Os discursos visam a tranquilizar a opinião pública europeia e sobretudo os mercados financeiros antes da abertura dos pregões, na segunda-feira. Em toda a Europa, a decisão da S&P de retirar o triplo A da França e da Áustria e de rebaixar as notas da Itália, da Espanha, Portugal, Chipre, Eslováquia, Eslovênia e Malta foi encarada como um sintoma da perda de confiança dos investidores em relação à zona do euro, e não apenas quanto aos países prejudicados.
Mas o fato é que o rebaixamento atingiu a autoestima dos governos envolvidos. Em Paris, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, envolvido na campanha à reeleição, desapareceu das câmeras e segue sem comentar o downgrade de um nível, de AAA para AA+. Em seu lugar, Fillon convocou a imprensa e sugeriu que o tema não seja subestimado, mas também seja tratado "sem drama". "A França é um país seguro, no qual os investidores têm confiança e podem ter confiança", ressaltou, garantindo: "As agências de rating são termômetros úteis, mas não são elas que fazem a nossa política".
Fillon lembrou que o país está ao lado dos Estados Unidos "entre os melhores do mundo" na classificação da S&P. "Standard & Poor's confirmou que nossa economia está sólida e diversificada". Em sua opinião, os mercados financeiros reagiram com frieza à notícia, que era "esperada, mas fora do tempo visto os esforços feitos em relação à zona do euro". O premiê assegurou ainda que o país não adotará um novo plano de rigor, mas tem margem de corte de € 6 bilhões no orçamento de 2012, caso seja necessário. Fillon disse ainda que vai "persistir" nas reformas econômicas, sem informar medidas.
Em Viena, na Áustria, a reação ao choque da
perda do AAA foi mais beligerante. Em comunicado, a chancelaria
austríaca questionou a seriedade da análise da S&P. "É
incompreensível quando uma das três agências dos Estados Unidos decide
avançar sozinha e rebaixar países da zona do euro, ou dar a eles uma
perspectiva negativa", dizia o texto, lembrando que "soluções estavam e
estão sendo trabalhadas em cooperação máxima".
Mesmo na Alemanha, país que não perdeu o
triplo A, a decisão da agência foi posta em dúvida. Em pronunciamento a
líderes de seu partido, a chanceler Angela Merkel minimizou a atitude da
S&P, afirmando que "se trata de uma agência entre três". A chefe de
governo admitiu, porém, que "falta um longo caminho até que a confiança
dos investidores seja restabelecida", e que para tanto medidas estão
sendo tomadas para aprofundar a integração e a governança da zona do
euro. "É visível que estamos decididos e trilhar o caminho de uma moeda
estável, de finanças sólidas e de crescimento sustentável", reiterou.
Tanto Fillon quanto Merkel ressaltaram em
seus pronunciamentos a necessidade de avançar rapidamente nas reformas
de gestão da zona do euro. Um acordo vem sendo negociado e deve ser
finalizado até 31 de janeiro sobre um novo tratado europeu que renovará
os compromissos do Pacto de Estabilidade. O texto deve criar sanções aos
países cujas contas estiverem fora dos padrões, assim como reorganizar o
direito de voto da União Europeia, eliminando a unanimidade e adotando a
maioria "qualificada", constituída de dois terços dos votos. Com essas
medidas, Alemanha e França esperam destravar o sistema de decisão em
Bruxelas.
Merkel disse também acreditar que os
rebaixamentos da S&P não afetarão a credibilidade do Fundo Europeu
de Estabilidade Financeira (Feef). O organismo vem sendo importante no
refinanciamento de países em crise, como Grécia, Portugal e Irlanda,
porque ao lado do Fundo Monetário Internacional (FMI) fornece liquidez
por meio dos planos de socorro. Com o downgrade da França, seu segundo
maior financiador, a tendência é que o fundo também perca seu AAA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário