O texto abaixo é da autoria de Sílvio Guedes Crespo e foi publicado hoje no blogue Radar Econômico do jornal O Estado de S. Paulo.
Enquanto no Brasil os jornais relatam o crescimento da “nova classe média“, na Europa o assunto são os “novos pobres”. O site do diário espanhol “El País”
publicou uma reportagem segundo a qual aumentou em 30 milhões o número
de pessoas que estão no limite entre a classe média e a pobreza. Só que
esse aumento não se deu pela ascensão de quem estava embaixo, e sim pelo
desemprego enfrentado por quem está na faixa média.
Em 2007, antes da crise, havia [na Europa] 85 milhões de pessoas no limite da pobreza (17% da população); em 2009, 115 milhões (23%).
Os países que mais sofreram foram a Bulgária e a Romênia, segundo o
jornal, onde essa proporção quase dobrou, atingindo 46% e 43% da
população local, respectivamente. Os países em melhor situação são
República Tcheca (14%), Holanda (15%) e Suécia (16%). Nessa pesquisa, a linha que separa a classe média dos pobres é definida
como um domicílio com renda anual de 7.980 euros (R$ 18.200), ou 665 (R$
1.500) por mês.
Usar números pode parecer uma forma objetiva de classificar a pobreza.
Mas um critério subjetivo, só que verdadeiro, tem tomado forma para
descrever os “novos pobres”: são as pessoas que costumavam ajudar os
desfavorecidos, e agora assumem o papel de buscar ajuda. É como disse o secretário geral de Caritas Europa, uma entidade de
assistência humanitária: “Os voluntários de antes são hoje nossos
beneficiários”.
Fim da classe média?
O jornal português “Diário Económico”
publicou uma notícia que vai na mesma linha do periódico espanhol. Com o
título “Classe média em Portugal poderá desaparecer”, o texto traz uma
análise do sociólogo Elísio Estanque segundo a qual esse estrato da
sociedade “está em risco de empobrecimento muito rápido”.
Em países com industrialização ou democracia tardia, como é o caso de
Portugal, a classe média cresceu rapidamente, mas de forma pouco
consistente, baseada na expansão do Estado social. “Estamos num momento de encruzilhada de viragem. Não é só Portugal.
Estamos num mundo conturbado, estamos num momento de transição. Para o
bem ou para o mal. A História está em aberto”, disse Estanque ao jornal.
Ele é autor do livro “Classe Média: Ascensão e Declínio”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário