A guerra de versões sobre as razões da queda do voo AF447 em 31 de maio de 2009 está declarada entre Air France e Airbus. Ainda que nas
aparências as duas empresas sigam cordiais, as direções de ambas travam
uma batalha para empurrar a culpa pelo acidente e pela morte dos 228
passageiros e tripulantes. Enquanto o discurso do fabricante reitera que
"não há mais dúvidas" sobre a culpa dos pilotos, a companhia aérea
frisa que ao longo dos três minutos de queda o trabalho dos pilotos foi
dificultado por informações eletrônicas contraditórias. Um novo relatório sobre a queda do voo 447 da Air France, divulgado nesta sexta-feira pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA, sigla em francês), concluiu que os pilotos da aeronave cometeram uma série de erros.
Ao Estado, um executivo da Airbus disse que o relatório
do Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA) é
cristalino sobre a suposta responsabilidade da tripulação - ainda que a
direção do escritório afirme que não tem provas sobre o assunto. "Nós
sempre dissemos que havia algo além da falha das sondas de velocidade.
Elas foram o evento de origem, é verdade, mas há bem mais do que isso",
diz.
Para ele não há mais dúvidas: "A queda foi causada por ações
inapropriadas dos pilotos. Isto está claro". As lacunas na investigação,
que não permitem saber que informações orientavam os pilotos no momento
da tomada de decisão, não abalam sua convicção. "Eu acredito que neste
momento entramos em fatores humanos e é muito difícil explicar as razões
pelas quais os pilotos tomaram as decisões que tomaram." Diante disso, a
responsabilidade é clara. "Não sou um especialista no domínio do
direito, mas a companhia aérea é responsável direta pela ação de seus
pilotos", argumenta. Vejam postagem anterior sobre isso.
Já a Air France mantém o discurso oposto. Em nota oficial, a empresa
afirmou que a queda do voo AF-447 foi causada "por uma combinação de
múltiplos elementos improváveis que conduziram à catástrofe em menos de
quatro minutos". A companhia área cita então o congelamento dos sensores
de velocidade - os tubos de pitot - e a "perda da proteção de
pilotagens associadas". "Em um ambiente de pilotagem degradado e
desestabilizador, o aparelho perdeu sustentação em alta altitude, não
pode ser recuperado e atingiu a superfície do oceano Atlântico em grande
velocidade", diz a empresa. Ela completa: "As múltiplas ativações e paradas intempestivas e
enganosas do alarme de perda de sustentação, em contradição com o estado
do avião, contribuíram fortemente à dificuldade de análise da situação
por parte da tripulação".
A nota da Air France faz ainda o elogio de seus pilotos. "A tripulação,
reunindo as competências de dois oficiais pilotos de linha e do
comandante de bordo, provou sua consciência profissional, permanecendo
engajada até o final na condução do voo. Air France homenageia sua
coragem e determinação em condições extremas."
Ao se digladiarem pela culpa da queda do voo AF-447, as companhias
tentam reduzir suas responsabilidades no processo que corre na Justiça
da França, onde respondem por crime de homicídio culposo. O advogado João Tancredo --que representa 16 famílias de vítimas do voo
447 da Air France-- afirmou que a constatação de que houve erro dos pilotos, divulgada na manhã desta sexta-feira pelo BEA (órgão francês que investiga o acidente), pode aumentar a indenização aos parentes.
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