segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Livro mostra mostra visão pouco lisonjeira da Casa Branca de Obama

Os EUA já não são os mesmos há algum tempo, e a situação só fez piorar depois do 11 de setembro de 2001. O povo americano foi ferido em seu orgulho, Bush fez lambanças em seus dois mandatos e deixou o país em péssimas condições econômico-financeiras para Obama -- que, desde que assumiu, vem comendo o pão que o diabo amassou. A economia não se recupera, as duas guerras que os EUA travam diretamente (Iraque e Afeganistão) viraram um atoleiro e um cemitério de soldados e dinheiro, o prestígio político e econômico do país decaiu visivelmente, a política interna se radicalizou enormemente, e o cacife político de Obama vem derretendo a olhos vistos nas últimas pesquisas. Nada me tira da cabeça que boa parte dos problemas que ele enfrenta advém do fato dele ser negro. E agora, para prolongar seu inferno astral, surge um livro que revela detalhes das entranhas da Casa Branca e que parece estar causando alvoroço em Washington, como revela a reportagem abaixo do The Washington Post.

Na sexta-feira, funcionários do governo americano disputavam a obtenção de cópias de um novo livro previsto para ser lançado nesta semana entrante que traça um quadro nada lisonjeiro de uma Casa Branca desorganizada e cáustica, que às vezes dificulta os esforços de Obama para resgatar a economia do país. O livro, Confidence Men: Wall Street, Washington and the Education of a President (Homens de Confiança: Wall Street, Washington e a Formação de um Presidente, em tradução livre), do jornalista Ron Suskind, surge num momento inconveniente para um governo que se vê crescentemente na defensiva em assuntos de eficiência. O The Washington Post obteve uma cópia do livro na sexta-feira.

Na semana passada, um proeminente estrategista do partido Democrata, James Carville, disse que Obama deveria assustar-se e demitir a maior parte de sua equipe -- e uma vitória republicana em uma eleição especial para a Câmara, ocorrida em um distrito fortemente democrata em Nova Iorque, gerou preocupações entre os democratas sobre a capacidade de Obama de conseguir votos de eleitores do núcleo principal do partido na campanha para reeleição no ano que vem. Além disso, alguns democratas estão dando vazão à sua frustração com uma estratégia da Ala Oeste (West Wing) [parte da Casa Branca que abriga o Salão Oval -- o gabinete oficial do presidente dos EUA --, a Sala do Gabinete (onde se reúnem os Secretários de governo -- ministros -- e seus assessores), o Gabinete da Situação (Situation Room), que é uma sala de reuniões e de administração dos serviços de inteligência do presidente, e a Sala Roosevelt (sala privada e principal sala de trabalho do presidente] que, segundo eles, permitiu que os deputados republicanos "passassem a perna" em Obama durante as negociações de verão sobre o teto da dívida pública.

Os desafios se ampliaram, enquanto Obama e seus assessores tentam prosseguir com a ofensiva e levantar os baixos índices de aprovação do presidente, os piores de seu mandato.

Mas, quando cópias do livro começaram a circular pela cidade na sexta-feira, ajudantes e aliados de Obama foram forçados a defender seu estilo de administração contra o retrato apresentado por Suskind, que obteve cooperação da Casa Branca para grande parte de seu trabalho. Suskind entrevistou muitos altos funcionários, e obteve uma entrevista com Obama.

Funcionários da Casa Branca estavam ainda analisando o livro na sexta-feira à noite. O diretor de Comunicações, Dan Pfeiffer, disse que esse tipo de livro "tende a pegar as atividades de governar do o dia-a-dia e impregná-las de drama, intrigas palacianas, e detalhes devassos". Ele disse ainda que "o presidente tomou decisões muito fortes em circunstâncias as mais difíceis, e sua equipe executou-as com lealdade e de maneira incansável". -- Parte dessa defesa veio de ex-funcionários veteranos, citados no livro como autores das alegações mais provocativas.

Anita Dunn, ex-diretora de Comunicações, é citada como tendo dito "olhando para o que já ocorreu, esta casa estaria sendo processada como um ambiente de trabalho hostil ... Porque, na realidade, ela preenche todos os requisitos legais de um lugar genuinamente hostil para mulheres". Dunn disse na sexta-feira que afirmou para Suskind "de maneira categórica" que a Casa Branca "não era um ambiente hostil".


O livro, que cobre a presidência de Obama até fevereiro deste ano e é baseado em mais de 700 entrevistas, insinua que o presidente nem sempre era a figura dominante na sua Casa Branca.  Suskind cita uma série de memorandos de Pete Rouse, um assistente de alto escalão, fortemente crítico das operações da Casa Branca, incluindo um advertindo que uma conversação que estava em curso com Obama por Lawrence Summers [então principal assessor econômico do governo] e outros da equipe econômica "fortalece os poderes de Larry [Lawrence] para ditar a política".

O livro retrata um clima de discórdia na equipe econômica, com Summers, então diretor do Conselho Econômico Nacional, tentando impedir ou barrar as opiniões de Christina Romer (ex-chefe do Conselho de Assessores Econômicos) e do então diretor orçamentário Peter Orszag. De acordo com o livro, Summers tentou inviabilizar iniciativas de Obama em várias políticas, incluindo um imposto sobre transações financeiras.

Em um certo momento, Orszag emitiu um relatório para o presidente, a pedido deste, sobre o que poderia acontecer se o governo não agisse para controlar o déficit orçamentário federal de longo prazo. Summers ficou indignado com o fato de Orszag ter-se comunicado diretamente com o presidente , sem passar pelo Conselho Econômico Nacional.

Segundo o livro, em um encontro para jantar no Bombay Club [um conhecido restaurante indiano de Washington] Summers teria dito a Orszag "estamos sozinhos em casa. É exatamente isto o que quero dizer, estamos sozinhos em casa. Não há um adulto responsável [lá]. Clinton jamais teria cometido esses erros".

Em um email para o The Washington Post na sexta-feira, Summers, que deixou o governo no ano passado, disse que "o disse-me-disse que me é atribuído é uma combinação de ficção, distorção, e de palavras tiradas fora de contexto. Não posso falar sobre o que outras pessoas disseram ao Sr. Suskind, mas sempre confiei na liderança determinada, firme e prática com que o presidente tem conduzido este país".

O livro sustenta também que o secretário do Tesouro, Timothy F. Geithner, praticamente ignorou um pedido importante de Obama para apresentar um plano para reestruturar o megabanco Citigroup, que tinha sido resgatado financeiramente pelo governo. Um mês depois, em uma reunião em que Geithner não estava presente, Obama perguntou pelo plano. "Sinto muito, Sr. Presidente", disse Romer, "não há plano para solucionar o problema do Citigroup". O livro afirma que Obama ficou chocado, e disse: "É melhor que haja". -- Suskind alega que Geithner, que não concordava com a emissão imediata de um plano para solucionar o caso do Citigroup, simplesmente não fez o plano. Em uma entrevista com Suskind, Geithner negou que tivesse ignorado o pedido do presidente. "Não faço nada para sabotar o ritmo do presidente", disse ele.


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