Logo no início de seu governo, Dilma Rousseff cortou R$ 50 bi no orçamento federal sem qualquer argumentação plausível sobre os critérios usados para definir o rateio desse corte entre os inúmeros ministérios -- prova disso é que o ministério da Educação foi vitimado em R$ 3,1 bi, apesar da importância vital e estratégica da educação para o país.
Eis que, quatro meses depois desse corte brutal na Educação surge na paisagem uma história ainda mal contada de uma possível fusão do grupo brasileiro de supermercados Pão de Açúcar com o Carrefour, grupo francês do mesmo ramo. Com uma rapidez supersônica, o governo Dilma anuncia a disposição de, via BNDES, injetar R$ 4 bi para financiar o Pão de Açúcar -- ou seja, educação é matéria de secundária importância para nós mas o ramo de secos & molhados é vital para o Brasil, merecendo por isso uma verba 30% maior do que a que foi cortada da educação em fevereiro...
Os bastidores dessa história começaram a cheirar mal (e ainda permanecem com o mesmo odor), houve estranhezas e reclamações dos mais diversos setores do país, e agora Dilma recomenda ao BNDES que só entre no negócio se houver "consenso" para sua realização.
Há muito caroço nesse angu: -- a) o Sr. Abílio Diniz, dono da Companhia Brasileira de Distribuição, proprietária do Pão de Açúcar, é membro da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade criada por Dilma para assessorar o governo na redução de custos, racionalização de processos, aumento da produtividade, e otimização dos sistemas de compras e dos serviços prestados à sociedade -- essa Câmara é composta de empresários e ministros (da Casa Civil, da Fazenda, do Planejamento, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio). Assim sendo, Abílio Diniz tem acesso e convívio diretos e privilegiados com a nata da gestão estratégica e financeira do governo, ficando pois muitíssimo estranho todo esse açodamento do governo em conceder-lhe um financiamento de R$ 4 bi via BNDES. Isto cheira a tráfico de influência. -- b) Com o país enfrentando sérios problemas em, entre outros setores, educação, saúde, segurança pública, e competitividade na indústria, não há argumento decente que sustente essa alegada importância estratégica atribuída pelo governo Dilma ao setor de supermercados, a ponto de determinar ao BNDES que lhe destine R$ 4 bi. Essa história de o governo dizer que essa fusão Pão de Açúcar - Carrefour abrirá "importante" espaço para o Brasil no exterior nesse setor é ridícula -- o Globo mostrou, por exemplo, que o Pão de Açúcar na sua atual associação com o grupo francês Casino (arquirrival do Carrefour na França e onde quer que ambos estejam) é basicamente importador de produtos franceses, não exporta praticamente nada. -- c) Como dito, o grupo de Abílio Diniz é hoje associado ao grupo francês Casino, que alega que o contrato existente entre ambos lhe garante assumir em 2012 o controle acionário do Pão de Açúcar. Por conta disso, os franceses estão revoltadíssimos com as negociações de Abílio com o Carrefour, feitas à sua revelia, e prometem mover céus e terras para inviabilizar o negócio com o Carrefour. Com que justificativa o governo brasileiro se mete num imbróglio desses, com seu principal agente financeiro?! -- d) É no mínimo capciosa a argumentação do governo de que o Banco busca se envolver em um negócio "rentável", em uma operação normal de financiamento. O problema é que essa "rentabilidade" está longe de ser garantida e pacífica nesse caso específico, tanto do lado financeiro quanto do lado legal, especialmente com a agressiva reação do grupo Casino -- se o negócio for concretizado e der chabu para o BNDES, quem banca o prejuízo é o Tesouro Nacional ou seja, o bolso do contribuinte brasileiro.
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