quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Senado Federal ameaça avacalhar com o ensino da Engenharia no país

O assunto que abordo a seguir me foi trazido por meu dileto amigo Levy, a quem agradeço mais esta contribuição para o meu blogue.

As duas casas do Congresso Nacional têm se esmerado em disputar qual consegue ser mais nociva ao país -- com raríssimas, e portanto minoritárias exceções, ambas têm se mostrado valhacoutos de espertalhões e marginais da cidadania. Desta vez, o feito escandaloso e repelente vem do Senado, que está prestes a aprovar um projeto de lei que simplesmente avacalha de vez com o ensino da Engenharia no Brasil e ameaça nos colocar na retaguarda desse importantíssimo setor da educação e da economia do país. Esse crime de lesa-pátria é relatado pelo Prof. José Roberto Castilho Piqueira, vice-diretor da Escola Politécnica da USP e diretor presidente da Sociedade Brasileira de Automática, em artigo publicado ontem no jornal O Estado de S. Paulo.

Trata-se do Projeto de Lei 220, de 2010, que pretende alterar a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Até aqui parece tudo simples burocracia, de pouco interesse para a sociedade. Mas não é bem assim: essa modificação proposta para a legislação desobriga da titulação os professores dos cursos de Engenharia, remetendo o País aos anos 1950, época em que estávamos acadêmica e tecnologicamente muito atrasados em relação ao restante do mundo.

Nos anos 1960 e 1970, as principais escolas de Engenharia do País, com apoio dos órgãos de fomento, enviaram seus professores ao exterior para a obtenção da formação adequada, em cursos de mestrado e doutorado.  Nos anos 1980 e 1990, esses professores, ao voltar ao País, implantaram programas de pós-graduação em Engenharia, formando uma boa geração de novos engenheiros e tecnólogos, agora habituados à pesquisa e à inovação.

Há hoje, em nosso país, excelentes programas de pós-graduação, em quantidade suficiente para atender a nossas demandas. A indústria, antes avessa à titulação de seus engenheiros e técnicos, hoje anda em busca de mestres e doutores e algumas têm seus próprios programas, em conjunto com universidades. Assim, a demanda proposta é dirigida na contramão do desenvolvimento e não atende ao que a sociedade precisa: mão de obra de alto nível que nos leve à independência tecnológica.

Temos mestres e doutores na área, em boa quantidade. Entretanto, as universidades particulares preferem os não titulados ou aqueles que fazem do ensino uma simples complementação salarial. Isso implica uma queda considerável nos custos de operação dos cursos, acompanhada de uma baixa qualidade de ensino. Há gente competente para lecionar em escolas de Engenharia que não é titulada. Entretanto, em número muito menor do que os mestres e doutores que buscam uma posição em ensino e pesquisa e não encontram, pois as instituições de ensino não querem investir o necessário em salários e em infraestrutura de pesquisa, pensando, apenas, em maximizar seus lucros.

O que devemos fazer para impedir que o Senado cometa esse crime? Botar a boca no trombone, da maneira a mais barulhenta e encarniçada possível. Vamos bombardear o senado e os senadores com mensagens de alerta e protesto contra esse absurdo Projeto de Lei -- é só entrar no site do Senador Federal (www.senado.gov.br) e colher ali os emails de seus ocupantes. Sugiro que o senador Cristovam Buarque (cristovam@senador.gov.br) seja necessariamente um destinatário de nossos protestos, por tratar-se de um político que há anos milita na área da educação, conhece a fundo esse setor e é respeitado por sua atuação.

4 comentários:

  1. A necessidade de bons professores e de mais vagas nos cursos de engenharia é premente. Professores com uma carreira puramente acadêmica não somente são cada vez mais difíceis de encontrar; também, muitas vezes, são os menos adequados para formar novos engenheiros. O que tem afastado tantos jovens da engenharia é justamente o excesso de academicismo. Aprovo que os professores sejam aqueles que têm experiência prática no exercício da profissão. Foi com professores assim que aprendi o amor à Engenharia, em meu curso de Telecomunicações da UFF, quando o mencionado Levy atuava na Embratel e lá. Sou a favor de professores que sejam profissionais de engenharia, e não meros acadêmicos. Aprovo a atitude do Senado, desde que exija anos de exercício da profissão em vez de títulos.

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  2. Prezado Cristiano,

    concordo em parte com sua argumentação. Penso também que academicismo em excesso é prejudicial, por isso sempre achei que mestrado e doutorado em Engenharia (e, em tese, em qualquer outra profissão) deveriam necessária e obrigatoriamente ser precedidos de pelo menos três anos de exercício profissional. Me preocupa, e muito, essa abertura extrema e imediata que o Senado quer fazer, porque no Brasil, infelizmente, legisladores e espertalhões geralmente andam de mãos dadas, e a tendência é o nivelamento por baixo. O assunto precisa ser debatido em audiência pública, antes de ser levado à sanção presidencial. Temos que evitar a todo custo que transformem os cursos de Engenharia numa réplica dos cursos de Direito, cujo baixíssimo nível em inúmeros estados do país foi recentemente reconhecido e escancarado pela OAB.

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  3. Reproduzo a seguir o comentário que recebi por email do amigo Sergio Levy:

    Amigos VASCO e CRISTIANO:

    Seus comentários se somam, embora não pareça a principio.

    Quem viveu o magistério, seriamente, em um curso como o de Engenharia, não está preocupado com o salário do fim-do-mes, até porque irrisório. Está preocupado sim com o repassar de seus conhecimentos adquiridos no exercício da profissão.

    Isso aprendi com o fundador do curso de Engenharia de Telecomunicações de nossa UFF, o prof. Gustavo Nilo Romero Bandeira de Melo, que o Cristiano não teve o privilégio de conhecer e conviver. Dizia ele que a tarefa do professor ultrapassava a sala de aula, pois DEVERIA ensinar o que seria REALIDADE na Engenharia nos próximos CINCO ANOS ou mais. Esse era o DESAFIO,

    não o salário, ou os títulos obtidos (muitas vezes para justificar uma gratificação que melhorasse o salário, sempre baixo).

    Pelo menos no meu caso, sempre procedi assim, pois, como funcionário da EMBRATEL (e mesmo antes disso), o salário de engenheiro me garantia a subsistência.

    Mas ENSINAR é um SACERDÓCIO.

    Preocupa-me a politização do assunto. Acho que nossos representantes no Congresso não têm a MENOR SENSIBILIDADE para o assunto. Podem surgir medidas que agravem a questão, e não as resolva.

    Agora começa a se questionar os cursos de mestrado e doutorado feitos no exterior.

    O problema não está no modelo, mas sim na colocação em prática dos resultados. Não temos laboratórios onde nossos graduados e pós-graduados possam realizar pesquisas. o Regime Integral de trabalho (40 horas semanais) é PURA FICÇÃO> Não conheço UM professor de TEMPO INTEGRAL que consiga ficar na faculdade por todo o tempo devido. O quadro-negro continua a ser sua forma de comunicação com os alunos (e ainda usando GIZ).

    Desculpe o azedume do comentário, mas é o que eu sinto.

    Sergio LEVY

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  4. Comentário recebido de D. Baroni, via Sergio Levy:

    Oi Levy,
    A respeito do artigo do blog "Congresso quer avacalhar com a ENGENHARIA ..."

    É simplesmente inacreditável o que esse Congresso é capaz de fazer !
    Chegamos a um ponto de falência Universal !
    Que Deus nos proteja das "Universidades" Particulares...
    D.Baroni

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