Sinal dos tempos: não bastassem os enormes problemas que enfrentam, os países da zona do euro (assim como ocorreu com os EUA) -- e todos os demais que são por elas "classificados" -- ainda têm que aguentar ameaças das agências de classificação!! É o que nos relata o El País, o principal jornal espanhol, em reportagem do dia 13 sobre a ameaça da S&P à Espanha, caso ela não faça de imediato a reforma trabalhista (ver texto abaixo, sem o itálico). O poder dessas agências me parece simplesmente absurdo e inconcebível -- e agora um renomado economista alemão, Max Otte, fala de um "clima de guerra entre Europa e EUA". Segundo ele, as agências estão jogando pela manutenção do dólar como moeda de referência, já que todas elas são americanas. Na realidade, das três grandes -- Standard & Poor's (S&P), Moody's, e Fitch -- a Fitch é de propriedade do grupo francês Fimalac e tem sede em Nova Iorque e Londres.
A agência de classificação Standard & Poor's comunicou oficialmente o rebaixamento da nota da Espanha em dois níveis (de AA- para A) e, além disso, mantém a nova nota em perspectiva negativa e ameaça o país com novo rebaixamento. Esse novo rebaixamento tem 33% de chance de ocorrer, e a agência explicitou os três cenários em que fará esse rebaixamento: se o governo de Mariano Rajoy não aprovar de imediato a reforma trabalhista, se não houver medidas adicionais para reduzir o deficit, ou se o setor financeiro necessitar de mais ajuda de capital pelo setor público.
A decisão da S&P se deve sobretudo ao fracasso europeu em dar uma resposta eficaz à crise do euro. Seus analistas consideram que os acordos da reunião de cúpula de 9 de dezembro passado não deram resultado, e alertam para a crise política, financeira e monetária da zona do euro. Mas, além disso, a agência leva em conta as fracas perspectivas de crescimento dos países da moeda única, que se encontram à beira de uma recessão que já se dá como garantida em diversos deles, entre eles a Espanha.
No caso espanhol, além dos fatores comuns à zona do euro como um todo, a agência enfatiza que a dependência de financiamento externo ameaça o crescimento [do país]. Alerta, também, que as medidas de ajuste porão um freio na economia, e adverte sobre a concentração de vencimentos da dívida no primeiro trimestre. As medidas de ajuste adotadas pelo novo governo de Mariano Rajoy não foram suficientes para salvar a nota da Espanha, entre outras razões porque o ajuste, ainda que necessário para equilibrar as contas, agravará a recessão. [Se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come ...]
O curioso é que a agência assinala que as medidas de ajuste terão um impacto negativo sobre a economia e, por outro lado, adverte que rebaixará de novo o país se não forem tomadas mais medidas. [Isto, para mim, é uma prova inequívoca de que também as agências não sabem o que se deve fazer para resolver a crise, mas mesmo assim punem os países em crise e contribuem acintosamente para agravar uma situação já desesperadora.]
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