Peças dos chamados quase-cristais, cuja formação até então desafiava os cientistas, podem ter vindo do espaço, segundo um
estudo da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
Descobertos em 1982, os quase-cristais ganharam essa denominação porque
rompem a simetria encontradas nos demais cristais. Sua estrutura é
ordenada, mas não periódica. Eles também possuem propriedades físicas e
elétricas diferentes. Quando foi primeiramente apresentada pelo pesquisador israelense Daniel
Schechtman, nos anos 1980, a formação incomum do quase-cristal foi vista
com ceticismo no mundo acadêmico. Tanto que apenas no último ano Schechtman foi amplamente reconhecido, ao receber o Prêmio Nobel de Química pela descoberta.
Os quase-cristais eram produtos exclusivos dos laboratórios até serem
pela primeira vez encontrados na natureza, há dois anos, nas montanhas
Koryak, na Rússia. A análise do material, feita pela equipe liderada pela Universidade de
Princenton, mostrou que os quase-cristais encontrados na Rússia têm em
sua composição elementos que apontam uma origem extraterrestre. Segundo o estudo, publicado no Procedings of National Academy of Sciences, as pedras podem ter chegado com meteroritos à terra.
A descoberta em 2009 dos cristais nas montanhas russas foi feita pela
equipe de geologistas do professor Luca Bindi, então na Universidade de
Florença, na Italia. Ele agora faz parte do estudo liderado por
Princeton. O mineral, composto por alumínio, bronze e ferro, mostrou que os
quase-cristais podem se manter estáveis sob condições naturais. Mas o
processo que havia criado as estruturas ainda era uma incógnita.
No estudo, feito em conjunto com o professor Paul Steinhardt, Bindi diz
que testes adicionais trazem evidências de que os minerais encontrados
na Rússia podem ter origem fora da Terra. Eles usaram a técnica de espectromia de massa, para medir as diferentes
formas, chamadas de isótopos, do elemento oxigênio, também presente em
partes do mineral. O padrão dos isótopos de oxigênio se mostrou distinto de qualquer outro
já visto em qualquer outro encontrado no planeta. A estutura se mostrou
similar, no entanto, à das encontradas em meteoritos conhecidos como
Condrito carbonáceo.
As amostras também continham um tipo de dióxido de silício (também
chamado silica) que apenas se forma sob alta pressão. A descoberta
sugere que os quase-cristais possam ter ou se originado no manto da
Terra ou se formaram sob um impacto gerado por alta velocidade, como o
que ocorre quando um meteorito se choca com a superfície terrestre. "Essa evidência indica que os quase-cristais podem se formar
naturalmente sob certas condições astrofísicas e permanecem estáveis em
escalas de tempo cósmicas", diz o estudo.
Quase-cristais rompem com as regras de simetria, com estruturas ordenadas mas não periódicas - (Foto: Wikimedia Commons).
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