[Vejam a postagem com a primeira parte do artigo.]
Parte II
"Objetivos do poderio nuclear"
Mas, agora, ex-autoridades alemãs de alto escalão admitem, pela primeira vez, a dimensão nuclear [do programa]. "Presumi, desde os primeiros momentos, que os submarinos eram previstos para ter poderio nuclear", diz Hans Rühle, chefe da equipe de planejamento do Ministério da Defesa alemão no final dos anos 1980. Lothar Rühl, um ex-secretário-executivo nesse Ministério, disse que nunca duvidou que "Israel instalava armas nucleares nos navios". E Wolfgang Ruppelt, o diretor de compras de armamento no mesmo Ministério na fase principal [do programa], admite que foi imediatamente claro para ele que Israel queria os submarinos "como transportadores de armas do tipo que um país pequeno como Israel não pode armazenar em terra". Funcionários alemães do alto escalão, falando sob a proteção do anonimato, foram ainda mais explícitos. "Desde o início, as embarcações foram utilizadas fundamentalmente com o objetivo de poderio nuclear", disse um funcionário de ministério com conhecimento do assunto.
Pessoas bem informadas dizem que a empresa israelense Rafael, de tecnologia de defesa, fabricou os mísseis para a opção nuclear. Aparentemente, isso envolve um desenvolvimento mais amplo do míssil de cruzeiro do tipo Popeye Turbo SLCM, que se supõe ter um alcance de cerca de 1.500 km e que poderia atingir o Irã com uma ogiva pesando até 200 kg. O desenvolvimento desse míssil é um projeto complexo, e a única manifestação pública envolvendo-o foi um único teste feito pelos israelenses ao largo da costa do Sri Lanka.
Os submarinos são a resposta militar às ameaças em uma região "onde não há misericórdia para os fracos", diz o ministro da Defesa israelense, Ehud Barak. Eles são uma estratégia de segurança contra o temor fundamental dos israelenses de que "os árabes possam nos chacinar amanhã", como disse uma vez Ben-Gurion, o fundador do Estado de Israel. "Nunca mais seremos conduzidos à matança como ovelhas", foi a lição que ele e outros aprenderam de Auschwitz. Equipados com armas nucleares, os submarinos são um sinal para todo e qualquer inimigo de que o o Estado de Israel por si só não seria totalmente indefeso na ocorrência de um ataque nuclear, mas poderia revidar com o que há de mais sofisticado e eficiente em termos de armamento de retaliação. Os submarinos são "um meio de garantir que o inimigo não fique tentado a atacar preventivamente com armas não convencionais e escape impune", afirma o almirante israelense Avraham Botzer.
Questões de responsabilidade política global
Nessa versão de pagar na mesma moeda, conhecida como capacidade nuclear de revide, centenas de milhares de mortos são vingados com um número igualmente grande de perdas. É uma estratégia que os EUA e a Rússia [União Soviética] utilizaram durante a Guerra Fria, mantendo constantemente em submarinos parte de seu arsenal nuclear pronta para uso. Para Israel, um país que tem mais ou menos o tamanho do estado alemão de Hesse, que pode ser dizimado com um ataque nuclear, proteger-se contra esse risco potencial é vital para sua própria existência. Ao mesmo tempo, o arsenal nuclear faz com que países como Irã, Síria e Arábia Saudita vejam com medo o poderio nuclear de Israel, o invejem e passem a cogitar de produzir suas próprias armas nucleares.
Para a Alemanha, isso torna da maior relevância a questão da sua responsabilidade política global. À Alemanha, o país dos que cometeram crimes, deve ser permitido ajudar Israel, o país das vítimas, no desenvolvimento de um arsenal de armas nucleares capaz de extinguir centenas de milhares de vidas humanas? [Esta pergunta é crucial!] - Estaria Berlim, imprudentemente, promovendo uma corrida armamentista no Oriente Médio? Ou a Alemanha deveria, como sua obrigação histórica oriunda dos crimes dos nazistas, assumir uma responsabilidade que se tornou "parte da razão de ser da Alemanha como estado", como disse a chanceler Merkel em um discurso ante o parlamento israelense, o Knesset ["assembleia", em hebraico], em março de 2008? "Isto significa que, para mim como chanceler, a segurança de Israel jamais é negociável", disse ela aos legisladores israelenses.
Os perigos dessa solidariedade incondicional foram abordados pelo novo presidente da Alemanha, Joachim Gauck, durante sua primeira visita oficial a Jerusalém nessa terça-feira: "Não quero imaginar nenhum cenário que possa deixar a chanceler em tremendas dificuldades, quando ela tiver que implementar politicamente sua afirmativa de que a segurança de Israel é parte da razão de ser da Alemanha como estado".
O governo alemão sempre seguiu uma regra não escrita sobre sua política em relação a Israel, que dura já meio século e sobreviveu a todas as mudanças de administração, e que o ex-chanceler Gerhard Schröder resumiu uma vez em 2002 quando disse: "Quero ser bem claro: Israel receberá o que necessitar para manter sua segurança".
(cont.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário