sábado, 23 de junho de 2012

Bando em Brasília planeja novo assalto aos cofres do país

Imaginem uma organização poderosa, com mais de 500 membros que gozam de imunidades e, por conta disso -- e, também, muito por índole própria --  inúmeros deles cometem transgressões as mais diversas com o mar de regalias a que têm direito, outros transformam seus mandatos em balcão para negociar em dinheiro suas emendas, inúmeros respondem a processos na justiça, etc, etc, e, na hora em que qualquer deles, por uma "mancada" qualquer, vai a julgamento interno por quebra de "decoro", praticamente a organização inteira covardemente se esconde atrás do voto secreto para julgá-lo e via de regra absolvê-lo. E esse pessoal trabalha em conluio, unha e carne, com uma outra organização também poderosa, embora muito menor (pouco mais de 80 membros), que padece dos mesmíssimos vícios, reza pela mesmíssima cartilha obscena e procede exatamente com o mesmo corporativismo e a mesma pusilanimidade para se autoproteger.

Não bastasse isso, esses dois bandos recorrentemente ainda utilizam de seus poderes para chantagear e retaliar de maneira ignóbil, via seu governo, o país que os abriga e sustém, adotando coletivamente medidas completamente aéticas e prejudiciais ao povo e aos cofres desse país, assim que seus próprios interesses mesquinhos e mercenários são contrariados.

Não, se engana quem pensa que estou falando da Camorra ou da Cosa Nostra. A organização maior chama-se Câmara dos Deputados e a menor, Senado Federal, ambas com sede em Brasília e compõem o chamado "Congresso Nacional". A disputa entre ambas é acirradíssima, para ver qual faz mais e pior contra os interesses do país e melhor em benefício próprio. Mas, volta e meia percebe-se claramente um conchavo de bastidores entre elas para alternar a posição de destaque na produção de pilantragens e safanagens.

No sistema de rodízio, quem ocupa o palco agora é a Câmara dos Deputados. Como estamos em ano eleitoral e o governo de Dª Dilma anda pisando nos calos de seus membros, rompendo com várias práticas de fisiologismo político explícito -- o que absolutamente não significa que esse governo seja um mar de castidade e santidade -- eles resolveram ao mesmo tempo retaliar a ex-guerrilheira e fazer demagogia eleitoreira, aprovando Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com os tetos salariais e outras amarras que impedem aumentos indiscriminados de salários no funcionalismo público. Os membros dessa organização denominada "Câmara dos Deputados" certamente estão exultantes, pois o governo imediatamente acusou o golpe: isso cria sérios problemas para as contas públicas, estamos em momento de crise, isso é uma péssima sinalização para a Previdência, e não é possível calcular o impacto que a aprovação da nova PEC teria sobre as contas públicas, porque ela abre possibilidades infinitas de aumentos. Beleza!! Há problemas? O governo e o país que se virem.

Como sói acontecer neste patropi, terra da "lei do Gerson", os membros da organização "Câmara" demonstraram mais uma vez que, a exemplo dos que lhes são parelhos em outras camadas da sociedade, são ardilosos, malandros (em todos os sentidos), espertalhões, descarados, ladinos e, sobretudo, reiteradamente, covardes, pois aprovaram a PEC numa semana em que o Congresso estava esvaziado por causa da Rio+20 e das festas juninas (que são de especial importância para os deputados nordestinos). Essa PEC nefasta tem ainda outras características especialíssimas, que a assemelham a um documento emitido por organizações que grassavam em certas áreas do Rio antes da introdução das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora): retira o poder da Presidência da República de definir o maior salário pago pela administração, e vincula o aumento de parlamentares a aumentos de ministros do Supremo.

O conchavo entre as duas organizações, "Câmara" e "Senado" está perfeito e acabado. Por razões permitidas por nossa Constituição, essa PEC é imune a qualquer veto presidencial e, para entrar em vigor, basta apenas ser aprovada nos plenários dessas duas "casas" (só se forem da mãe Joana ...).

Esses dois bandos nos deram mais um tapa na cara, como diz o colunista da Folha de S. Paulo, Gilberto Dimenstein. Quase 200 milhões de pessoas ficam reféns de 600 e poucos indivíduos -- se a maioria desse bando comprovar sua vocação para a imoralidade, a ignomínia e a insanidade cívica, voltaremos a ser o reino dos grandes marajás, os parlamentares ganharão ainda mais para nos ferrarem com um sorriso safado nos lábios, continuaremos a ser milhões de idiotas que insistem em eleger esse tipo de gentalha e o Brasil continuará sua sina inglória e desgraçada de ter um Congresso de quinta categoria, que não merece o mínimo respeito.

2 comentários:

  1. Grande Vascaíno,
    Seus comentários estão absolutamente corretos.
    O pior da história é que, infelizmente, são os quase 200 milhões que elegem estes 600 e poucos indivíduos.
    Mais uma vez recaímos naquela antiga tese de que só conseguiremos sair desta arapuca quando o povo for educado.

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