A grande maioria dos casos ficará concentrada no Japão, com poucas ocorrências previstas no restante da Ásia e na América do Norte. Para John Ten Hoeve, pesquisador do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental de Stanford, o número de casos no resto do mundo é relativamente baixo e a estimativa serve apenas para "administrar o medo em outros países de que o desastre possa ter tido um alcance mundial".
O acidente foi precipitado por um terremoto de magnitude 9.0 na escala Richter que atingiu o Japão no dia 11 de março de 2011. O tremor levou à formação de um tsunami que inundou quatro dos cinco reatores na usina de Fukushima Daichii.
Esse é o primeiro estudo sobre o desastre a usar um modelo atmosférico global em terceira dimensão para prever a maneira como o material radioativo foi transportado. Diferentemente de avaliações anteriores, essa pesquisa levou em conta o transporte das partículas radioativas pelo ar, pela água, pela chuva, além da deposição em solo. O fato de que 80% do material radioativo vazou no oceano Pacífico, e não no solo, como ocorreu no acidente de Chernobyl, levou a análises otimistas quanto aos efeitos da radiação. "Há grupos de pessoas que disseram que não haveria efeitos", disse o engenheiro Mark Jacobson, professor de Stanford e um dos autores do estudo.
Em maio, o Comitê Científico das Nações Unidas para os Efeitos da Radiação Atômica (UNSCEAR), que tem em andamento uma avaliação dos danos de Fukushima, divulgou que 167 trabalhadores, de um total de 20.115 funcionários ligados à TEPCO, operadora da usina nuclear de Fukushima, receberam doses de radiação que podem ter aumentado discretamente o risco do desenvolvimento do câncer. Já o público em geral, de acordo com o Comitê, foi amplamente protegido devida à rápida evacuação promovida pelo governo.
Para calcular os prejuízos para a saúde da exposição à radiação, o estudo de Stanford, que foi publicado na revista científica Energy & Environmental Science [comentário sobre o artigo: http://pubs.rsc.org/en/
De acordo com Jacobson, será muito difícil constatar, fora do Japão, a presença de casos de câncer relacionados ao acidente de Fukushima devido à pulverização das ocorrências. "Mas, no Japão, eu estimaria que tendências de aumento do câncer poderão ser detectáveis em 5 a 10 anos", completa o engenheiro.
De acordo com a física Kellen Adriana Curci Daros, da Comissão de Proteção Radiológica do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), os tipos mais comuns de câncer provocados em longo prazo pela exposição a altas doses de radiação atingem a tireóide e o sangue. A especialista observa que, no caso de Fukushima, os prejuízos foram minimizados pela ação rápida do governo local. "O Japão, como teve a experiência de Hiroshima, já tinha estudos relativos a esse tipo de efeito. A intervenção foi muito mais rápida do que em Chernobyl e, em pouco tempo, as áreas foram isoladas e começaram a ser monitoradas".
Manifestantes se reuniram há dois dias em Tóquio para protestar contra as usinas nucleares - Ver postagem anterior - (Foto: Yoshikazu Tsuno/Afp).
Nenhum comentário:
Postar um comentário