O texto abaixo é da autoria de Camilo Rocha e foi publicado ontem no blogue Link do jornal O Estado de S. Paulo.
O consumidor brasileiro encarava um evento como a Consumer Electronics
Show (CES) e suas novidades tecnológicas como um mundo bem distante. Ali
se falava de produtos que apareceriam por aqui só depois de dois ou
três anos. Isso mudou. O “delay” entre o estande gringo e a vitrine do shopping
mais próximo é muito menor, quando não inexistente. Por exemplo, na CES
do começo de 2011, um dos grandes destaques foram os tablets.
Acompanhando a tendência, o mercado brasileiro foi inundado por
lançamentos e opções de tablets, em preços e configurações diversas.
Outro lançamento que deu o que falar na CES 2011 foi uma TV LED de 75
polegadas da Samsung, a maior do mundo até então. Pois a tal TV já pode
ser encontrada no Mercado Livre para compra (preço: R$ 18 mil).
Mas, se o delay em relação aos lançamentos de hardware e software foi
superado, ainda patinamos em outras frentes. Duas delas, fundamentais
para a inclusão digital: preços e qualidade de conexão. Mais do que
qualquer novidade 3D ou aparelho incrível, duas notícias que deixariam o
brasileiro mais satisfeito em 2012 seriam aparelhos e serviços mais
baratos e conexão mais rápida e mais abrangente.
Com qualidade de conexão restrita, por exemplo, ficamos à margem de um
dos temas quentes da CES 2012, conforme ressaltado em entrevista ao Link
por seu economista-chefe, Shawn DuBravac: a conectividade (leia acima). Segundo ele, TVs com internet devem ser quase metade dos aparelhos
vendidos em 2012 nos EUA. Games conectados são outro destaque. Mas não
para por aí: a CES deve ser palco também de cafeteiras que fazem o café
do jeito que o usuário gosta, e de lavadoras de roupa conectadas que
mandam mensagens para o celular quando a roupa está pronta.
A TV conectada reposiciona o televisor de volta no centro do lar, posto
que começou a perder para o PC. A TV com internet traz o melhor (e o
pior) dos dois mundos. Estamos falando de redes sociais, filmes sob
demanda, fotos, clipes, jogos online, música, navegação na web, novela
das oito e o jogão de domingo saindo todos da mesma caixa. Sem falar que
a TV conectada ainda acena com a perspectiva de uma sala com menos
fios, aparelhos, caixinhas e discos de DVDs espalhados. É um equipamento
que se apoia em conteúdo em streaming, localizado na “nuvem”.
Nada disso poderá ser aproveitado sem uma boa conexão de internet de
banda larga. Afinal, ninguém quer ver filmes que “engasgam” e com
qualidade de imagem oscilante. Assim como ninguém quer brincar em jogos
online e ver suas ações serem concretizadas na tela com atraso em
relação ao comando.
Sabemos como são as coisas por aqui. Com seus preços, não é acessível
para a maioria da população. Mesmo o preço mais em conta prometido pelo
Plano Nacional de Banda Larga (R$ 35 por 1 MB de conexão) é o dobro do
que um projeto dos EUA recentemente anunciado, em que um consórcio de
empresas pretende oferecer a mesma velocidade por metade do preço.
Detalhe importante: 1 Mbps é menos de um décimo da taxa média de banda
oferecida pelas operadoras dos EUA.
A conexão 3G é outro serviço que não sai barato e que vive derrapando.
Em 2010, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), éramos
20 milhões de usuários da rede utilizada por tablets e smartphones. O
serviço, porém, é prejudicado por cobertura insuficiente e oscilação no
sinal. Mais de 30 mil reclamações relacionadas ao 3G foram registradas
pela agência no mesmo ano.
Portanto, se hoje “alcançamos” o mundo da CES em questão de lançamentos,
esse progresso é relativo. Nos últimos tempos, quando pensamos em
inovação, pensamos muito mais em softwares (aplicativos, programas,
nuvem) do que em objetos físicos. Pena que o consumidor brasileiro ainda
precisa ver resolvida uma série de limitações cotidianas para entrar de
cabeça nessa realidade.
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