Já expus em postagem anterior minha opinião sobre a sem-vergonhice repugnante do voto secreto de parlamentares no Congresso Nacional. Volto ao assunto porque se aproxima o julgamento do senador Demóstenes Torres em plenário e o "imortal" (vixe Maria!) senador José Sarney "diz" que colocará na pauta do Senado a proposta de eliminação desse voto, que é sinônimo de covardia e da mais absoluta falta de caráter por parte de quem o utiliza. Mas, o que me animou mesmo a voltar ao tema foi a coluna de hoje da Dora Kramer no jornal O Estado de S. Paulo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.
Espírito de corpo
Dora Kramer - O Estado de S. Paulo (07/6/12)
Na perspectiva do velho ditado, tome-se como louvável a decisão do
presidente do Senado, José Sarney, de ceder à pressão da maioria dos
líderes partidários e pôr na pauta de votação da próxima quarta-feira a
proposta de emenda constitucional que acaba com o voto secreto em
plenário para processos de cassação de mandatos [por que não acabar de vez com essa bandalha para qualquer hipótese?!]. O problema é que a
realidade revela uma tendência forte a favor do "nunca" em detrimento do
"antes tarde". Traduzindo: deixando ao curso da vontade majoritária, o
Congresso prefere mesmo manter os votos dos parlamentares sob a proteção
do sigilo.
Não é um juízo precipitado nem leviano, mas antes baseado em fatos. E
estes são os seguintes: há várias propostas em tramitação no Senado que
nunca foram mexidas, há a decisão de Sarney movida a intenso
constrangimento por causa do caso Demóstenes Torres e há uma emenda já
votada em primeiro turno na Câmara desde setembro de 2006. Aprovada, diga-se, sob a tensão do escândalo do mensalão, envolvimento
de parlamentares com a chamada "máfia das sanguessugas" e da proximidade
das eleições. Foram 383 voto a favor, 4 abstenções e nenhum contra.
Na época a Câmara fez a cena e se retirou do palco. Nunca mais tocou no assunto, deixando o processo sem conclusão. Agora, se houvesse genuína disposição do colegiado em acabar com o voto
secreto bastaria que Câmara e Senado fizessem um acordo para a retomada
daquela votação.
Argumenta-se que a proposta a ser votada pelos senadores na semana
que vem dificilmente terá sua tramitação concluída a tempo de, se
aprovada, valer para o julgamento de Demóstenes Torres previsto para
julho, antes do recesso. Haveria economia de tempo se, no lugar de começar do zero, o Congresso
terminasse o que começou: a Câmara faria a votação em segundo turno e a
emenda seguiria para o Senado.
Dos deputados, contudo, não se ouve palavra a respeito e no Senado
tampouco se levanta essa possibilidade. Como se as duas Casas não fossem
instâncias do mesmo Poder.
A sugestão do senador Pedro Taques para que cada um abra o voto
espontaneamente pode, se passar pelo crivo da Justiça, representar uma
saída circunstancial. Mas não é uma solução.
À sorrelfa. Longe de câmeras e microfones, os três deputados federais
(Carlos Leréia, Sandes Júnior e Rubens Otoni) suspeitos de envolvimento
no esquema Cachoeira foram ouvidos terça-feira pela corregedoria da
Câmara. Daqui a dez dias enviará relatórios à Mesa Diretora que só então
decidirá se é o caso de acionar o Conselho de Ética para possível
abertura de processo por quebra de decoro. Tudo muito lenta e silenciosamente como convém ao corporativismo reinante na Casa.
Memória. Se alguém perguntar, o governador Marconi Perillo (GO) terá o
maior prazer em relatar, em seu depoimento no próximo dia 12 à CMPI do
Cachoeira, toda conversa que teve com o então presidente Lula
alertando-o sobre a existência de um sistema de cooptação de
parlamentares que viria a ser nacional e internacionalmente conhecido
pelo nome de mensalão.
Estavam os dois dentro de um carro que os levaria a um evento em Goiás,
quando Perillo disse a Lula que deputados federais aliados ao governador
estavam sendo abordados com propostas financeiras para mudar de lado e
integrar a base governista. O presidente rechaçou o aviso dizendo não acreditar e acrescentando
acusações ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de ter adotado
aquele tipo de prática. Perillo repetiu, deu nome e sobrenome de parlamentares assediados, mas o então presidente não deu atenção. [Mais uma demonstração da absoluta falta de ética típica de Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata - NPA. Foi por causa desse alerta que o NPA passou a detestar Perillo -- a oportunidade de acabar com a vida política de Perillo, que é do PSDB, foi um dos principais motivos que que levaram o NPA a jogar pesado pela criação da CPI de Carlinhos Cachoeira.]
Tudo isso, descontado um ou outro detalhe, já é sabido. Mas não
necessariamente lembrado pelo grosso da população que, por meio do
depoimento à CPMI, teria reavivada a memória às vésperas do julgamento
contra o qual Lula tanto se bate.
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