Logo após o retorno da presidente Dilma de sua viagem à China, o governo anunciou com estardalhaço o início da fabricação de iPads no país pela empresa taiwanesa Foxconn (que já monta outros produtos no Brasil) -- inicialmente previsto para julho passado, o início dessa fabricação já foi adiado para novembro e não será surpresa se só ocorrer no ano que vem. A Foxconn exigiu contrapartidas do governo, e pela notícia abaixo está começando a ser atendida.
O BNDES se prepara para virar sócio da Foxconn no principal investimento da gigante taiwanesa no Brasil, a fábrica de telas de toque - o
componente mais importante dos tablets -, informou o ministro Aloizio
Mercadante (Ciência e Tecnologia). O valor do investimento do governo
ainda não está definido, segundo as negociações, que correm em sigilo. "O governo vai ter de entrar com uma parte desse investimento, mas tudo o
que estiver ao nosso alcance para trazer o investimento, vamos fazer",
afirmou o ministro.
Ainda não há prazo definido para o início do projeto da nova fábrica, e
sua localização também é incerta. Nessa fase das negociações, o governo
busca reunir dois tipos de sócios brasileiros para o investimento -
estimado em US$ 8 bilhões, dos US$ 12 bilhões que a Foxconn teria
prometido investir no Brasil. Parte dos sócios deve ter o perfil de indústrias tecnológicas, para
absorver a tecnologia de produção das telas de toque. O governo também
busca sócios privados "com musculatura financeira" para entrar no
negócio com a Foxconn. "Temos de compor um bloco de investidores, com
força financeira e tecnológica".
A partir da capacidade de investimento desses sócios, será calculada a
parcela do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social no
negócio. Segundo o ministro, trata-se de uma operação "altamente
complexa". O Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) já participa
das negociações, ao lado de uma consultoria internacional contratada
pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, para avaliar as oportunidades
do Brasil nos investimentos da chamada fronteira tecnológica.
As telas de toque, também conhecidas como telas planas de filme fino,
as TFT (thin film technology), são produzidas em apenas quatro países
do mundo: China, Taiwan, Coreia e Japão. "Em todos esses países, o
Estado entrou fortemente, o mercado sozinho não resolveu", disse
Mercadante, sobre a necessidade de participação estatal em investimentos
com alta tecnologia. As telas de toque são usadas em smartphones e televisões, além dos
tablets, e são o componente mais sofisticado desses aparelhos. A ideia
do governo é atrair outras indústrias associadas à produção de
componentes, na sequência da primeira fábrica de telas de toque. "As
telas são o primeiro módulo de uma cadeia, o mais complexo e o mais
difícil", destacou Mercadante.
O ministro não informou quanto a Foxconn estabeleceu como valor mínimo
de uma contrapartida financeira brasileira para a construção dessa
fábrica, que será a segunda da empresa de Taiwan no Brasil.
As negociações ganharam ritmo mais acelerado há três semanas,
coincidindo com o envio de carta do presidente do grupo, Terry Gou, à
presidente Dilma Rousseff. No texto, Gou reafirma o interesse em manter a
promessa de investimentos feita à presidente na viagem à China, em
abril. "De fato, dei instruções a meus colaboradores no sentido de darem início
aos programas contemplados para o Brasil com a maior brevidade possível
a partir do corrente ano", afirma o presidente da Foxconn. "Também
estou comprometido com a transferência de tecnologia, o necessário
investimento e o apoio aos sócios brasileiros, de sorte a garantir o bom
resultado de nossas atividades".
A carta também teria o objetivo de afastar rumores de incerteza nos
investimentos. Uma fábrica da Foxconn, planejada para Jundiaí (SP), já
sofreu atrasos no cronograma oficial. Por ora, o compromisso é começar a
etapa de testes este mês, e a fabricação de iPhones em outubro. A
montagem de iPads começaria em dezembro, a tempo do Natal, insistiu
Mercadante, que atribuiu o atraso a "problemas operacionais". De oito
empresas já habilitadas para a produção de tablets no Brasil, quatro têm
produtos no mercado.
Dúvidas cercam projeto no País
Em sua primeira viagem oficial fora da América Latina, a presidente
Dilma Rousseff esteve na China. Durante a viagem, em abril deste ano, o
dono da Foxconn, Terry Gou, teria comunicado a intenção de investir US$
12 bilhões no Brasil. O fato foi anunciado à imprensa pelo ministro de
Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Entre outras coisas, a empresa
faria iPads no País. Com os investimentos, a gigante asiática prometia criar 100 mil empregos
diretos no País, sendo 20 mil cargos para engenheiros - uma demanda que
o Brasil teria dificuldades de atender.
Analistas e fontes de setor de tecnologia colocaram em dúvida as
informações. Avaliaram que o investimento e o número de empregos estaria
superestimado. A avaliação do mercado era de que a Foxconn estava, na
verdade, querendo impedir barreiras às importações de seus produtos. O
projeto ainda é uma incógnita. A empresa nunca confirmou o investimento e
divulgou recentemente uma nota dizendo que analisa planos para o
Brasil.
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