Recentemente, fiz uma postagem sobre essa muito estranha e muito mal contada fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, com o BNDES afoito para contribuir com uma batelada de dinheiro nessa história. Agora, é a conceituada revista The Economist que torce o nariz para o envolvimento do governo, via BNDES, nessa questão da fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, que começou como um negócio questionável e caminha agora para virar um senhor imbróglio.
Na sua edição que está nas bancas, a revista diz que as negociações da tentativa dessa fusão expõem a fragilidade da política antitruste no Brasil e o envolvimento "nebuloso" do Estado no processo de aquisições no país.
A publicação ressalta que, se o negócio for concretizado, a nova varejista teria 27% do mercado nacional em seu segmento. "Dado o risco de tamanha concentração, não surpreende que o resultado do
negócio dependa do governo. Mas o veredicto da fusão virá do BNDES (que
inicialmente prometeu aportar R$ 3,9 bilhões ao negócio) – cujo
presidente, Luciano Coutinho, agora diz que só apoiará o negócio se o
Casino (que se opõe à fusão) se reconciliar -, em vez de vir do Cade, o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica", diz a reportagem. Para a Economist, o Cade tem seu poder limitado por "regras que
o impedem de agir até que o negócio seja finalizado. Só aí (o órgão)
pode impor condições ou mesmo ordenar que fusões sejam desmembradas se
considerá-las anticompetitivas. Mas aí já é tarde demais".
A reportagem cita outros desafios do Cade, como as negociações
envolvendo Nestlé e Garoto e Sadia e Perdigão – casos que até hoje se
desenrolam na Justiça. E diz também que muitas fusões realizadas no
Brasil resultam em um "nebuloso" envolvimento do Estado, que muitas
vezes aporta capital às negociações. "Uma lei que exigiria a aprovação prévia do Cade para negócios que
pudessem lesar os consumidores foi apresentada no Congresso em 2005, mas
não progrediu", prossegue o texto. -- A The Economist bota o dedo na ferida, ao apontar a incompetência do Cade para decidir com a devida e necessária rapidez negociações de extrema relevância para o consumidor brasileiro. Acho ridículo e escandaloso que o Cade leve anos para decidir o caso Nestlé-Garoto, e parece que fará o mesmo com o caso Pão de Açúcar-Carrefour, passando para o mundo um atestado de extrema incompetência, quando não de conivência com a lei do mais forte, deixando que, por sua lentidão ao agir, os interessados e o mercado criem situações de fato praticamente incontornáveis, geralmente em prejuízo do consumidor brasileiro.
A conclusão da Economist é que o PT, como partido governista,
estaria mais interessado em "criar campeões nacionais do que em fomentar
a competição" empresarial. "O desfecho da batalha (que envolve Pão de Açúcar, o Carrefour e o
grupo rival francês Casino) pode depender de diversos fatores
estratégicos, legais ou políticos. O bem-estar dos consumidores, porém,
não está entre esses (fatores)", opina a revista.
A reportagem desta quinta-feira tem um tom distinto do defendido na edição da semana passada, quando a Economist
apontou que a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, se
concretizada, teria a vantagem de trazer novas "habilidades" ao país e
"talvez ajudasse o novo empreendimento a entrar em outros mercados".
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