A língua portuguesa vive o seu momento de maior popularidade nos Estados
Unidos. Entre 2006 e 2009, o ingresso de norte-americanos em cursos de português de nível superior cresceu 10,8%, com um total de 11,6 mil
alunos matriculados, segundo dados da Modern Language Association
(entidade de professores e escolas de língua).
Neste ano, uma nova pesquisa -com base em estatísticas de 2011, mas que
ainda não foi concluída- deve apontar alta nos números do ensino de
português, afirma a entidade.
Quem deu essa "mãozinha" para a língua foi a crise internacional, aliada
ao modo com que o Brasil passou a ser noticiado fora do país -sede de
eventos de importância mundial e um oásis de economia aquecida. Hoje, o
norte-americano que se matricula em um curso de português está menos
interessado em samba e Carnaval e mais atento ao mercado de trabalho.
A língua é a quinta que mais cresce e a sexta mais falada no mundo. Nos
EUA, ocupa o 13º lugar no ranking dos idiomas mais procurados. Por conta
do aumento na demanda, os departamentos de línguas de muitas
universidades norte-americanas reformularam seus cursos de português.
Foi o caso da Universidade Northwestern, em Chicago, que passou a
oferecer as aulas para quem já fala espanhol. Em um ano, diz a
professora Raquel Amorim, o programa recebeu o dobro de alunos. "Como
são línguas parecidas, com gramática semelhante, fica mais fácil
aprender".
Outra mudança foi a criação de uma especialização secundária para a
graduação. Assim, um aluno pode estudar, por exemplo, medicina e língua
portuguesa. "Antes, tínhamos alunos das áreas de língua e literatura.
Neste ano, dei aula para estudantes de relações internacionais, música e
engenharia, mas não tive nenhum de literatura", diz Raquel Amorim.
Elizabeth Schulze, 22, que acaba de se graduar em jornalismo, cursou
essa especialização atraída pelo mercado de trabalho brasileiro. "Nasci
no Brasil porque meu pai trabalhava lá e saí do país com menos de dois
anos. Não aprendi o idioma quando criança, mas tenho documentos
brasileiros, o que facilitaria minha entrada no mercado de trabalho",
afirma Schulze. Ela diz ter se surpreendido com o quanto gostou do
idioma. "É uma língua que pode ajudar na minha carreira".
Em 11 anos de ensino de português em diferentes universidades dos EUA,
Ana Williams, que hoje também leciona na Northwestern, diz ter visto o
interesse pelo idioma crescer. "Quando se fala em Brasil, o que vem à
cabeça são os biocombustíveis e a economia. A melhor propaganda para a
língua portuguesa é a imagem do país", afirma.
Williams acha que o aumento dessa demanda, entretanto, pode enfrentar
barreiras. "Não há muitas opções para quem quer se preparar para ser
professor de português nos EUA. Temos um boom de escolas, mas não
sabemos quem são esses professores, que preparo tiveram e o que vão
ensinar. Outro problema é o material usado. Não há, por exemplo, um bom
livro para ensino intermediário".
Marcelo Jarmendia, que comanda a escola Brazil in Chicago, diz que o
número de alunos cresceu 40%, em média, nos últimos anos, mas acredita
que o interesse só será mantido se o Brasil continuar a apresentar um
cenário econômico favorável. "O aumento se deu pela maior projeção do
país. Muitos alunos novos vieram exclusivamente procurando as
oportunidades de trabalho e de negócios que o português apresenta".
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