O texto abaixo é da autoria de Paulo Thiago de Mello e foi publicado na seção Globo Economia, do jornal O Globo de 13 de janeiro.
Criadas para tornar mais seguras as apostas de investidores, as agências
de classificação de risco — em especial as três maiores: Standard &
Poor’s (S&P), Moody’s e Fitch — ganharam status e poder, sobretudo a
partir dos anos 80 com a globalização da economia. No entanto, prever os rumos da economia não é uma ciência exata, e nem
todos os economistas são oráculos confiáveis. Erros graves de avaliação
nos últimos anos abalaram a credibilidade dessas instituições.
Desde a crise financeira de 2008, o prestígio das agências foi arranhado
por uma atuação considerada, no mínimo, inconsequente. Notadamente no
que se refere ao colapso do banco Lehman Brothers, que até às vésperas
do desastre detinha o rating de investimento seguro das agências,
indicando que era seguro investir na instituição. Desde então, novas
regras, mais estritas, foram aprovadas para tentar minimizar tais erros.
Porém, o mercado é averso a regulações e atuação das agências não mudou
significativamente.
Por ocasião do rebaixamento inédito dos Estados Unidos, que perdeu a
nota AAA em agosto do ano passado, a S&P cometeu um erro de US$ 2
trilhões em seus cálculos sobre as finanças do país. À época, o
secretário-assistente de Política Econômica da Casa Branca, John
Bellows, classificou o problema como “um erro básico de matemáticas, mas
de consequências significativas”.
Alertada pelo Tesouro americano, a agência não viu motivo para reconsiderar sua decisão de rebaixamento. Para alguns analistas, o problema não foi o erro de US$ 2 trilhões, mas o
fato de a agência ter simplesmente apagado toda uma seção do documento
que justificava o corte, em que fazia projeções do déficit fiscal para a
próxima década. [E as autoridades americanas não processaram a agência?!] -- Essa operação provocou a desconfiança de analistas. Para Bellows não há
dúvida: o rebaixamento do rating americano foi uma decisão mais política
do que econômica.
Coincidência ou não, a McGraw-Hill, holding que controla a S&P,
anunciou, poucos dias após o rebaixamento dos EUA, no dia 23 de agosto,
que o presidente da agência, Deven Sharma, deixaria o cargo. Ele foi substituído por Douglas Peterson, ex-executivo do Citigroup, em
setembro. Ao mesmo tempo, o Departamento de Justiça dos EUA decidiu
investigar a atuação das agências de risco na avaliação do chamados
papéis subprime, investimento sem lastro, considerado o estopim da crise
de 2008.
Em novembro passado, a S&P irritou o governo francês ao rebaixar
sua nota soberana por engano. O equívoco provocou uma onda de venda de
títulos soberanos da França e elevou o ágio cobrado sobre os títulos do país em 27 pontos básicos, para 3,46%.
A decisão de rebaixar a França e de outros 14 países da zona do euro
já havia sido absorvida em parte pelos investidores. De modo que o
impacto nos mercados não foi tão catastrófico como se temia. Mas parte da indiferença também pode ter a ver com o prestígio menor das agências.
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