Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia aprovaram nesta segunda-feira a adoção de um embargo ao petróleo iraniano, como resposta
ao programa nuclear do governo de Teerã.
A medida envolve a proibição imediata de novos contratos para a compra de petróleo do Irã por parte dos países do bloco. Além disso, a União Europeia também vai impor restrições ao Banco
Central iraniano e expandir uma série de outras medidas já existentes
que visam diminuir a capacidade do Irã de negociar com outros países.
Segundo analistas, as novas sanções, que também determinam que os
contratos de petróleo existentes serão cumpridos até o dia 1º de julho,
devem aumentar ainda mais a tensão entre o bloco europeu e o Irã. O editor da BBC para a Europa Gavin Hewitt afirma que estas estão
entre as medidas mais duras já adotadas pela União Europeia contra o
país. [Esses europeus -- aliás, o Ocidente em geral -- são ridiculamente engraçados. Determinam punições com um cronograma que os protege (questões contratuais à parte, facilmente contornáveis com um argumento de "força maior"). Com um inverno rigoroso ainda inacabado, o petróleo ganha importância extra para os europeus. E, para variar, esse boicote ao petróleo iraniano prejudicará mais quem já está economicamente fragilizado, como Grécia, Itália e Espanha (ver texto mais abaixo) -- além do povão iraniano, evidentemente, um bode expiatório nesse imbróglio. Também p'ra variar, o Ocidente está nivelando por baixo, ao lidar com o Irã como se estivesse tratando com o Iêmen -- um pouco de leitura da História seria importante para conhecer o passado imponente do Irã e entendê-lo melhor.]
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que o
embargo mostra "a determinação da União Europeia nesta questão". "É absolutamente correto fazer isto quando o Irã continua a desrespeitar
resoluções da ONU e se recusa a participar de negociações importantes
sobre seu programa nuclear", acrescentou.
O governo iraniano nega que esteja tentando desenvolver armas nucleares e
diz que o diálogo e não as sanções é a única forma de resolver a
disputa. Em resposta ao anúncio da União Europeia, um político iraniano afirmou
que Teerã deve suspender imediatamente todas as vendas de petróleo para
países europeus. Ali Fallahian teria dito à agência de notícias iraniana Fars que o Irã
deve parar de exportar o petróleo antes do dia 1º de julho, "para que o
preço do petróleo aumente e os europeus... tenham problemas".
Novos fornecedores
A União Europeia compra cerca de 20% das exportações de petróleo iraniano.
A Grécia é um dos países europeus que mais depende do combustível do
país, pois compra cerca de um terço do petróleo que usa do Irã. Itália e Espanha também compram do Irã, cada um, 10% do petróleo que
usam. Estes países agora terão que procurar novos fornecedores.
O embargo deve ser adotado em etapas, para minimizar o impacto nos países que importam petróleo do Irã.
Segundo o analista da BBC para assuntos de Defesa Jonathan Marcus,
outros fornecedores, como a Arábia Saudita, parecem inclinados a cobrir a
falta que o petróleo iraniano poderá fazer, apesar das ameaças do Irã
contra aquele país. Marcus destaca também o fato de que os clientes do Irã na Europa estão entre os países europeus com economias mais fracas.
Petróleo para a Ásia
Os principais clientes do Irã, no entanto, não estão na Europa, mas na Ásia. Os Estados Unidos já tentaram, com sucesso apenas limitado, convencer a
Coreia do Sul e o Japão a diminuírem as importações do petróleo
iraniano.
A China, que compra mais de um quinto do petróleo produzido pelo Irã, é a
chave para o sucesso de sanções contra o país. Mas, o governo chinês
está enviando sinais conflitantes. Por um lado, a China parece ter diminuído os pedidos para o Irã e
tentado aumentar suas ligações com outros produtores da região do Golfo
Pérsico. Mas, ainda não está claro se isto reflete um desejo de alertar,
diplomaticamente, o Irã ou uma manobra para conseguir o melhor preço, já
que o setor de petróleo do Irã está sob pressão.
Consequências e tensão
Os diplomatas ocidentais ainda não sabem se estas novas sanções serão
bem sucedidas. Não há dúvidas de que a economia iraniana deve ser
prejudicada, mas ainda não se sabe quais serão as consequências para o
programa nuclear do país, que é uma questão de orgulho nacional. O que se sabe, segundo Jonathan Marcus, é que o povo iraniano vai sofrer as consequências e não a elite do país [como sempre acontece nesse tipo de punição, veja-se o caso de Cuba].
Em vista disto, alguns países ocidentais até esperam por uma mudança no regime iraniano. Mas sempre houve uma ambivalência da política ocidental a respeito deste
assunto, e as forças de oposição iranianas não mostraram sinais mais
fortes de terem ganho mais fôlego depois das revoluções da chamada
Primavera Árabe.
Ainda há muita incerteza em relação às opções de Israel, se o país
pretende ou não atacar as instalações nucleares iranianas em 2012. Por enquanto, os Estados Unidos parecem estar tentando convencer os
israelenses a dar mais tempo para sanções e pressão diplomática.
Mas, a ameaça de um ataque israelense agora foi substituída por um temor
mais urgente, a ameaça do Irã de bloquear o estreito de Ormuz, na
entrada do Golfo Pérsico, uma importante rota comercial. Um confronto no estreito poderia facilmente evoluir para um conflito
mais amplo com o Irã. E, devido ao estado volátil naquela região, um
conflito como este poderia se transformar em uma guerra mais ampla.
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