Ainda que os negócios dos produtores do sudoeste da França não tenham um peso muito importante do outro lado do Atlântico, o estado da Califórnia é um "formador/ditador de moda" como destacou Marie-Pierre Pé, delegada geral do Comitê Interprofissional dos Palmídes para Foie Gras (Cifog). O lobby californiano agiu na realidade "pró-forma", segundo ela, porque as exportações de foie gras para os EUA foram praticamente nulas em 2011 por causa de restrições veterinárias e barreiras alfandegárias. Os profissionais do setor acreditam que, enquanto os grandes clientes do foie gras se originam cada vez mais dos países emergentes, a decisão de proibir a venda e o consumo do foie gras não arrefece a paixão de clientes estrangeiros por ele.
O que choca esses profissionais é a proibição de consumo. "Alguns países já proibiram a produção de foie gras, como Grã-Bretanha, Itália, Alemanha ou Israel). A novidade é proibir também o consumo", zomba André Daguin, ex-chef estrelado e ex-dirigente emblemático do sindicato dos hoteleiros e proprietários de restaurantes (UMIH), cuja filha fundou uma empresa comercializadora de foie gras no outro lado do Atlântico.
[Não é a primeira vez que a França enfrenta problemas com o foie gras -- em agosto do ano passado, a maior feira mundial de alimentos, que se realiza periodicamente na Alemanha, proibiu o estande francês de expor e vender foie gras. O processo de engorda forçada de gansos e patos para a produção desse produto é realmente desumano e revoltante, como se pode ver na foto abaixo, e tem sido a causa da crescente onda contra essa fantástica especiaria. Com esse processo, o fígado dessas aves fica hipertrofiado, o que é indispensável para a obtenção do foie gras.]
Um ganso sendo alimentado à força, e em excesso, para a produção de foie gras em Rocamadour, França -- (Foto: Google).
O Quai d'Orsay (o Itamaraty francês) é alertado
Diante da ira dos criadores [de gansos e patos], o imbróglio chegou ao ministério de Relações Exteriores francês, onde se avaliam os meios de agir desde a votação da lei da Califórnia há praticamente oito anos atrás! [Pelo visto, a inércia em agir e reagir não é mal exclusivo do Itamaraty ...]. O próprio ministro Laurent Fabius afirmou "lamentar a decisão da Califórnia". Os franceses tinham a esperança de modificar a lei californiana a seu favor, baseando-se em um êxito anterior em caso semelhante. Em 2008, o prefeito de Chicago, Richard Daley, realmente anulou uma decisão tomada dois anos antes e voltou a permitir o foie gras. Em nível regional, o presidente da região de Midi-Pyrénées [a maior região da França metropolitana], Martin Malvy (do Partido Socialista), se revolta com a decisão americana: "Alguém que cria gado com hormônios e cultiva OGM (Organismos Geneticamente Modificados) sem saber os efeitos que isso terá, não pode me dar lições sobre engorda forçada!". Ele convidou, entre outros, Jerry Brown, governador atual da Califórnia -- estado que ainda não aboliu a pena de morte -- a ir descobrir a "realidade dos fatos" em suas terras.
Aos proprietários de restaurantes da Califórnia resta o recurso a artifícios para burlar a proibição. Um artigo da parismatch.com, publicado em 2008, relata que os profissionais que ofereciam pratos do sudoeste francês em seus cardápios tinham resistido, criando o clube da "sopa de tartaruga". Quando um de seus clientes apresentava um cartão desse clube, significava que ele queria degustar foie gras ...
Fico particularmente agradado por tal notícia. Parece-me que também a Hungria já deu um basta nessa tortura com gansos, feita por conta da gastronomia. Esse discreto e limitado prazer à mesa poderá ser, em breve, substituído por outro. Faltam ainda alguns elementos que me causam repugnância: touradas, farra do boi, caça à baleia, e outros menos cotados.
ResponderExcluir