A Bélgica detém um recorde mundial nada invejável: há mais de um ano o país não tem um governo eleito! Esse conflito paralizante entre flamengos (que falam sua própria língua e holandês, no norte) e os valões (que falam francês, no sul) pode acabar arrastando o país para a crise do euro.
Flamengos e valões são antíteses uns dos outros, o que é perfeitamente demonstrado por seus líderes, Elio di Rupo, 59, chefe dos Valões Socialistas, e Bart de Wever, 40, líder da Nova Aliança Flamenga. Ambos foram bem sucedidos nas eleições parlamentares do ano passado -- e, desde então, ambos levaram a política na Bélgica (sua terra natal) à imobilização. Os Valões Socialistas conseguiram 26 das 152 cadeiras do Parlamento, e os separatistas flamengos 27, mas nenhum deles conseguiu organizar um governo de coalizão e nenhum deles quer ir para a oposição. Isto porque as diferenças entre di Rupo e de Wever vão muito além do que suas aparências indicam -- ambos personificam planos políticos diametralmente opostos.
Esse vazio político tem continuado por mais de um ano, e a Bélgica tem estado sem governo por um período mais longo do que qualquer outro país do mundo. Nem o Iraque, com seus grupos étnicos, ficou tanto tempo sem formar um governo. Didier Reynders, o ministro das Finanças belga em exercício, fez um gracejo recentemente dizendo que os partidos políticos em Bagdá pelo menos se falam entre si -- na Bélgica, os dois partidos mais importantes não se falam entre eles. Quando o separatista flamengo de Wever diz que a Bélgica não tem futuro, ele está na realidade expressando um sentimento que é generalizado, especialmente entre os flamengos. Eles se sentem dominados pelos francófonos, um sentimento que tem muito a ver com o fato de a ex-capital flamenga, Bruxelas, ter sido largamente dominada pelos cidadãos de fala francesa.Os flamengos prósperos de hoje se vêem como os "pagadores da conta" no país, porque os inúmeros desempregados da sulista Valônia são parcialmente sustentados pelos impostos deles, flamengos.
De Wever deseja a reforma do sistema de previdência social. Ele afirma que a Bélgica "é o doente da Europa" e deveria seguir o exemplo da Alemanha, que fez sofridas mudanças em seu sistema de previdência social no governo do chanceler Gerhard Schröder. A maioria dos partidos flamengos e os liberais de ambos os lados apoiam essa iniciativa, mesmo que sua retórica não seja tão enfática. O ministro das Finanças em exercício, Didier Reynders, também apoia essa moção e se mostra preocupado com o fato de que as agências internacionais de classificação de risco econômico-financeiro têm, de longa data, condenado o impasse político. A agência Fitch recentemente baixou de "estável" para "negativa" sua percepção da Bélgica, dando a entender que pode vir em seguida um rebaixamento da classificação do país.
Reynders se opõe a novas eleições, argumentando que, além de provavelmente não alterar muito o balanço de forças, elas levariam o país a uma completa paralização pois o Parlamento belga seria dissolvido. Um país assim, membro da zona do euro, incapaz de tomar decisões durante semanas ou mais, logo no meio da crise que afeta o euro, pode prejudicar toda a união monetária e ser ele mesmo sugado pela crise. Embora os belgas poupem mais do que qualquer outro país do mundo, a dívida pública do país já chega a 96% do PIB -- está aceso o sinal de alerta.
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