Em postagem anterior, fiz menção à opinião de um renomado economista alemão, Max Otte, sobre o que estaria por trás dos bastidores nesse clima de sucessivos rebaixamentos de países europeus pelas agências de classificação de risco. Dadas a oportunidade e a importância dessa argumentação, reproduzo a seguir suas palavras, em entrevista que foi também publicada pelo Globo de hoje (pág. 37).
BERLIM. O rebaixamento da nota de crédito de nove países da zona do euro
foi um golpe para a região, afirmou o economista alemão Max Otte. Autor
de livros sobre a economia mundial, Otte, de 48 anos, disse que a
pressão sobre o euro é resultado de um "clima de guerra econômica entre a
Europa e os Estados Unidos".
Com o rebaixamento da Standard & Poor's e o clima de nervosismo no mercado, a crise do euro pode recrudescer?
MAX OTTE: O rebaixamento é um golpe duro para o governo francês. O
efeito imediato é o encarecimento do refinanciamento da dívida francesa.
Para o presidente Sarkozy, que tenta se reeleger, as consequências são
negativas. Mas toda a zona do euro sofrerá esses efeitos. O fundo de
resgate poderá também ser rebaixado, o que significa um freio para todos
os esforços de solucionar a crise. Aumenta também a pressão do mercado
contra a moeda europeia.
Os dados da economia francesa explicam o rebaixamento?
OTTE: Não, de modo algum. A situação da França é melhor do que a dos
Estados Unidos. As grandes agências de avaliação de risco, todas
americanas, apostam contra o euro. Há um clima de guerra econômica entre
a Europa e os Estados Unidos. Os americanos estão interessados na
preservação do status do dólar como principal moeda de circulação
internacional. Os europeus precisam criar a sua própria agência de
avaliação para ter mais equilíbrio. O déficit da França é de cerca de
7%, bem menor do que o americano, que é de 11%. Levando em consideração
toda a zona do euro, o déficit médio é de 4,5%. Na verdade, isso não é o
fim do mundo.
Quais foram os erros cometidos pelos europeus?
OTTE: Foram tomadas decisões que, na prática, têm pouca chance de
funcionar. A união fiscal, decidida em dezembro e que deveria entrar em
vigor a partir de março, é um problema, porque não vejo chance de que dê
certo. Outro problema é que países altamente endividados, como a
Grécia, não têm condições de recuperação econômica sem uma redução da
dívida.
A Grécia continuará na zona do euro em 2012?
OTTE: Não posso prever. Mas uma saída seria o melhor, para a própria
Grécia e para os demais países do euro. O mesmo eu diria para Espanha e
Portugal. Mas a política europeia é de fazer tudo para evitar isso. Não
concordo com os alarmistas que dizem que se sair um país, ou mais de um,
seria o fim do euro. Pelo contrário, haveria um certo alarme no início,
mas depois a situação voltaria ao normal.
Se a turbulência na zona do euro piorar, é possível uma nova crise mundial?
OTTE: Acho provável uma nova crise, mas não por via da crise do euro. O
maior perigo está nos Estados Unidos, na China e no Japão. Os Estados
Unidos, com uma economia em situação difícil; o Japão com dívidas de
200% do PIB; e a China com a queda do crescimento econômico.
Como o senhor vê a situação do Brasil?
OTTE: No momento, o Brasil e alguns outros países da Ásia vão muito bem.
São países que hoje têm um peso decisivo na economia mundial. No
Brasil, surgiu uma nova classe média com poder aquisitivo, o que
impulsionou a economia. Se não houver uma crise mundial, eu diria que
ela foi evitada por causa de países como o Brasil.
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