A sede central de ExxonMobil em Irving, Texas, é conhecida por seus empregados como a Estrela da Morte, a maligna estação espacial da Guerra das Galáxias que pode destruir um planeta com só raio. Uma comparação exagerada? Pode ser que não. Segundo o escritor e jornalista Steve Coll, duas vezes ganhador do prêmio Pulitzer, a ExxonMobil é "um Estado empresarial dentro do Estado americano" que, como todas as nações soberanas, "tem suas próprias regras de política exterior". "Às vezes seus interesses correspondem aos dos Estados Unidos, às vezes se opõem a eles e outras vezes, simplesmente tentam ficar fora do caminho caminho", afirma Coll em uma entrevista concedida à cadeia de rádio pública dos EUA, a NPR (National Public Radio).
Lee "Iron Ass" (CDF - Cu de Ferro) Raymond presidiu a Exxon com mão firme de 1993 a 2005 -- ano em que se aposentou com um pacote de aposentadoria de cerca de US$ 400 milhões, o maior na história de uma empresa americana. No livro "Império Privado" (Private Empire), Coll expõe ao longo de quase 700 páginas, alimentadas com mais de 400 entrevistas e informações provenientes de muitas fontes, o enorme poder concentrado pela que é hoje a maior empresa do mundo, e que quando não tinha esse recorde -- conquistou-o na semana passada, desbancando a Wal-Mart -- foi suficientemente hábil para estar sempre, nos últimos 60 anos, entre as empresas mais lucrativas do país.
Raymond é um grande amigo do vice-presidente Dick Cheney e um cético quanto às mudanças climáticas. Durante seu mandato, a Exxon financiou campanhas para desafiar a ciência emergente com relação a tais mudanças -- especialmente no tocante às conclusões de que existe uma tendência para o aquecimento global. "Isso não apenas utilizou algumas das táticas que a indústria do fumo tem usado para retardar a compreensão pública do risco de fumar -- em alguns casos houve até sobreposições de pessoas e grupos engajados nessa campanha de comunicação", diz Coll. "Muitas corporações americanas se opuseram aos acordos de Kyoto, mas apenas um pequeno grupo delas fez como a Exxon, que foi "caçar" a ciência agressivamente. Coll diz que a campanha ajudou a gerar confusão e uma eterna controvérsia sobre mudanças climáticas.
A campanha criou na mídia e no público uma impressão de que havia uma controvérsia violenta e profunda entre os cientistas, e na realidade não havia isso, pelo menos depois de 2002, quando as dúvidas desapareceram face às evidências", diz Coll. "Foram as evidências, a modelagem e até mesmo a própria ciência que a Exxon estava arrastando para dúvida que, gradualmente, se tornaram mais e mais alarmantes e atrairam mais e mais apoio dentro da comunidade científica", diz ainda Coll. Mas, diz ele ainda, enquanto a Exxon atacava publicamente o aquecimento global, geólogos dentro da empresa analisavam como uma Terra mais quente -- resultante do aquecimento global -- poderia criar novas oportunidades de negócios para a empresa.
A Exxon se fundiu com a Mobil em 1999, e descende diretamente da companhia de petróleo de John D. Rockefeller. Com o rótulo de ser uma das empresas mais secretas do mundo, a ExxonMobil vem há décadas fazendo complicadas acrobacias morais e de poder em países tão diversos como Chad, Indonésia, Guiné Equatorial, Venezuela e a Rússia de Vladimir Putin para ter suas reservas de petróleo. A geopolítica é o livro de cabeceira dos executivos da ExxonMobil, já que, para serem rentáveis, suas operações abrangem períodos de tempo grandes -- pelo menos 40 anos, para que o investimento se compense na hora de explorar e vender o petróleo e o gás -- para o quê se faz necessário conhecer todos os gabinetes onde se movimentam os fios do poder nas altas esferas internacionais.
Como Coll explica bem em seu livro, fazer negócios durante tantos anos em projeção é complicado nos EUA, já que nesse período de tempo haverá 10 administrações com pelo menos seis presidentes distintos com os quais será preciso negociar, ou não. Para quem quer ler nas entrelinhas, fica claro que quando Steve Coll diz que a ExxonMobil nunca viola a lei é porque é ela que a dita.
São necessários ainda mais malabarismos para se estabelecer em países com uma ditadura, suscetíveis de viver uma revolução que acabe num banho de sangue, e fazer com que as jazidas continuem operando e cuspindo petróleo para alimentar o lucrativo negócio. A ExxonMobil não só conseguiu isso ao longo de toda sua história, como suas receitas anuais -- 362 bilhões de euros (US$ 450 bilhões) -- superam o PIB da maioria dos países em que opera.
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