O Brasil deixará de cumprir uma das chamadas metas do milênio para a
saúde pública porque o ritmo de redução na mortalidade materna foi medíocre na última década, indica um estudo publicado nesta terça-feira
na Grã-Bretanha. Embora o país tenha avançado na redução da mortalidade de mulheres por
conta de complicações com o parto ou a gestação, o lento ritmo de
melhora significa que o país chegaria com 25 anos de atraso às metas que
deveria cumprir já em 2015.
A pesquisa foi coordenada pelos professores Rafael Lozano e Christopher
Murray, do Instituto de Métrica e Avaliação da Saúde (IHME, na sigla em
inglês) da Universidade de Washington, Seattle, nos Estados Unidos, e
publicada na revista científica britânica The Lancet. Os pesquisadores calcularam estimativas para o ano de 2011 levando em
conta fontes de dados relevantes que haviam ficado de fora de análises
anteriores, como registros de nascimento e óbito, pesquisas nacionais,
censos e levantamentos feitos pelas autoridades de saúde.
Segundo as estimativas mais recentes, mais de 65 mulheres em cada 100
mil parturientes morrem no Brasil em decorrência de problemas na
gestação ou no parto. Nos últimos onze anos, quando o mundo viu uma
redução anual de 3,6% nesta estatística, no Brasil o ritmo foi de apenas
0,3%. Um dos autores do estudo, Haidong Wang, professor-assistente de Saúde
Global do IHME, disse à BBC Brasil que o combate à mortalidade materna
teve bons resultados no Brasil entre 1990 e 2000. No período, a taxa
caiu de 85,9 para 67 em cada 100 mil, uma redução anual de cerca de
2,5%.
Entretanto, disse Wang, esse avanço foi contido na década seguinte pela
epidemia de gripe H1N1 e pela alta percentagem de mulheres que fazem
partos cesarianos, nos quais há maior risco de complicações que podem
levar à morte. "Quando a epidemia de gripe se espalhou, em 2009, matou muitas mulheres
que, se não estivessem grávidas, teriam uma grande chance de ter
sobrevivido", afirmou. "A epidemia de H1N1 foi um alerta pela
necessidade de dar mais atenção tanto a doenças infecciosas, que podem
afetar as mulheres durante a gravidez, como a outros fatores crônicos
como obesidade."
O estudo avaliou o avanço dos países emergentes no cumprimento de duas
das metas do milênio, que os países se comprometeram a cumprir até 2015. Globalmente, a pesquisa estima que o número de mortes relacionadas ao
parto caiu de 409 mil para 273 mil entre 1990 e 2011. As mortes de
crianças com menos de cinco anos de idade diminuíram de 11,6 milhões
para 7,2 milhões no mesmo período.
Apesar do avanço, apenas nove de 137 países emergentes fizeram
progressos suficientes para alcançar os objetivos nestas duas áreas:
China, Egito, Irã, Líbia, Maldivas, Mongólia, Peru, Síria e Tunísia. Como o Brasil, 124 chegarão a 2015 sem ter reduzido em 75% a mortalidade materna entre 1990 e 2015, estimam os pesquisadores.
Já o objetivo de diminuir em dois terços a mortalidade entre crianças
menores de cinco anos entre 1990 e 2015 seria alcançada por 31 nações
emergentes. No aspecto da mortalidade infantil, o Brasil é apontado como uma "história de sucesso". A pesquisa estimou em 1990 o Brasil tinha uma mortalidade infantil
entre crianças menores de 5 anos de 53 para cada mil nascidas vivas. Dez
anos depois a taxa havia caído para 31,5 e chegou neste ano a 20,9. Em números absolutos, isso significa que a mortalidade tirou a vida de
193 mil crianças em 1990 e deve tirar a de 63 mil neste ano. "Achamos que parte disso tem a ver com o esforço do governo de prover
acesso universal à saúde. Foi depois da implementação deste princípio na
Constituição de 1988 e na reforma de 1996 que registramos a taxa mais
rápida de declínio nas mortes de crianças com menos de cinco anos",
afirmou Wang.
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