A Newsweek que acaba de chegar nas bancas traz um interessante artigo sobre o tema celulares x adolescentes, com o sugestivo título "Texting Makes U Stupid" ("Fazer/ler textos torna você estúpido", em tradução livre), de Niall Ferguson. Apresento a seguir a tradução que fiz desse artigo.
A boa notícia é que os adolescentes de hoje são leitores ávidos e escritores prolíficos. A má notícia é que o que estão lendo e escrevendo são mensagens de texto.
De acordo com uma pesquisa feita pela Nielsen no ano passado, americanos na faixa etária entre 13 e 17 anos mandam e recebem uma média de 3.339 textos por mês. Garotas adolescentes mandam e recebem mais de 4.000.
É uma tendência inevitável. Mesmo que você não tenha filhos adolescentes, você verá outros adolescentes sentados meio espreguiçadamente, com olhar vidrado, acionando seus celulares, inconscientes do mundo à sua volta. Pegue um grupo de adolescentes para ver as sete maravilhas do mundo -- eles estarão o tempo todo absortos com seus celulares. Mostre a um adolescente a Adoração dos Magos, de Botticelli. Você pode conseguir dele uma olhada apressada ou superficial, antes que um ruído típico anuncie a chegada da última mensagem do SMS. Segundos antes da Terra ser atingida por um gigantesco asteróide ou coberta inteiramente por um supertsunami, milhões de ágeis dedos jovens estarão teclando a última mensagem vazia da raça humana para si mesma: C u later NOT: [See you later NOT (vejo você mais tarde NÃO:), no jargão informático inglês].
Agora, antes que me acusem de jogar pedra no vizinho tendo telhado de vidro, deixem-me confessar -- eu provavelmente envio cerca de 50 emails por dia, e recebo algo como 200. Mas há uma diferença: eu leio livros também. É um velho e singular hábito que adquiri quando era criança, nos dias anteriores à época em que os celulares começaram a se aninhar como filhotes de passarinhos nas palmas das mãos dos jovens.
Metade dos adolescentes de hoje não lê livros -- exceto quando é obrigada. De acordo com a pesquisa mais recente da Dotação Nacional para Artes (National Endowment for Arts, NEA em inglês), a proporção de americanos entre 18 e 24 anos que leem livros não exigidos na escola ou no trabalho é hoje de 50,7%, a taxa mais baixa para qualquer grupo adulto abaixo de 75 anos, e inferior aos 59% de há 20 anos atrás.
De volta a 2004, quando a NEA pela última vez examinou os hábitos de leitura dos jovens, já acontecia o fato de que menos que um em cada três adolescentes de 13 anos lia um livro por prazer a cada dia. Algo especialmente terrível para mim, como um professor, é o fato de que dois terços dos calouros universitários leem por prazer menos de uma hora por semana. Um terço dos veteranos nunca leem por prazer. [Vejam o que acontece com os nossos universitários, quando se trata de ler livros].
Por que isso tem importância? Por duas razões. Primeira: estamos ficando para trás em relação às sociedades mais instruídas. De acordo com os resultados do mais recente Programa para Avaliação Internacional de Estudantes (PISA, em inglês) da OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o gap em capacidade de leitura entre os jovens de 15 anos no distrito de Shanghai, na China, e nos EUA é hoje tão grande quanto o gap entre os EUA e a Sérvia ou o Chile nesse segmento.
Mas, a razão mais importante é que as crianças que não leem ficam isoladas, se desligam da civilização de seus ancestrais.
Então, dê uma olhada nas suas estantes. Você tem todos os livros -- ou qualquer deles -- do currículo básico de graduação da Universidade de Colúmbia? Essa lista de livros não é perfeita, mas é tão boa como o catálogo de livros da civilização ocidental de que tenho conhecimento. Tomemos os 11 livros do currículo para o semestre da primavera de 2012: (1) Eneida, de Virgílio; - (2) Metamorfoses, de Ovídio; - (3) Confissões, de Santo Agostinho; - (4) A Divina Comédia, de Dante; - (5) Ensaios, de Montaigne; - (6) Rei Lear, de Skakespeare; - (7) Dom Quixote, de Cervantes; - (8) Fausto, de Goethe; - (9) Orgulho e Preconceito, de Jane Austen; - (10) Crime e Castigo, de Dostoyevsky; - (11) Rumo ao Farol, de Virginia Woolf.
Primeiro passo - Peça/encomende os que você não tem hoje (e aproveite para obter Guerra e Paz [de Tolstoi], Grandes Esperanças [de Charles Dickens], e Moby Dick [de Herman Melville].
Segundo passo -- Quando chegar o período de férias, diga aos adolescentes que lhe são próximos que irá levá-los a uma festa. Ou a um acampamento. Eles não resistirão.
Terceiro passo -- Revele a eles que, na realidade, trata-se de uma festa ou reunião de leitura, e que nas duas semanas seguintes ler é tudo o que você propõe que seja feito -- além de comer, dormir, e conversar sobre os livros.
Bem-vindos ao Acampamento de Livros, crianças.
Ilustração por Peter Oumanski.
Nenhum comentário:
Postar um comentário