[Ver postagem anterior .]
Parte IV
Os primeiros submarinos são montados secretamente na Inglaterra
É de se esperar que um país que tem a bomba busque um lugar seguro para guardá-la e uma plataforma segura para lançá-la -- um submarino, por exemplo.
Nos anos 1970, Brandt e Schmidt foram os primeiros chanceleres alemães a serem confrontados com a determinação dos israelenses em obter submarinos. Três dessas embarcações seriam construídas na Grã-Bretanha, usando projeto feito pela empresa alemã Industriekontor Lübeck (IKL). Mas, era necessária uma autorização de exportação para enviar os documentos correspondentes para fora do país. Para contornar isso, a IKL acordou com o ministro da Defesa alemão que os desenhos seriam finalizados com a logomarca de um estaleiro britânico, e enviados em um avião inglês para a cidade inglesa de Barrow-in-Furness, onde os submarinos foram construídos.
Assegurar a segurança de Israel não era mais o único objetivo da cooperação germano-israelense sobre armamento, que já havia se tornado um negócio lucrativo para a indústria da Alemanha Ocidental. Em 1977, os três últimos submarinos chegaram a Haifa. Na época, ninguém pensava na capacidade de revide nuclear. Não foi senão no início dos anos 1980, quando mais e mais oficiais israelenses estavam retornando de academias militares americanas e empolgando-se com os submarinos americanos, que teve início uma discussão sobre a modernizaçãoda marinha israelense -- e sobre a opção nuclear.
Uma disputa por poder grassava entre os militares israelenses na época. Duas equipes de planejamento estavam desenvolvendo estratégias diferentes para a marinha do país. Um grupo defendia novos e maiores barcos de mísseis Sa'ar 4, enquanto o outro grupo queria que Israel, em vez disso, comprasse submarinos. Israel era "um país pequeno, onde 97% de todas as mercadorias chegam por água", disse Ami Ayalon, o vice-comandante da marinha na época, que mais tarde se tornaria o chefe da agência de inteligência interna de Israel, a Shin Bet.
Profundidade estratégica
Mesmo então, estava se tornando evidente, segundo Ayalon, "que no Oriente Médio as coisas estavam se encaminhando para as armas nucleares", especialmente no Iraque. O fato de que os estados árabes estivessem seriamente interessados em construir a bomba, mudou a doutrina de defesa de Israel, diz ele. "Um submarino pode ser usado como uma arma tática para várias missões, mas no centro de nossas discussões nos anos 1980 estava a questão sobre se a marinha devia receber uma nova tarefa conhecida como profundidade estratégica", diz Ayalon. "Comprar os submarinos era a estratégia mais importante do país".
Profundidade estratégica. Ou seja, capacidade de revide nuclear.
Ao final do debate, a marinha especificou como seus requisitos nove corvetas e três submarinos. Era uma "demanda megalomaníaca", como admite hoje Ayalon, que mais tarde se tornaria o comandante-em-chefe da marinha. Mas, os estrategistas tinham esperanças de um milagre orçamentário. Alternativamente, estavam esperançosos de que um rico beneficiário estivesse disposto a dar a Israel alguns submarinos.
KOHL E RABIN TRANSFORMAM ISRAEL EM UMA MODERNA POTÊNCIA SUBMARINA
Os dois homens que, finalmente, catapultaram Israel para o círculo das potências submarinas modernas foram Helmut Kohl e Yitzak Rabin. O pai de Rabin havia lutado na Segunda Grande Guerra como voluntário na Legião Judia do exército britânico, e o próprio Rabin liderara o exército israelense para a vitória, como seu chefe de staff, na Guerra dos Seis Dias em 1967. Em 1984, tendo atuado como primeiro-ministro em meados dos anos 1960, ele foi deslocado para o gabinete e tornou-se ministro da Defesa.
Rabin sabia que o governo alemão havia introduzido novos "princípios políticos" para as exportações de armas em 1982. De acordo com essa nova política, embarques de armas "não poderiam contribuir para um aumento em tensões existentes". Esse palavreado maleável possibilitou o fornecimento de submarinos para Israel, especialmente em combinação com uma observação famosa feita uma vez pelo ex-ministro do Exterior, Hans Dietrich Genscher: "Tudo que flutua é OK" -- porque governos geralmente não usam embarcações para reprimir demonstrações ou forças da oposição.
Após a Segunda Grande Guerra, os Aliados inicialmente proibiram a Alemanha de construir submarinos grandes. Como consequência, o principal fornecedor da marinha alemã, Howaldtswerke-Deutsche Werft A.G. (HDW), localizado na cidade de Kiel, no norte do país, mudou seu foco para barcos pequenos e manobráveis, que poderiam operar também no Báltico e no Mar do Norte. Os israelenses estavam interessado em barcos que pudessem navegar em águas analogamente rasas, como aquelas ao longo da costa libanesa, onde têm que ser capazes de ficar em profundidade de periscópio, ouvir comunicações de rádio e comparar os sons de propulsores de navios com uma base de dados a bordo. Os israelenses receberam propostas dos EUA, Grã-Bretanha e Holanda, mas "os barcos alemães eram os melhores", diz um israelense que esteve envolvido na decisão.
Poucas semanas depois da queda do muro de Berllim, em 1989, o governo alemão, praticamente sem ser notado pelo público em geral, deu o sinal verde para a construção de dois submarinos da classe "Dolphin" [golfinho], com uma opção para uma terceira unidade. Mas, o negócio estratégico do século quase não foi fechado. Embora os alemães tivessem concordado em pagar parte dos custos, isso excluia explicitamente os sistemas de armamento -- esperava-se que os americanos pagassem também uma parcela. Mas, nesse meio tempo os israelenses haviam eleito um novo governo, que estava grandemente dividido sobre os investimentos.
"Um cenário inconcebível"
Em especial Moshe Arens, que foi nomeado ministro da Defesa em 1990, lutou contra para interromper o acordo -- e teve êxito. Em 30 de novembro de 1990, Israel notificou o estaleiro em Kiel que desejava sair do contrato.
Era o fim da capacidade de revide nuclear? De jeito nenhum.
Em janeiro de 1991, a força aérea americana atacou o Iraque, e então o ditador iraquiano Saddam Hussein reagiu disparando mísseis Scud modificados contra Tel Aviv e Haifa. O bombardeio durou quase seis semanas. Máscaras de gás, algumas delas vindas da Alemanha, foram distribuídas para a população. "Era um cenário inconcebível", lembra Ehud Barak, o atual ministro da Defesa de Israel. Durante aqueles dias, chegaram imigrantes judeus da Rússia, e "tínhamos que dar-lhes máscaras no aeroporto, para protegê-los contra foguetes que os iraquianos haviam construído com a ajuda dos russos e dos alemães".
Poucos dias depois do início do bombardeio com mísseis Scud, um oficial alemão solicitou uma reunião na Chancelaria, apresentou um relatório secreto e despejou sobre uma mesa o conteúdo de uma pasta. Ele espalhou dezenas de peças eletrônicas, componentes de um sistema de controle e o fusível de percussão dos mísseis Scud modificados. Eles tinham uma coisa em comum: eram feitos na Alemanha. Sem a tecnologia alemã não teria havido Scuds, e sem Scuds não teria havido israelenses mortos.
Uma vez mais, a Alemanha tinha parte da responsabilidade, e foi essa também a mensagem que Hanan Alon, um alto funcionário do ministério da Defesa israelense, levou para Kohl durante uma visita a Bonn pouco depois que a guerra começou. "Seria desagradável se viesse à tona, através da mídia, que a Alemanha ajudou o Iraque a fazer gás venenoso e então nos forneceu o equipamento contra isso, Sr. Chanceler", disse Alon. Segundo autoridades israelenses, Alon fez também uma ameaça aberta, dizendo: "O Sr. está certamente ciente de que as palavras gás e Alemanha não soam bem juntas".
(cont.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário