Você sabe que nada disso acontece de verdade. Mas, por mais que preste atenção, não tem jeito: sempre é enganado pelos seus olhos. Como caímos no truque tão facilmente? Foi a partir dessa pergunta que o casal de neurocientistas americanos Stephen Macknik e Susana Martinez-Conde decidiu se dedicar ao estudo do efeito das mágicas sobre o cérebro.
(Editoria de Arte/Folhapress) - Clique na imagem para ampliá-la.
O resultado do trabalho está no livro "Truques da Mente", lançado há pouco no Brasil. Em entrevista à Folha, Macknik explica que a "culpa" é de uma mistura entre a habilidade do mágico e a forma como o cérebro evoluiu.
"Neurônios são muito caros, requerem grande quantidade de energia para
funcionar", diz. Uma forma encontrada pela evolução para reduzir esse
gasto foi fazer com que grande parte do que consideramos "o mundo real"
seja uma mistura de impressões verdadeiras, vindas dos sentidos, com
outras que são recriadas pelo cérebro.
"Quando você vê alguém coçar o nariz, logo assume que ele está com uma
coceira, que é o que acontece com todo mundo. É uma boa aposta e
economiza energia, por não ter de considerar o infinito número de
possibilidades que podem tê-lo levado a coçar o nariz", explica ele.
Tirando partido
O problema é quando esse alguém com "coceira" é um ilusionista. "Ele vai
usar essa tendência do cérebro e aproveitar a coceira para esconder um
objeto na boca." É do entendimento desse e de outros mecanismos
cerebrais que se valem os ilusionistas para entortar colheres ou fazer
surgir moedas na orelha dos espectadores.
"O segredo de um bom truque de mágica é fazer o espectador enganar a si
mesmo. O mágico apenas usa o poder de atenção e observação de quem
assiste a ele para amplificar o efeito do truque, enquanto esconde o
método físico dele", diz Macknik.
É o que acontece nos truques que usam baralhos. Neles, o espectador
acaba sendo enganado justamente por causa da sua tentativa de ficar
atento a todos os movimentos das cartas, enquanto o verdadeiro truque
acontece em outra parte do palco.
É a chamada "cegueira por desatenção", que, ao contrário do que o nome sugere, acontece quando prestamos atenção demais.
Um caso já clássico em que esse efeito fica evidente é o do vídeo
em que jogadores de basquete trocam passes enquanto um deles, vestido
de gorila, atravessa a tela. Se pedirem que você fique contando os
passes, há 50% de chance de que você nem veja o gorila na cena.
O livro analisa diversos outros aspectos ligados à forma como o cérebro
registra o mundo, como esses mecanismos são explorados pelos mágicos e
como tudo isso ajuda a entender a mente.
"Queremos explicar por que somos tão vulneráveis aos truques da mente,
que as pessoas vejam que a ilusão é parte integrante do caráter humano. E
que sobrevivemos melhor e usamos menos recursos cerebrais ao fazê-lo".
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