O texto abaixo foi publicado ontem na Folha de S. Paulo, acessível apenas para leitores e assinantes do jornal.
Os chicletes e adesivos de nicotina que milhões de fumantes usam para largar o vício não trazem benefício nenhum e podem ser prejudiciais em alguns casos, de acordo com o mais rigoroso estudo de longo prazo sobre a chamada terapia de reposição de nicotina.
O trabalhou acompanhou 1.916 pessoas, entre elas fumantes, ex-fumantes, e jovens adultos. Os participantes foram entrevistados em três oportunidades sobre o uso desses produtos, períodos de abstinência de tabaco e recaídas.
Em cada estágio, um terço das pessoas que tentavam parar de fumar não conseguiu. A forma como os produtos foram usados não fez diferença. O resultado foi ruim para quem usou o adesivo pelo tempo drecomendado de seis semanas ou foi acompanhado por um profissional.
Fumantes pesados (um maço por dia ou mais), que usaram os produtos sem acompanhamento, tiveram o dobro de recaídas do que aqueles que não usaram.
"O estudo essencialmente mostra que o que acontece no mundo real é muito diferente do que o que acontece em estudos clínicos", afirmou Hillel R. Albert of Harvard, da Universidade de Massachussetts, um dos autores do trabalho.
[O mesmo jornal publicou no dia 9 deste mês uma reportagem dizendo que adesivo e goma de mascar não evitam recaída entre ex-fumantes -- o texto dessa reportagem está reproduzido abaixo.]
Um estudo realizado pela Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard
indica que gomas de mascar, adesivos e sprays nasais não ajudam a
combater o tabagismo a longo prazo.
A pesquisa, que envolveu 787 adultos do Estado de Massachusetts, mostrou
que as recaídas ocorreram tanto no grupo dos que fizeram a terapia de
reposição de nicotina, que recorrem a esses produtos mencionados antes,
quanto no que parou de fumar sozinho.
Outro dado: fumantes com alto nível de dependência que recorreram à
reposição de nicotina sem o apoio de uma terapia profissional se
mostraram duas vezes mais propensos a ter recaídas do que aqueles que
não a utilizaram.
Curiosamente, foi idêntica a recaída nos dois grupos analisados entre 2001-2002, 2003-2004 e 2005-2006: um terço voltou a fumar.
O estudo publicado jornal "Tobacco Control" sugere que os fumantes
altamente dependentes do cigarro veem a terapia da reposição como uma
"pílula mágica".
A popularidade da terapia de reposição de nicotina teve início com o
lançamento da primeira goma de mascar em 1984, segundo o artigo. Na
época, todos os produtos de reposição de nicotina formavam um mercado
avaliado em US$ 45 milhões somente nos EUA.
Desde que foram aprovadas as vendas sem receita desses artigos, em 1996,
a indústria saltou para US$ 800 milhões ao ano. Além disso, as vendas
de medicamentos prescritos para parar de fumar equivaleram a US$ 841
milhões em 2007.
"Este estudo demonstra a necessidade de a FDA [sigla em inglês de Food
and Drug Administration, a agência reguladora de alimentos e
medicamentos nos EUA] aprovar apenas medicamentos que tenham sua
eficácia comprovada em auxiliar os fumantes a longo prazo e em reduzir a
nicotina a fim de diminuir a propensão à dependência causada pelo
cigarro", afirmou o coautor do estudo, Gregory Connolly, diretor do
Centro para Controle Global do Tabaco, que também é da Harvard.
As taxas de tabagismo nos EUA se equilibraram em 20% da população nos últimos cinco anos, após um período contínuo de queda.
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