domingo, 15 de janeiro de 2012

Erros abalam a credibilidade das agências de risco

O texto abaixo é da autoria de Paulo Thiago de Mello e foi publicado na seção Globo Economia, do jornal O Globo de 13 de janeiro.

Criadas para tornar mais seguras as apostas de investidores, as agências de classificação de risco — em especial as três maiores: Standard & Poor’s (S&P), Moody’s e Fitch — ganharam status e poder, sobretudo a partir dos anos 80 com a globalização da economia.  No entanto, prever os rumos da economia não é uma ciência exata, e nem todos os economistas são oráculos confiáveis. Erros graves de avaliação nos últimos anos abalaram a credibilidade dessas instituições.

Desde a crise financeira de 2008, o prestígio das agências foi arranhado por uma atuação considerada, no mínimo, inconsequente. Notadamente no que se refere ao colapso do banco Lehman Brothers, que até às vésperas do desastre detinha o rating de investimento seguro das agências, indicando que era seguro investir na instituição. Desde então, novas regras, mais estritas, foram aprovadas para tentar minimizar tais erros. Porém, o mercado é averso a regulações e atuação das agências não mudou significativamente.

Por ocasião do rebaixamento inédito dos Estados Unidos, que perdeu a nota AAA em agosto do ano passado, a S&P cometeu um erro de US$ 2 trilhões em seus cálculos sobre as finanças do país. À época, o secretário-assistente de Política Econômica da Casa Branca, John Bellows, classificou o problema como “um erro básico de matemáticas, mas de consequências significativas”.

Alertada pelo Tesouro americano, a agência não viu motivo para reconsiderar sua decisão de rebaixamento.  Para alguns analistas, o problema não foi o erro de US$ 2 trilhões, mas o fato de a agência ter simplesmente apagado toda uma seção do documento que justificava o corte, em que fazia projeções do déficit fiscal para a próxima década.  [E as autoridades americanas não processaram a agência?!] -- Essa operação provocou a desconfiança de analistas. Para Bellows não há dúvida: o rebaixamento do rating americano foi uma decisão mais política do que econômica.

Coincidência ou não, a McGraw-Hill, holding que controla a S&P, anunciou, poucos dias após o rebaixamento dos EUA, no dia 23 de agosto, que o presidente da agência, Deven Sharma, deixaria o cargo.  Ele foi substituído por Douglas Peterson, ex-executivo do Citigroup, em setembro. Ao mesmo tempo, o Departamento de Justiça dos EUA decidiu investigar a atuação das agências de risco na avaliação do chamados papéis subprime, investimento sem lastro, considerado o estopim da crise de 2008.

Em novembro passado, a S&P irritou o governo francês ao rebaixar sua nota soberana por engano. O equívoco provocou uma onda de venda de títulos soberanos da França e elevou o ágio cobrado sobre os títulos do país em 27 pontos básicos, para 3,46%.

A decisão de rebaixar a França e de outros 14 países da zona do euro já havia sido absorvida em parte pelos investidores. De modo que o impacto nos mercados não foi tão catastrófico como se temia. Mas parte da indiferença também pode ter a ver com o prestígio menor das agências.
















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