Três importadoras de carros asiáticos (duas de carros chineses e uma de carros coreanos) passaram a perna no governo na questão do IPI, numa jogada com cheiro e jeito de mutreta.
A chinesa JAC nacionalizou todos os seus veículos que estavam na
alfândega uma semana antes do governo brasileiro anunciar o aumento do
IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros importados,
informam Venceslau Borlina Filho, Cirilo Júnior e Álvaro Fagundes na edição desta quarta-feira da Folha.O texto completo só está disponível para leitores e assinantes do jornal.
O presidente da empresa no Brasil, Sérgio Habib, negou ter tomado a decisão com base em informações privilegiadas mas afirmou que esperava alteração no imposto. No mercado, a medida da JAC foi tida como estratégica para driblar o aumento do IPI. A exemplo dela, outras empresas se armaram contra a decisão do governo. Ontem, em Nova York, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) disse que o governo não vai abrir mão do aumento de imposto, e que a medida não é protecionista. "Não estamos impedindo a importação", disse. [Este ministro deve achar que somos todos uns idiotas. Como não é protecionista esse aumento do IPI só para certos carros importados de alguns países?!]
Pimentel também afirmou que o governo não teme retaliação, e que o decreto não fere as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio). "A medida é um incentivo para que as empresas invistam no Brasil. O preço não é preocupação no momento".
A Kia, segundo seu presidente, José Luiz Gandini, recebeu seis navios com veículos vindos da Coreia do Sul. Ele também negou que a importação tenha sido feita com base em informações de que o imposto subiria.
Ontem, a chinesa Chery afirmou por meio de um comunicado que está "concentrando todos os esforços para continuar oferecendo carros completos com preços justos, qualidade e tecnologia a todos os brasileiros". Desde a publicação do decreto na sexta-feira, os executivos da empresa estão reunidos para discutir possibilidades dentro do atual cenário para propor a melhor solução aos consumidores. Segundo a importadora, os carros faturados até o dia 15 não terão aumento. "Desse modo, a Chery manterá o preço sugerido de seus veículos sem o reajuste do IPI até o final do estoque", afirmou a empresa em comunicado.
O presidente da JAC não revelou a quantidade de veículos nacionalizados, mas afirmou que tem estoque para até seis meses. Por mês, a empresa importa 4.000 veículos. "Não vamos repassar o aumento ao consumidor enquanto esse estoque durar". O executivo afirmou que entre os esforços da empresa ele deve reduzir a margem de lucro sobre as vendas, reduzir verbas com publicidade, além de tentar preços melhores com a sede na China. Ao explicar a estratégia, o presidente da JAC afirmou que tem mais de vinte anos no mercado de automóveis e que esperava alguma coisa, pois "nenhuma medida mais severa foi tomada no governo Lula. Então, esperava alguma coisa, só que não tão forte, nada tão protecionista às montadoras nacionais", disse.
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