No início de uma semana crucial para a Grécia, a zona do euro tenta descartar o fantasma do contágio da dívida e de uma falta de pagamento (défaut): os europeus pensam seriamente sobre reforçar o fundo de apoio europeu (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, FESF em francês), enquanto Atenas promete sempre mais rigor, a qualquer preço.
A Comissão Europeia decidiu hoje a favor de um reforço dos recursos e meios do FESF, além daqueles aprovados em julho. "Refletimos sobre a possibilidade de dotar o FESF de um poder de alavancagem mais importante, para lhe dar mais força", disse o encarregado de assuntos econômicos da Comissão, Olli Rehn, em uma entrevista ao jornal alemão Die Welt (O Mundo) publicada hoje. O assunto não é unanimidade entre os governos, que darão a palavra final. Assim, a reação da Holanda não se fez esperar. No contrapé dessa reflexão europeia, o primeiro-ministro Mark Rutte afirmou que não havia "planos" em seu país prevendo solicitar um aumento de dotação do FESF. Nem na Finlândia, ouviu-se em seguida.
Mais cedo, no início dos trabalhos, a Rússia se disse pronta a adquirir as obrigações do FESF e a alocar ao FMI (Fundo Monetário Internacional) recursos suplementares para suporte aos países da zona do euro. O ministro das Finaças russo, Alexeï Koudrine, comentou que essa disponibilidade de dinheiro russo era muito vantajosa para as duas instituições.
Criado na primavera de 2010 para prestar ajuda aos países em dificuldade na zona do euro, o FESF já viu seu escopo ampliado e suas atribuições expandidas em julho passado. A partir daí, ele tem em particular a possibilidade de recomprar no mercado secundário a dívida pública dos países em dificuldades, ou de ajudar os bancos. Estas últimas medidas, tomadas pelos dirigentes europeus, estão em via de serem aprovadas pelos países da zona do euro.
Mas, a crise da dívida que sacode a região agravou-se ainda mais desde o outono, exigindo um FESF ainda mais sólido. Entre as ideias sugeridas consta, por exemplo, a concessão de empréstimos do FESF aos investidores que comprassem a dívida dos países em dificuldades. Em sua entrevista ao Die Welt, Rehn não entrou em detalhes, a poucos dias do voto sobre o acordo de julho pelos deputados alemães, no qual a Alemanha é o maior contribuinte no plano de ajuda europeia.
O excesso de dívida, tanto em nível doméstico quanto para os bancos e os países, permanece como o problema central do sistema financeiro atual, lembra a diretora do FMI, Christine Lagarde, em manifestação publicada no portal Project Syndicate. Problema central que afeta particularmente os países avançados, e mexe com a economia mundial "em uma nova fase, das mais perigosas", não hesitou ela em acrescentar. Para evitar isso, Lagarde preconiza uma ação coletiva, baseando-se entre outros fundamentos em "planos plausíveis de estabilização e de redução da dívida pública a médio prazo". Sem esquecer, para não atrasar ou impedir a recuperação, medidas tais como o estímulo à poupança ou uma ajuda aos proprietários. [O texto em francês é vago quanto à palavra "proprietários", mas quero crer que se refira a proprietários de imóveis residenciais].
A Grécia fará ainda mais parte dos países "sob pressão dos mercados e que não têm alternativa", ao invés daqueles que "dispõem da vantagem da liberdade de planejar esse tipo de medidas , segundo Christine Lagarde. Esse país, que aguarda nesta semana seus "sócios" capitalizadores, prometeu reduzir seu déficit orçamentário "a qualquer custo". - "O que é importante para nós é interromper o círculo vicioso. Falo agora na minha condição de ex-ministro da defesa: é absolutamente necessário ganhar esta guerra", enfatizou ontem o ministro das Finanças grego, Evangelos Venizélos, diante da assembleia anual do instituto internacional de finanças, uma associação de 450 bancos ao redor do mundo.
Depois de uma visita abortadano início de setembro, por causa dos atrasos gregos, a Comissão europeia, o Banco Central Europeu, e o FMI reúnem-se nesta semana em Atenas para realizar uma auditoria fiscal para verificar se o país consegue escapar de um défaut do que deve. O que está em jogo é o desbloqueio em outubro -- vital para a Grécia -- da sexta parcela de oito bilhões de euros do empréstimo concedido em maio de 2010 pela zona do euro e pelo FMI. Entretanto, a Grécia deverá sem dúvida esperar ainda pelo desenrolar de uma reunião do eurogrupo em 3 de outubro, antes que uma decisão seja tomada sobre o desbloqueio da próxima parcela do plano de ajuda.
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