terça-feira, 10 de julho de 2012

Ilha dos 'cegos' gera revolta na Grécia

Uma ilha paradisíaca em que a população, ou pelo menos parte dela, é tragicamente cega. Não se trata de uma releitura do Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, nem mesmo de um trecho da mitologia grega. Essa é a situação que vivia a ilha de Zakynthos, na Grécia. Pelo menos até que os auditores descobrissem que tudo não passava de uma fraude cometida em conjunto por famílias, médicos e prefeitura para permitir que cada "cego" recebesse uma compensação extra do Estado de € 380 por mês, o mesmo valor da aposentadoria de muitos na ilha. [Vejam a postagem "A hipocrisia da Grécia".]


 Fotos da paradisíaca Zakynthos, a ilha dos 'cegos' da Grécia - (Fonte: Google).

A manobra foi uma das formas que os gregos encontraram nos últimos cinco anos para driblar a recessão que já tirou quase 20% do PIB, 25% dos salários e viu os impostos aumentarem.  A fraude escancara, na avaliação da entidade Transparência Internacional e do próprio governo, o mal-estar que vive o país e a decisão de muitos de ignorar as leis. Pelos acordos com a União Europeia e FMI, Atenas terá de reduzir de forma drástica os gastos com a saúde, que por ano chegam a € 25 bilhões. Em 2012, o governo já detectou fraudes que teriam custado aos cofres públicos € 111 milhões. Só a "ilha dos cegos" teria custado aos cofres públicos € 2 milhões nos últimos anos. 

As primeiras medidas começam a ser tomadas. Em abril, 200 mil pessoas em toda a Grécia deixaram de receber algum benefício, diante da comprovação de irregularidades. Alguns deles já estavam mortos e as famílias continuavam a receber o benefício.

O caso da ilha é tido como exemplar. Idosos, profissionais e estudantes se valeram do benefício aos cegos, um esquema que envolvia uma verdadeira indústria local. Médicos concordavam em dar atestados de cegueira, em troca de propinas por parte dos clientes. Alguns atestados não deixavam dúvidas: a vítima sofria do problema desde sua infância.  Controles existiam, mas esses também faziam parte do esquema. A prefeitura colocava seu tampão [sic] nos certificados para enviar à Atenas, sabendo que o suposto cego tinha uma visão perfeita. Resultado: o índice de cegos na ilha era nove vezes superior à média europeia. Se fosse verdade, seria socialmente um verdadeiro desastre e, cientificamente, um alvo de inúmeros estudos. Dos 39 mil habitantes, 2% eram supostamente cegos.

O caso eclodiu quando o Ministério da Saúde desconfiou dos números e, pior, descobriu que o caso era generalizado pela Grécia e com esquemas que envolviam outras doenças. Em Zante, 1,5% da população sofreria de alto nível de asma. Já em Kalymnos, o problema é a elevada incidência de doentes mentais. 

Taxista cego. A opção foi por pedir uma recontagem dos cegos do país, em um sistema centralizado. Os resultados mostraram que, em 2012, existiam 36 mil cegos a menos no país que em 2011. Na ilha, apenas 190 dos 700 "cegos" decidiram se recadastrar. Desses apenas 40 tiveram a comprovação de que de fato não viam, 5% do número original. Nos formulários que deram origem à fraude, os beneficiados sequer escondiam a contradição. Alguns deles eram taxistas e colocavam nas fichas suas profissões reais.

O novo prefeito local, Stelios Bozikis, decidiu dar um basta ao esquema. Foi recebido em março pelos seus cidadãos com um banho de iogurte em protesto. O oftalmologista do hospital público pediu demissão, mas não sem antes dar declarações à imprensa local insinuando que o que havia feito era meramente para ajudar a população a sobreviver.  Entidades que reúnem deficientes não escondem o mal-estar, já que as pessoas que realmente sofrem dos problemas hoje são alvos de ofensas na rua e uma discriminação ainda maior. [Isto parece até roteiro de comédia italiana ...]

Para os especialistas, isso reflete um problema ainda mais profundo: a total falta de confiança entre cidadãos e o estado. "Isso tudo é o resultado de uma confluência de interesses. De um lado, políticos corruptos em busca de votos e médicos, mal pagos, precisando completar sua renda", explicou Costas Bakouris, diretor da Transparência Internacional na Grécia. "Para completar, a população vê sua renda cair de forma drástica e tenta encontrar caminhos", completou. "Quando as pessoas acreditam que seus líderes abusam de seus poderes e vivem na impunidade, estão mais inclinados a seguir a mesma linha", indicou a entidade, em um informe.

Um comentário:

  1. Amigo VASCO:
    Tempos atrás, não muitos, postei um comentário em uma de suas notícias, sobre a problemática da criação de uma MOEDA ÚNICA.
    O que estamos vendo é a artificialidade criada
    pela tentativa de igualar os desiguais.
    Essa idéia de moeda única chegou a ser cogitada aqui no MER(DA)COSUL, mas até agora, não foi para a frente.
    Na Grécia são os CEGOS. Aqui são os FAMINTOS, entendidos aqueles que recebem bolsa-disso, bolsa-daquilo, etc.
    A ECONOMIA do MUNDO é um SISTEMA FECHADO: se ALGUÉM GANHA, ALGUÉM PERDE, pois não existe almoço grátis. Isso vale para qualquer país.

    Abraços - LEVY

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