente sério para os namibianos, o que faz com que seu consumo seja caro e fortemente controlado. A água tem uma enorme importância estratégica, econômica e social também nessa região africana, e está na raiz de alguns problemas políticos implícitos e explícitos entre os países regionais. Por isso, fiquei muito feliz com a notícia que me foi trazida por um dileto amigo, Abel, da descoberta de um vasto aquífero na Namíbia, que reproduzo abaixo, traduzida de reportagem da BBC News publicada em 20 de julho corrente. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Localização geográfica da Namíbia - (Mapa: Google).
Uma fonte de água recentemente descoberta na Namíbia pode ter um impacto significativo no desenvolvimento do país mais seco da região subsaariana da África. Estimativas indicam que o aquífero poderia suprir o norte do país por 400 anos, com a taxa atual de consumo dessa região.
Cientistas dizem que a água desse reservatório tem uma idade de até 10.000 anos, mas é mais limpa para beber do que muitas fontes mais recentes. Entretanto, receia-se que perfurações não autorizadas possam ameaçar esse suprimento novo.
Fonte gigantesca
Para os habitantes do norte da Namíbia, água é algo que ou têm muito ou quase nada. As 800.000 pessoas que vivem na área [em 2011 o país tinha cerca de 2.150.000 habitantes] dependem, para sua água potável, de uma canal construído há 40 anos que traz água de Angola. Ao longo da década passada, o governo namibiano vinha tentando atacar a questão de um abastecimento sustentável em parceria com pesquisadores da Alemanha e de outros países da União Europeia. Eles localizaram agora um novo aquífero, chamado Ohangwena II, que flui sob a fronteira entre Namíbia e Angola [o que demandará uma gestão compartilhada nada simples entre os dois países, no uso e manutenção dessa fonte inestimável].
No lado namibiano da fronteira, o aquífero cobre uma área de cerca de 2.800 km² [mais ou menos 70 km x 40 km]. De acordo com o gerente do projeto, Martin Quinger, do Instituto Federal Alemão para Geociência e Fontes Naturais (BGR, em alemão), trata-se de um volume de água substancial [a reportagem não menciona a profundidade média do aquífero, mas outra fonte jornalística fala em 300 m]. "A quantidade de água armazenada atenderia durante 400 anos o abastecimento atual dessa área do norte da Namíbia, que concentra 40% da população do país".
"Nosso objetivo é ter um suprimento de água sustentável, de modo que possamos extrair a água que estiver sendo injetada no aquífero. O que podemos dizer é que a gigantesca quantidade de água armazenada será sempre suficiente para funcionar como reserva para uma região que, atualmente, é suprida apenas por água de superfície", disse Quinger.
A região depende de dois rios para seu suprimento de água, mas isso tem restringido o desenvolvimento agrícola de áreas próximas a essas fontes. Quinger disse que o novo aquífero tem um grande potencial para alterar a natureza da atividade agrícola e animal da área. "Para o atendimento rural, a água será bem adequada para irrigação e armazenamento, portanto as possibilidades que abrimos com essa fonte alternativa são bastante ponderáveis", disse ele.
Além de prover uma nova fonte para a agricultura numa região, o aquífero aumentará o suprimento atual de água potável. Quinger disse que a água existente dever ter uns 10.000 anos de idade, mas ainda é boa para beber. "Se a água passou 10.000 anos no subsolo, isso significa que foi recarregada em uma época em que a poluição ambiental ainda não era um problema, então, na média, ela pode ser bastante melhor do que a água que tiver se infiltrado em ciclos de meses ou anos".
Perfuração perigosa
A pressão natural a que a água está submetida significa que é fácil e barato extraí-la. Mas, devido ao fato de que um aquífero menor de água salgada está situado sobre esse outro aquífero bem maior, isso eleva a possibilidade de que uma perfuração não autorizada no local possa ameaçar a qualidade da água.
Quinger diz que uma perfuração aleatória no aquífero pode ser perigosa. "Se as pessoas não seguirem as nossas recomendações técnicas, poderão criar um "atalho" hidráulico entre os dois aquíferos, o que poderia levar a que a água salgada do aquífero superior contaminasse a do aquífero inferior, ou vice-versa".
Uma das maiores vantagens do novo aquífero é que poderia ajudar a população a lidar com as mudanças climáticas. Os pesquisadores avaliam que esse reservatório poderia funcionar como um "amortecedor" natural durante até 15 anos de seca.
Assim como identificar essa nova fonte de água, um objetivo básico para os pesquisadores nela envolvidos é desenvolver entre os namibianos jovens a capacidade para bem administrar as fontes de água do país antes que o dinheiro da União Europeia acabe.
[Veja também Huge water resource in Africa
Mapa da distribuição de aquíferos na África -- o abordado nesta postagem situa-se na primeira grande região em azul, de baixo para cima - (Fonte: BBC News).
Mapa político da África -- (Fonte: Google).
Que ótima notícia! Agora tem-se uma excelente oportunidade para o povo africano, tão simpático, se desenvolver e mostrar para o mundo o grande potencial que tem a África.
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