Antes de iniciar esta postagem, deixo registrado a contragosto o uso da palavra "AIDS" -- o Brasil é ridiculamente o único país (ou um dos únicos) de língua latina que não usa a palavra SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), graças ao nosso arraigado costume idiota de apego extremado a termos em inglês.
No modelo tridimensional na tela do computador, o vírus da AIDS lembra uma cabeça de brócolis deformada, com sua superfície se deslocando constantemente. Pesquisadores do Centro de Pesquisas de Vacinas dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, em inglês) dos EUA atribuem características morais ao seu inimigo -- ele é "enganador" e "diabólico". O vírus é encoberto por uma capa de açúcares que imitam proteínas naturais, tornando-o invisível para o sistema imunizador. Sua verdadeira natureza é revelada ao organismo apenas quando ele necessita entrar numa célula -- ele se agarra a uma saliência e injeta seu veneno genético com um harpão armado com mola. Ele se protege mudando constantemente sua sequência genética. Uma pessoa infectada com uma versão do vírus pode, numa questão de semanas, carregar um milhão de pequenas mutações.
No seu percurso de 30 anos, o vírus infectou 65 milhões de corpos humanos -- 30 milhões de homens, mulheres e crianças morreram. Não há um único exemplo de uma pessoa infectada cujo sistema imunizador haja eliminado o vírus de seu corpo. Este é o maior desafio para o pesquisador da vacina. O sistema imunizador possui respostas eficazes contra doenças tais como poliomielite, sarampo e varíola, muitas pessoas se recuperam delas e ganham imunidade contra elas. O próprio corpo prova que uma vacina é possível. Mas não há uma resposta que seja naturalmente protetora conta a AIDS, pesquisadores médicos têm que ser melhores que a natureza.
Uma auditoria no Centro de Pesquisas de Vacinas acima mencionado teria encontrado, em 2008, bilhões de dólares gastos com poucas respostas. Mas o progresso surge frequentemente de maneira espasmódica ou intermitente. "Você faz o trabalho de base", diz Gary Nabel, diretor do Centro, "e então ele surge de repente". Em 2009, houve duas descobertas não relacionadas entre si. A experiência com uma vacina tailandesa conseguiu produzir um pequeno efeito protetor, embora os pesquisadores não soubessem o porquê disso. Mais ou menos na mesma época, diagnósticos aprimorados descobriram que de 10 a 25% das pessoas com HIV produziam anticorpos que neutralizavam o vírus -- embora a resposta seja demasiado fraca e muito tardia para fazer diferença.
Descobriu-se que o vírus é vulnerável em um ponto. Há uma porção de seu invólucro que não pode se deslocar e se camuflar -- a pequena área na qual o vírus se "agarra" à célula que é seu alvo. Um anticorpo com a mesma "impressão digital" da célula pode bloquear esse "engate". Cientistas do NIH conseguiram agora clonar esse anticorpo. Produzido em quantidades suficientemente grandes, ele pode ser injetado. Os testes serão iniciados no ano que vem. Mas, mesmo que essa abordagem funcione, a injeção de anticorpos fabricados não será uma solução imediatamente prática. Uma grama do anticorpo, diz Nabel, poderá custar 100 dólares para ser produzida. Talvez 100 milhões de pessoas necessitem ser injetadas uma vez por mês. Essa solução será proibitivamente cara, a menos que haja uma redução drástica de custos.
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