Uma reportagem nesta segunda-feira no diário espanhol El País afirma que existe um "lado mitológico" na mobilização de países emergentes para resgatar financeiramente os países europeus em crise.
Mais que econômica, a mudança no equilíbrio de poder global em favor dos
emergentes tem também uma dimensão política, afirma o jornal. "O mundo mudou o centro de gravidade do norte e ocidente para o sul e
oriente. A globalização dispersou o poder, tão concentrado até agora, na
fortaleza americana, por todo o sistema internacional", diz o jornal,
em uma segunda reportagem sobre o mesmo tema. "A mesma supremacia que se conquista, se perde. Perderam os assírios
para os persas e estes, para os macedônios, que, por sua vez, acabaram
cedendo-a para os romanos", raciocina o autor. "Em tempos mais recentes não foi diferente: do império espanhol a
supremacia passou ao britânico, e após a Segunda Guerra Mundial, do
britânico ao americano, que durante meio século a defendeu frente ao
soviético, finalmente vencido".
O jornal vê nesta jornada uma coincidência com a mitologia contida no
Livro de Daniel, segundo a qual a "faculdade de conduzir a história",
como disse um historiador francês do início do século 20, passaria de
povo a povo ajustando-se à rotação do sol, de leste a oeste. "Neste ponto, a leitura política da decisão dos Bric poderia se sobrepor
à mitológica: segundo a profecia do Livro de Daniel, neste momento o
império do mundo corresponderia de novo à Ásia, depois de haver
completado uma rotação de três milênios por outros continentes."
Brasil, Rússia, Índia e China discutirão nesta segunda-feira, em
Washington, nos EUA, uma possível compra de títulos europeus denominados
em euro para fortalecer as economias que utilizam a moeda comum.
Para o El País, a proposta "não é tanto um ato generoso dos
países emergentes para com as potências declinantes", já que grande
parte dos recursos dos primeiros está investido nos últimos. "Na hipótese dantesca de um colapso financeiro mundial, é difícil prever
quem seriam os ganhadores; os perdedores, em qualquer caso, seriam os
países quebrados e, em seguida, seus credores."
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