Angela Merkel é aplaudida de pé, em um ambiente digno de um estádio de futebol. Suas propostas intransigentes para defender a Alemanha de acusações de que ela foi objeto geraram aplausos calorosos diante da Federação de empresas familiares. Seus conceitos, destinados a aglutinar seu eleitorado e, ao mesmo tempo, acalmar os fervores estrangeiros, agradaram em cheio. Sobretudo quando se tratou de contestar dura e francamente aqueles que se arvoram a dar lições, a França e os Estados Unidos principalmente, culpáveis aos olhos da chanceler por querer relançar o "crescimento à força". "Há um falso debate entre o crescimento e o rigor orçamentário, não importa quem o faça", fulminou a chanceler com uma desenvoltura que não lhe é costumeira e que traía sua exasperação. A palavra "Quatsch" que ela utilizou pode ser também traduzida como "tolice, disparate". - "E a mediocridade não pode tornar-se o padrão" na zona do euro, se enfureceu Merkel, muito aplaudida.
A Alemanha se vangloria de ser o único país gerador de crescimento e, por conta disto, o único polo de estabilidade na Europa. Mirando Paris, Merkel convidou a Europa a comparar os custos trabalhistas e os desempenhos econômicos dos dois lados do Reno. O crescimento do PIB da Alemanha no primeiro trimestre (0,6%) equivale ao crescimento previsto para a França no ano inteiro.
Visivelmente agastada com as acusações proferidas pelo primeiro-ministro francês Jean-Marc Ayraul que, não obstante ser considerado um conhecedor da Alemanha, numa resposta inusitadamente rude lhe fez também um convite a "não se deixar levar por fórmulas simplistas", Merkel jogou mais pedras contra Hollande. Ela bombardeou a ideia francesa dos eurobônus, fazendo menção a "não se fazer da mediocridade o padrão" e, dirigindo-se mais aos EUA, enfatizou que "todo mundo deve parar de financiar o crescimento com novas dívidas". A uma semana da reunião informal prevista entre Merkel, Monti, Hollande e Rajoy em Roma, parece inviável que eles cheguem a uma posição comum com vista à reunião de cúpula em Bruxelas no final deste mês de junho.
Nos seus esforços para aglutinar os partidários do crescimento, Hollande se reuniu primeiro com a oposição social-democrata alemã, e em seguida com Mario Monti, para mostrar suas "convergências". Merkel se aproveitou disso para denunciar a "falta de solidariedade europeia".
Berlim se sente perseguida
Submetida a pressões crescentes vindas do exterior, a chanceler quis mostrar as contradições dos acusadores. A dois dias da reunião de cúpula go G-20 no México, ela remeteu seus acusadores às suas responsabilidades na deflagração da crise presente [espero que a ilustre chanceler alemã não esteja atacada de amnésia seletiva e esqueça a gigantesca responsabilidade da Alemanha na má formação da zona do euro, nascente de todos os problemas hoje enfrentados pela UE (União Europeia)]. O presidente Obama, à testa de um país dopado pelo crescimento baseado no crédito [epa, Dª Dilma vai ficar pau da vida com Dª Angela quando souber que a "dama de ferro" alemã critica o modelo escolhido pela nossa ex-guerrilheira!], não apresenta resposta aceitável aos olhos da chanceler. Por longo tempo acusada de imobilismo, a Alemanha absorve mal, e cada vez pior, as pressões, considerando que propõe soluções viáveis para acabar com a crise [o problema é o conceito de "viáveis" dos alemães ...]. O documento de oito páginas publicado no mês passado pela Chancelaria alemã, visando a uma maior integração europeia, não teve repercussão. E sem que os esforços financeiros para extinguir os incêndios nos quatro cantos da Europa sejam reconhecidos e aclamados. Principal país contribuidor do fundo de solidariedade europeu (FESF), a Alemanha teve sua participação ampliada com a defecção da Espanha e, a partir de agora, já chega ao percentual de 33%. Os editoriais espanhóis, gregos ou italianos acusando a Alemanha de egoismo são vistos como sendo no mínimo uma demonstração de ingratidão.
A Alemanha, inflexível em sua posição, não quer ceder ao pânico e aos "ditames do mercado", como sublinhou seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble. Berlim tem em conta pagar sua parte à altura de seus recursos e não pode ir além de seus limites, acentuou a chanceler diante do Parlamento alemão, o Bundestag. Como contrapartida de sua contribuição, Berlim quer sobretudo garantias. O Tratado de Maastricht assegurava à Alemanha, em troca pelo abandono de seu "querido marco alemão", a independência do BCE - Banco Central Europeu e a garantia de que os Estados não se furtariam a ajudar uns aos outros. Dois dogmas alegremente desconsiderados desde o início da crise para grande desgosto dos alemães, que são fiéis com respeito a textos. Está fora de questão para Berlim deixar-se reduzir ao status de caixa-registradora, de se engajar em um caminho aventureiro sem que promessas sejam gravadas no mármore dos tratados.
Como para dar o exemplo, o Bundestag irá portanto seguir o pacto orçamentário no dia seguinte à reunião de cúpula em Bruxelas, no dia 29 de junho. Os outros países europeus, a começar pela França, deverão fazer o mesmo. A Alemanha, atacada por todos os lados, se sente pois perseguida "como um animal numa caçada", comparou o editorialista de um jornal regional, o Badische Zeitung (Jornal de Baden). Angela Merkel mostrou pois suas garras.
François Hollande reservas as honras aos socialistas alemães, adversários políticos de Angela Merkel, antes de encontrar-se com ela. Na foto, Hollande com o presidente do SPD, Sigmar Gabriel, quando de uma reunião dos socialistas europeus em 17 de março último em Paris - (Foto: Benoit Tessier/Reuters).
François Hollande e Mario Monti em Roma, na quinta-feira - (Foto: Le Figaro).
François Hollande e Angela Merkel durante a cúpula da OTAN em Chicago, em 21 de maio de 2012 - (Foto: Jeff Haynes/Reuters).
Vasco:
ResponderExcluirEste Hollande é o tipo do francesinho cheio de sí, que no debate [com o Sarkozy] falava ininterruptamente e não respondia às perguntas de seu adversário[que tinha defeitos mas sabia o que estava dizendo].
O interessante é que a ex-mulher de Hollande(Segolene Royal) não se elegeu representante de La Rochelle pelo P. Socialista.
A atual do Hollande, madame Treiweller(intimamente conhecida como Rotweiller)colaborou para a vitória do candidato alternativo do próprio PS ...