Constata-se a relação doentia entre Alemanha e Israel, por razões óbvias, e como Israel mantém implacavelmente a Alemanha refém de seu passado. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Durante anos, muito se conjeturou sobre a exata capacidade [militar] dos submarinos exportados pela Alemanha para Israel. Agora, especialistas dos dois países confirmaram que mísseis com ogivas nucleares foram instalados nessas embarcações. E o governo alemão há muito tempo sabe disso.
O orgulho da marinha israelense, o submarino Tekumah ["Renascimento", em hebraico], balança suavemente nas águas do Mediterrâneo no pier do porto de Haifa. O oficial encarregado dos visitantes recebe-os com um "Bem-vindo ao Tekumah. Bem-vindo ao meu brinquedo". O Tekumah havia chegado de uma missão secreta nas primeiras horas da manhã.
No interior do submarino o ar tem um cheiro meio de mofo. No meio da embarcação, o corredor se alarga e entra num centro de comando, com postos de trabalho agrupados em torno de um periscópio. Há uma fila de monitores com os nomes da Siemens, a gigante alemã da eletrônica, e da Atlas, uma empresa de eletrônica sediada em Bremen.
O "Centro de Informação de Combate", nome dado pelos israelenses ao centro de comando, é o coração do submarino, o lugar onde chega toda a informação e de onde todas as operações são direcionadas. Um monitor de vídeo aceso indica que a quilha do submarino está, no momento, a 7,5 m abaixo do nível do mar. "Isto foi todo construído na Alemanha, de acordo com especificações israelenses", diz o oficial, "assim como os sistemas de armamento". O Tekumah, com 57 m de comprimento e 7 m de largura, é uma joia de engenharia de precisão, pintada de azul e feita na Alemanha. Para ser mais preciso, é uma peça de engenharia de precisão feita na Alemanha, que tem condições de ser equipada com armamento nuclear.
Sem margem para dúvidas
Bem nos seus interiores, nos deques 2 e 3, os submarinos contêm um segredo que mesmo em Israel é conhecido por poucos: ogivas nucleares, pequenas o suficiente para serem colocadas em mísseis de cruzeiro, mas suficientemente poderosas para realizar um ataque nuclear de resultados devastadores. Esse é considerado um dos segredos mais bem guardados da história militar moderna. Qualquer um que falar abertamente sobre ele em Israel corre o risco de ser condenado a longos anos de prisão.
Uma pesquisa realizada pela Spiegel na Alemanha, em Israel e nos EUA, entre atuais e anteriores ministros de governo, autoridades militares, engenheiros de defesa e agentes de inteligência não deixa mais qualquer margem para dúvidas: com a ajuda da tecnologia marítima dos alemães, Israel conseguiu criar seu próprio arsenal flutuante de armamento nuclear: submarinos equipados com armamento nuclear.
Jornalistas nunca haviam estado antes dentro de uma dessas embarcações de combate. Embora geralmente sob condição de anonimato, numa inusitada demonstração de abertura, políticos e oficiais militares seniores de Israel estavam agora dispostos a falar sobre a importância da cooperação militar germano-israelense e o papel da Alemanha. "No fundo, é muito simples", diz o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak. "A Alemanha está ajudando a defender a segurança de Israel. Os alemães podem se orgulhar do fato de terem garantido a segurança do Estado de Israel por muitos anos ainda por vir".
Por outro lado, qualquer pesquisa ou levantamento feito em Israel [pela Spiegel ou qualquer outro] estava sujeito a censura. Citações por israelenses, assim como fotos feitas, tinham que ser submetidas aos militares. Perguntas sobre o poderio nuclear de Israel, em terra ou no mar, eram tabu. E os deques 2 e 3, onde o armamento é mantido, permaneciam vedados a visitantes.
Na Alemanha, a assistência militar do governo ao programa de submarinos de Israel tem sido polêmica por pelo menos 25 anos, e um tema de discussão para a mídia e o parlamento. A chanceler Angela Merkel receia o tipo de debate público que o Prêmio Nobel de literatura [alemão] Günter Grass recentemente reacendeu, com um poema de críticas a Israel. Merkel insiste na confidencialidade e não quer que os detalhes dos entendimentos sejam feitos públicos. Até hoje, o governo alemão mantém sua posição de que não sabe de nada a respeito de um programa de armamento nuclear de Israel.
"Objetivos do poderio nuclear"
(cont.)
Capa da edição impressa de 4 de junho da revista Der Spiegel, que tem como artigo de capa a reportagem traduzida nesta e nas postagens seguintes. O título na capa diz: "Operação secreta Sansão - Como a Alemanha amplia o poderio nuclear de Israel" - (Foto: Spiegel Online).
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