domingo, 17 de junho de 2012

América Latina busca US$ 250 bilhões para obras de infraestrutura

A América Latina busca US$ 250 bilhões por ano para projetos de infraestrutura. Esta é a cifra necessária para cobrir o enorme deficit que a região tem em rodovias, estradas de ferro, redes elétricas e comunicações. "Esse gap exige que se invista pelo menos o dobro do que já se fez, tanto em investimento público como privado", segundo Enrique García, presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) [a sigla CAF vem do nome original dessa instituição, que era "Corporación Andina de Fomento" e que, de início, não abrangia a totalidade da região -- seu capital é US$ 10 bilhões, o que o deixa com condições mínimas, ou nulas, para financiar nossas necessidades; só para dar uma ideia, o BNDES desembolsou R$ 34,2 bilhões (ou seja, cerca de US$ 17 bilhões) entre janeiro e abril deste ano, com crescimento de 1% na comparação com o mesmo período de 2011:

 Desembolsos anuais do BNDES - Fonte: BNDES (clique na imagem para ampliá-la).

Somente em abril último, as liberações de empréstimos do BNDES somaram R$ 9,7 bilhões (quase US$ 10 bi, que é o capital do banco CAF), valor 10% acima do desembolsado pelo Banco em igual mês do ano passado. As consultas subiram 36% na comparação mensal, puxadas pela infraestrutura (sobretudo transporte ferroviário e energia elétrica) e já refletindo, em parte, a redução de juros e a ampliação de prazos do Programa BNDES de Sustentação do Investimento (BNDES PSI), adotadas naquele mês.]

Buscar preencher essas lacunas é uma oportunidade para as construtoras espanholas [observar que este texto que traduzo é do jornal espanhol El País], que buscam desesperadamente novos mercados em decorrência do desabamento das licitações de obras públicas e do setor imobiliário na Espanha. Mas, com o ambiente ainda escaldado com as recentes expropriações sofridas pela Repsol na Argentina  e por Red Eléctrica na Bolívia, as empresas querem segurança para seus investimentos.  "É necessário criar um novo marco legal, para que as administrações públicas e a iniciativa privada tenham a segurança de que serão cumpridas as condições dos projetos", afirmava a ministra de Fomento, Ana Pastor, em um fórum sobre infraestrutura na América Latina realizado em fins de maio em Madri. "Um financiamento a longo prazo e na moeda local seria o ideal, enquanto que o prazo de amortização deveria coincidir com a vida útil da infraestrutura", segundo ela.

Enquanto os ministros latino-americanos de Fomento se reuniam com Pastor na Espanha, para preparar a próxima Cúpula Ibero-Americana em Cádiz, que se realizará em novembro, o governo de Puebla (México) anunciava sua decisão de revogar a concessão dada à empresa espanhola OHL para explorar uma autoestrada. As obras deviam começar em maio passado [a OHL detém a concessão de várias rodovias brasileiras].

Apesar de tudo isso, a região tem um atrativo difícil de ignorar, porque é uma das poucas cuja economia cresce apesar da crise internacional, pelo menos por enquanto. "Os últimos anos foram os melhores em termos macroeconômicos. Mas, é preciso crescer a mais de 6% e para isso são necessárias reformas para um modelo mais competitivo e as infraestruturas são uma das chaves para isso", segundo o presidente do CAF. 

Porém, com o dinheiro público e os empréstimos dos organismos multilaterais não há recursos suficientes para cobrir a demanda de projetos, razão pela qual a colaboração da empresa privada é fundamental. "Para investir fora, as empresas necessitam de uma alta capacidade técnica, de capacidade financeira, de uma boa reputação nos mercados financeiros e de uma implantação local", disse o presidente de Acciona, José Manuel Entrecanales, que não foi o único a ser atraído pela possibilidade de fazer negócios na América Latina. Empresas como ACS, OHL e Ferrovial, entre outras, estiveram presentes, muitas já com negócios na região. "Para investir são necessárias a estabilidade política e a segurança legal", insistiu Antonio García Ferrer, vice-presidente da ACS.

O Brasil constitui um dos destinos mais atraentes para os empresários (é o quarto do mundo, atrás de China, EUA e Índia). A potência emergente cresceu a um ritmo anual superior a 4% na última década. O país lançou em 2011 um plano de investimentos de US$ 477 bilhões para impulsionar o crescimento até 2014. Esse programa inclui projetos para estradas (uns US$ 25 bilhões), estradas de ferro (US$ 23 bilhões, sobretudo para linhas de alta velocidade, cuja concessão será aberta no segundo semestre de 2012 [os espanhóis estão caindo no conto do nosso trem-bala ...]) e aeroportos (US$ 11 bilhões).

O Chile é outro país com potencial. Contrariamente ao que ocorre na Espanha, a construção está crescendo a um ritmo de 9% ao ano nesse país sul-americano, frente aos 4% da economia chilena como um todo. "O investimento em infraestrutura agora monta a 3% do PIB, mas se necessita de algo entre 5% e 6%", explica Gastón Escala, presidente da Câmara Chilena da Construção. Se, como se prevê, o país investir o que é necessário, o montante acumulado atingirá os US$ 100 bilhões em 2018.

2 comentários:

  1. Amigo VASCO:
    Em se tratando de América Latina (ou LATRINHA, como querem alguns), tal significa ter mais dinheiro para financiar a corrupção que é endêmica nessas regiões.
    Há um comentário importante nom texto que ressalvo abaixo:
    "Um financiamento a longo prazo e na moeda local seria o ideal, enquanto que o prazo de amortização deveria coincidir com a vida útil da infraestrutura", segundo ela".
    Esse prazo de amortização são custos que se refletirão nas tarifas, se forem obras públicas, na forma de depreciação ao longo da vida útil do bem financiado. Normalmente, são de prazo longo,envolvendo até algumas dezenas de anos, dependendom da obra.
    Quem paga essa parcela? O CONTRIBUINTE, através do recolhimento de impostos.
    O que se observa, por essas bandas, é que o montante "emprestado" já sofre de algumas "deduções" seja na origem ou na "aplicação" dos recursos.
    NUNCA tais valores serão integralmente aplicados nessas obras de infraestrutura.
    Tome-se, por exemplo, o BNDES. Ele não tem DINHEIRO. o dinheiro é do Tesouro Nacional.
    O banco empresta, e quem recebe o empréstimo, compra bens e serviços para realizar seus empreendimentos. Sobre essas ações, incidem impostos, que são recolhidos, quase na totalidade, para o Tesouro Nacional. Então, é um bom negócio "emprestar" dinheiro público; ele sempre volta, e quem se ferra é a POPULAÇÃO que paga duas vezes.
    Não tem jeito. Não há luz no fim do túnel.
    Abraços - LEVY

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  2. Correção

    Errei no cálculo em dólar do desembolso do BNDES em abril. Ao câmbio que usei no texto (R$2,00/dólar), esse desembolso foi de cerca de US$ 5 bi (e não US$ 10 bi como escrevi), praticamente a metade do capital do CAF. Peço desculpas aos leitores por esse engano.

    Abs,

    Vasco

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