[Nem sempre concordo com o que o historiador Marco Antonio Villa diz e escreve, mas de vez em quando sua opinião empata inteiramente com a minha -- como foi o caso de sua coluna de ontem no Globo e em seu blogue, que reproduzo a seguir.]
O governo Dilma parece velho
Marco Antonio Villa - 26/6/2012
O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais
fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de
faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na
história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha
sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de
corrupção.
Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do
seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É
dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel.
E resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o
rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São
Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo.
Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina
interferido no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi
chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o
homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a
presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou
do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa
ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar
diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.
O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento
estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das obras,
além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do "programa"
foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar entre as
maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da
incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura
continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o
programa "Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das
metas.
O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A
região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva
já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com
isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da
máquina estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram
entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT
(o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos dois
órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A "punição" foi a
demissão dos gestores. Enquanto isso, desejando mostrar alguma
preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80
reais para cada família cadastrada durante 5 meses, perfazendo 400 reais
(o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com a
presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao
normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões,
tudo; para os sertanejos, uma esmola.
Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de
carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é
para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou
pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez
promessas. E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz.
Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente
sempre ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando
foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio de Menezes
comentou sarcasticamente: "É o único caso que conheço de promoção por
abandono de emprego." Mercadante é um versão século XXI de Venceslau. O
sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave crise. O
que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se
manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os
grevistas voltarem ao trabalho.
A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o
governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país,
enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa
alíquota resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é
aquela mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o
modelo construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água
(e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima
ideia de como fazer isso. Prefere correr desesperadamente atrás do que
considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome
de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no
poder.
Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos
juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado
petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da
terceira idade. A política externa está em descompasso com as
necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena
internacional. O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por
derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento,
deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de
articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir
consensos. Assimilou o "estilo bolivariano", da retórica panfletária e
vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como
agora na crise paraguaia.
O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo
dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do
mandato. Pobre Brasil.
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