quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Os parques eólicos para geração de energia aumentam as emissões de CO₂? - O caso britânico.

Sopra um vento de tempestade sobre a geração eólica do outro lado da Mancha, dizem os franceses (em artigo de Audrey Garric). Na segunda-feira, 9 de janeiro, um relatório publicado pela usina de ideias (think tank) Civitas reacendeu o debate entre os defensores e os opositores dos geradores eólicos. O pomo da discórdia: essa energia, considerada limpa e renovável, se revelaria na realidade cara e ineficaz em termos de redução de emissões de CO₂ (dióxido de carbono) quando comparada com a geração nuclear ou a gás.  Pior, ela provocaria mais emissões de gás de efeito estufa por demandar usinas a gás ou a carvão de maneira intermitente, em caso de falta ou de excesso de vento. [É bom lembrar que o relatório se refere ao sistema e à matriz energética britânicos.]

"Não existe justificativa econômica para a energia eólica", conclui sem rodeios o estudo da instituição de reflexão independente, que recomenda ao governo britânico que abandone seu projeto de construir 32.000 geradores eólicos daqui até 2020, caso contrário o país será incapaz de cumprir seus objetivos de reduzir as emissões de CO₂.  [O relatório da Civitas, de 49 páginas, em inglês, intitulado "Electricity Costs: the folly of wind-power" ("Custos de Eletricidade: a insensatez da energia eólica" -- a palavra "folly" em inglês tem também o significado de "asneira") Ruth Lea, January 2012, está disponível em formato "pdf", para quem acessar o texto do artigo em francês referido na primeira linha desta postagem].

O relatório, redigido pela economista e antiga assessora do governo britânico Ruth Lea, e não submetido à avaliação de seus pares, se baseia essencialmente em dois trabalhos: um estudo [intitulado "UK Electricity Generation Costs Update" ("Atualização dos Custos de Geração do Reino Unido"), que está em formato "pdf",  tem 117 páginas e é acessível através do artigo em francês que está traduzido nesta postagem]  dos consultores em engenharia Mott MacDonald (junho de 2010), que indica que as condições meteorológicas britânicas no inverno geralmente levam a uma combinação de tempo frio e muito pouco vento,  tornando os parques eólicos incapazes de competir com outras formas de energia quando a demanda está em seu pico; e o relatório (de outubro de 2011) do físico holandês aposentado Kees Le Pair, que indica um consumo maior de carbono pela geração eólica quando são levados em conta os custos de intermitência e de construção.

São três relatórios gerados por especialistas notoriamente contrários à energia eólica, observa o jornalista do The Guardian Leo Hickman, que destrinchou o estudo da Civitas com a ajuda de internautas. As ONGs contra-atacam as afirmativas da Civitas. Então, quais são os argumentos econômicos a favor e contra as eólicas?

Os argumentos contra a energia eólica

- O problema da intermitência - Como o vento não é uma fonte confiável, nem regular (uniforme), os geradores eólicos precisam ser conectados a uma fonte de energia elétrica prontamente disponível.  Quando o vento não sopra -- ou sopra muito forte durante as tempestades -- há um revezamento com a geração a gás, a carvão ou nuclear para manter a continuidade do suprimento ao país. No final, as eólicas não produzem senão em 30% do tempo, o que implica custos econômicos e ecológicos elevados dessa energia suplementar, calcula a Civitas. "Funcionando isoladas, as usinas térmicas a gás mais eficientes emitem menos dióxido de carbono que a eólica acoplada ao gás. Sem contar que, com a eólica, os consumidores pagam duas vezes: pela energia renovável e pelos combustíveis fósseis que continuarão a consumir", acusa o relatório.

- Os custos adicionais -  Construir geradores eólicos produz dióxido de carbono, principalmente no offshore, que exige estruturas maciças [e mais complexas]. São necessários cerca de 18 meses de operação para compensar esses custos energéticos, estima o relatório de Kees Le Pair. E cada eólica tem que ser substituída a cada 12 ou 30 anos. Seu conserto tem também um custo, assim como sua conexão ao sistema elétrico. Por outro lado, os geradores eólicos precisam de energia elétrica para demarrar e reaquecer seus componentes.  [Novamente, estamos falando de Reino Unido com, entre outras coisas, condições climáticas muito específicas].

- Integrando todos esse custos suplementares, Ruth Lea conclui que a eólica é, de longe, a energia mais cara: 177 euros/MWh em terra firme (dos quais 73 euros são de custos adicionais) e 217 euros/MWh  para o offshore (83 euros de custos adicionais), contra 82 euros/MWh para a [geração] nuclear, 117 €/MWh para a geração térmica a gás, e 135 €/MWH para o carvão.

- O custo é também ecológico, avalia Kees Le Pair. O pesquisador holandês calculou que um parque eólico de 300 MW, funcionando durante 21,5 horas em dia normal em termos de vento, complementado por geração térmica adequada para atender a uma demanda de 500 MW, aumentaria em 41.750 m³ o volume de gás necessário para a geração dos 500 MW, o que teria causado uma emissão extra de 117,9 ton de CO₂ na atmosfera.

Os argumentos a favor da energia eólica

- Um aumento de competitividade - Um relatório elaborado pela agência econômica Bloomberg em novembro de 2011 sustenta que o desempenho dos parques eólicos melhorou, enquanto seus custos baixaram. "O custo da energia produzida pelas eólicas 'onshore' caiu em 14% a cada duplicação da capacidade instalada entre 1984 e 2011. Hoje, os parques [eólicos] mais eficientes no mundo produzem uma energia competitiva com a gerada por usinas a gás, carvão, ou nucleares. A média das fazendas eólicas atingirá esse patamar em 2016", afirma o relatório. Levando em conta o custo do carbono emitido, a eólica seria já tão competitiva quanto a térmica a gás.

- Uma interconexão positiva - O relatório para 2050  [em formato "pdf",  disponível através do texto em francês do artigo traduzido] da Fundação europeia para o clima prova que uma maior interconexão dos parques eólicos na Europa reduziria em 30% a 40% o uso de gás. Quanto mais os países conectarem as eólicas ao sistema elétrico, menos necessidade terão de recorrer a outras formas de energia no caso de falta de vento, porque poderão acessar a produção renovável estrangeira. É isto que o relatório da Civitas parece grandemente subestimar.

- Uma intermitência mínima - Quando menos de 20% da produção elétrica são de origem eólica, a intermitência representa menos de 10% dos custos de produção, ou seja 11 euros de sobrecusto (e não os 73 euros citados pela Civitas) assegura, com base em estudos, Robert Gross, diretor do Centro britânico de pesquisas de energia. Por outro lado, Gordon Edge, diretor de estudos no âmbito do grupo pró energias renováveis Renewable UK, citado pelo jornal The Telegraph, observa que o estudo de caso de Kees Le Pair baseia-se em um único parque eólico, e não sobre vários na escala de um país, aumentando portanto para pior os efeitos negativos da intermitência.

- Energias não renováveis caras - "As emissões de carbono ligadas à construção e à manutenção de parques eólicos são baixas, quando comparadas àquelas geradas pela operação de usinas de combustíveis fósseis", prossegue Robert Gross. Com esse enfoque, [é bom lembrar que] os preços imbatíveis das centrais nucleares não levam em conta a desativação das usinas, ou sua melhoria, e também a gestão dos dejetos [radioativos] -- custos adicionais que o relatório da Civitas omitiu no cálculo [de custos] para as energias [de fontes] fósseis.

Nuvens formadas por trás dos geradores eólicos fronteiriços do parque eólico Horns Rev, na Dinamarca - (Foto: Aeolus). 


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