Três dias antes do discurso do presidente palestino Mahmoud Abbas na ONU, no qual deverá pedir o reconhecimento do Estado Palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967, existe uma unanimidade entre os analistas israelenses de que a medida levará a um maior isolamento de Israel na comunidade internacional. Cerca de 140 entre 193 países membros da ONU deverão votar em favor do Estado Palestino, incluindo a maioria dos países da África, América do Sul e Ásia, e parte dos países europeus – entre eles a França e a Espanha.
"Sem dúvida o que está acontecendo (na ONU) é problemático para Israel e poderá levar a sanções e a processos na Corte Internacional de Haia", disse à BBC Brasil o cientista político Jonathan Rynhold, da Universidade Bar Ilan. Mas para Rynhold não só Israel mas também os próprios palestinos vão sair perdendo com a iniciativa na ONU, pois ele prevê que o vazio que se criará após a votação levará a uma nova escalada da violência na região. Segundo o cientista político, após a votação "nada mudará de concreto, pois não haverá um Estado Palestino real e a frustração dos palestinos poderá gerar uma nova onda de violência".
De acordo com o analista político do jornal Haaretz, Akiva Eldar, "Israel está se aproximando de uma situação semelhante à da África do Sul na época do apartheid", em referência ao isolamento diplomático e econômico imposto pela comunidade internacional até o fim do regime de segregação racial. "Não estive tão preocupado com o que pode acontecer aqui desde a guerra de 1973", disse Eldar à BBC Brasil, lembrando os ataques inesperados do Egito e da Síria na chamada Guerra de Outubro, em 1973. Para Eldar, depois da votação da ONU poderá haver grandes protestos populares na Cisjordânia e, inclusive, choques entre palestinos e colonos israelenses. "Há perigo de uma perda de controle, pois nem Israel nem a Autoridade Palestina têm controle total do que acontece no territórios".
O ex-ministro da Defesa, Binyamin Ben Eliezer, do Partido Trabalhista, disse nesta terça-feira à radio estatal de Israel que, para evitar o isolamento, o primeiro ministro Binyamin Netanyahu, que irá representar o país na ONU, "deveria apoiar o Estado Palestino". "Em vez de tentar convencer o mundo a rejeitar o pedido de Abbas, Netanyahu deve apoiar a fundação do Estado Palestino e propor a retomada imediata das negociações", afirmou. "Temos que voltar correndo para a mesa de negociações se não queremos acabar como a África do Sul", acrescentou Ben Eliezer.
Netanyahu convidou Abbas para retomar as negociações "sem condições prévias" e sugeriu que o diálogo seja retomado em Nova York, durante os encontros da Assembleia Geral da ONU "e depois prosseguido em Jerusalém e Ramallah". O lider do grupo palestino Fatah, Nabil Shaat, que está acompanhando Abbas em Nova York, declarou que um encontro com o premiê israelense só será possível se Israel aceitar as fronteiras de 1967 como base para as negociações e parar de construir assentamentos nos territórios ocupados.
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