sábado, 30 de junho de 2012

Quantos Itamaratys tem o Brasil?

Relembremos dois filmes que estão passando em nossas telas:

Filme 1 - Conflito armado na Síria -- Há cerca de ano e meio o governo do ditador sírio Bashar al-Assad vem massacrando seus opositores, a carnificina já contabiliza mais de 3.000 mortos, incluindo civis, mulheres e crianças. O Ocidente, através de seus principais países, defende sanções mais duras contra Assad que poderiam, no limite, levar a uma intervenção militar mais ou menos nos moldes do que se fez na Líbia. No Conselho de Segurança da ONU, China e Rússia são contra qualquer ação militar. Adivinhem quem mais é contra esse tipo de ação? Acertou quem disse Brasil. Para defender essa posição, o Itamaraty usa, p'ra não perder o costume, um arrazoado chocho, mesmo depois de a ONU ter caído no ridículo por insistir também nessa tecla e ser solenemente ignorada pelo regime sírio. Enquanto isso, continua o massacre promovido por Bashar al-Assad.

Filme 2 - Presidente do Paraguai é destituído pelo Congresso do país -- Numa arrancada de apenas uma sessão plenária, no melhor estilo Blitzkrieg, o congresso paraguaio aprovou o impeachment do presidente Fernando Lugo e empossou seu vice-presidente constitucional. O ritual pode ter sido sumário, mas cumpriu rigorosamente o que determina a Constituição paraguaia. Qual foi a reação do Brasil, via Itamaraty? Sanções diplomáticas imediatas contra o Paraguai, expulsando-o temporariamente do Mercosul e da Unasul, e ameaças de possíveis sanções econômicas de nossa parte.

Por que o mesmíssimo Itamaraty não adotou, com o Paraguai, a mesma insistente posição de diálogo que há mais de ano assumiu com relação à Síria? Por que um vizinho fronteiriço com o qual temos relações estreitas e conturbadas -- principalmente por causa de Itaipu -- merece a borduna em vez do papo, e a Síria não? Que diplomacia é essa?! Resolvemos dar uma de Golias raivoso contra um Davi vizinho, em vingança contra reiteradas chantagens que os paraguaios nos têm feito ao longo dos tempos?  Por que o Itamaraty não deu o mesmo tratamento à Síria -- falta de coragem? Ou, além disso, foi outra daquelas pirracinhas juvenis, no caso sírio, de assumir mais uma vez posição contrária aos EUA?

O Itamaraty tem sido reiteradamente frouxo com nossos vizinhos sul-americanos,  fronteiriços ou não, que vivem nos fazendo de palhaços e saco de pancada, inclusive o Paraguai, que transformou Itaipu numa inesgotável fonte de chantagens e receita extra, contra os nossos interesses. E aí, de repente, resolve dar uma de "durão" com os nossos "hermanos" paraguaios -- qual é a jogada da nossa diplomacia camaleônica? Por que o soft power com a Síria e o hard power contra o Paraguai?


Cercado de alguns péssimos espécimes de governos da região, como Hugo Chávez, Evo Morales e Cristina Kirchner, o Brasil dá uma de líder de araque e comete ao menos duas contradições: se nega a dar ao novo governo paraguaio o mesmo direito amplo de defesa que reclama ter sido negado a Fernando Lugo; -- aproveita a suspensão temporária do Paraguai para, açodada e injustificavelmente, apoiar e promover a admissão plena da Venezuela no Mercosul, impedida até então pela oposição do Paraguai a essa admissão.

Nos moldes em que se deu, a entrada da Venezuela no Mercosul como seu membro pleno é uma vergonha para essa "instituição" e desclassifica de vez o Brasil e sua diplomacia como lideranças que mereçam qualquer respeito -- e avacalha de vez com o Mercosul.  A barganha ficou tão indecorosa -- suspende-se o Paraguai por dez meses e, rapidinho, admite-se a Venezuela -- que ficou parecendo armação de adolescentes, mantendo como refém um dos donos da casa enquanto facilitam a entrada do Ricardão nos seus aposentos ...

Em 10 de fevereiro de 2012 o Itamaraty comemorou o centenário da morte de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, patrono da nossa diplomacia. Quatro meses depois, ele enxovalha o nome de seu paradigma com essa operação casada no Mercosul, uma autêntica jogada de mafiosos.

PS - Respondendo, em parte, a pergunta-título da postagem, digo que é difícil saber quantos Itamaratys temos no país, pois  essa é uma equação de no mínimo duas variáveis: o humor da nossa ex-guerrilheira, Dª Dilma, e a flexibilidade da coluna dorsal do chanceler da vez. Mas, uma coisa é certa e simples: desde o governo de Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata (NPA), o Brasil tem tido dois chanceleres, caso único no mundo: o de punhos de renda (hoje chamado Patriota, por uma fantástica ironia do destino) e um Sr. Marco Aurélio Garcia, que em países e governos mais sérios seria no máximo segurança de cabaré mas, no Brasil, por obra e graça do NPA e do PT, virou chanceler n° 2.

Um comentário:

  1. Amigo Vasco,

    É mesmo lastimável a situação do país. Parece-me que a quantidade de vítimas na Síria já chega a casa dos 10.000 ! Quanto a situação do Mercosul, você já disse tudo. Isso é mais que umm atentado a democracia, mas para os esquerdopatas os fins sempre justificam os meios, mesmo que seja preciso vender a própria mãe. Resta-nos aguardar, porque com esse tipo de povinho nosso, nada podemos esperar ...Tenha um excelente final de semana. Abs

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