A Petrobrás já assinou o contrato com a Manchester Serviços Ltda., fruto de uma licitação de R$ 300 milhões fraudada em março deste ano. A
estatal havia sonegado essa informação do Estado até
terça-feira, 12. Por escrito, depois de três dias de questionamento,
informou que o contrato foi assinado no dia 1º de julho. A Manchester
pertence ao senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente da Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O Estado
revelou no domingo, 10, que a empresa soube com antecedência da relação
de seus adversários na licitação e os procurou para negociar um acordo.
Um diretor da Manchester reuniu-se por mais de três horas com uma
concorrente, a Seebla Engenharia, no dia 30 de março, um dia antes da
abertura das propostas.
A Petrobrás confirmou ainda que, durante o processo licitatório, não
revelou o orçamento estimado do contrato às sete empresas que
participaram da disputa. "A estimativa não é divulgada em nenhum momento
pois poderia balizar outras licitações e ferir os interesses comerciais
da companhia", informou. Ou seja, o sigilo do orçamento, como quer o
governo nas licitações da Copa do Mundo, não impede o conluio entre
empresas. A relação de concorrentes vazou e houve reuniões antes da
licitação da Petrobrás para discutir valores.
O Estado mostrou no domingo que José Wilson de Lima,
diretor comercial da Manchester no Rio de Janeiro, esteve na sede da
Seebla Engenharia no dia 30 de março, em São Paulo, para negociar um
acerto em torno da concorrência. A imagem dele ficou registrada no
condomínio onde funciona a Seebla. No dia seguinte à reunião, a Seebla
ofereceu o preço de R$ 235 milhões, mas foi desclassificada pela
Petrobrás, que declarou a oferta da Manchester, de R$ 299 milhões, como a
mais "vantajosa" para a estatal. A empresa de Eunício Oliveira, antes
de conseguir esse contrato, havia recebido R$ 57 milhões em contratos
sem licitação.
O Tribunal de Contas da União (TCU) já abriu um processo para investigar
as relações entre Manchester e Petrobrás. Os partidos de oposição
pediram ainda apuração por parte da Procuradoria-Geral da República em
relação à conduta do senador Eunício de Oliveira no episódio. O
procurador-geral, Roberto Gurgel, já deu declarações de que deve entrar
no caso.
A Petrobrás tem negado qualquer existência de fraude. Alega que todo
processo de licitação é eletrônico, apesar de as empresas concorrentes
terem se reunido às vésperas da abertura das propostas. A estatal ainda
disse que nunca foi alertada de fraude, rebatendo informação da Seebla
Engenharia. Já Eunício Oliveira afirmou que está afastado da gestão das
empresas desde 1998 e que, por isso, não tem qualquer relação com as
negociações da Manchester. O senador é dono de 50% da empresa, que doou
R$ 400 mil à sua campanha dele em 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário