O texto abaixo foi traduzido por Leticia Nunes e publicado ontem no site do Observatório da Imprensa.
Originalmente criado em um laboratório da marinha americana com o objetivo de proteger as comunicações do governo, o projeto Tor
cresceu e se transformou em uma plataforma que ajuda as pessoas a se
manterem anônimas na internet. Na semana passada, o Knight News
Challenge, programa da Fundação Knight, anunciou uma injeção de verba no
projeto, que deverá se estabelecer como uma base de apoio poliglota –
permitindo que pessoas em todo o mundo possam obter assistência a
qualquer hora.
O software é gratuito e funciona espalhando transações online pela rede.
Desta forma, torna-se impossível determinar a localização de alguém com
base em sua atividade online. O primeiro objetivo do Tor, em sua nova
forma, é dar liberdade a quem não quer ter suas pegadas marcadas na
internet, mas o Knight News Challenge acredita que ele também tem valor
jornalístico. Com o auxílio do software, pessoas que vazam informações
confidenciais podem proteger suas identidades, e jornalistas não
precisam identificar sua localização, evitando problemas em países
repressivos.
Andrew Lewman, diretor-executivo do projeto, diz que o Tor tem usuários
em “todos os países do mundo que têm acesso à internet, com exceção
talvez da Coréia do Norte”. Hoje, os países que mais usam o software são
EUA, Itália, França, Alemanha e Espanha.
Pegadas
Lewman afirma que a ideia é usar a verba do Knight News Challenge para
facilitar o trabalho dos jornalistas e evitar que eles coloquem suas
fontes em risco. Por enquanto, no entanto, a maior parte das pessoas que
usam o Tor são cidadãos comuns que querem simplesmente se livrar de
anunciantes os perseguindo pela rede. Um exemplo é alguém que descobre
que um amigo tem câncer, faz uma busca na internet para saber mais
detalhes sobre a doença, e em seguida começa a ser bombardeado por
anúncios ligados àquela pesquisa inicial no Google. Ou alguém que pensa
em passar as férias em Nova York, faz uma pequena busca, e em seguida dá
de cara com ofertas de hoteis na cidade a cada página que visita na
rede.
Esta é uma questão com que os internautas estão começando a se preocupar
agora – muito por conta dos anúncios que aparecem no Gmail e no
Facebook com base em informações pessoais compartilhadas. Lewman diz
que, quando pensa no futuro, gostaria de criar um software que
garantisse a liberdade de expressão e a privacidade total na internet.
“Eu seria muito mais leal a empresas se elas honrassem meus desejos
sobre os meus dados. E imagino que haja muita gente que pense da mesma
forma. [As empresas] começam dizendo que te amam, que vão cuidar das
suas informações, mas lá pela página 16, parágrafo cinco, é ‘Venderemos
seus dados a quem pudermos, e você não pode fazer nada a respeito’”,
resume.
USB
O Tor também pretende usar a verba do Knight News Challenge em um
projeto batizado de Tails. Trata-se de um sistema operacional
preconfigurado em um pen drive. Assim, depois que o pen drive é
desconectado, não ficam rastros no sistema local – o que permite que
jornalistas publiquem informações de forma anônima de qualquer lugar,
sem precisar de um laptop próprio.
“Você entra em um cibercafé, conecta seu pen drive, e terá um sistema
operacional anônimo. Há ali uma conta de email, um browser de internet,
ferramentas de edição de texto, vídeo e áudio”, explica Lewman. “Vamos
pegar um exemplo extremo: você está em um país qualquer e testemunha um
conflito. Você quer enviar o vídeo, mas não quer que ele seja rastreado
até você. Pague 20 dólares por uma hora no computador, faça o upload do
vídeo, mande para o YouTube ou algum outro site, desconecte o pen drive,
e não há rastros”. Informações de Adrienne LaFrance [Nieman Journalism
Lab, 20/6/12].
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